Famicon Detective Club foi uma das séries que mais surpreendeu desde seu primeiro lançamento, pelo clima sombrio e complexidade incomuns para Visual Novels da época. Como os dois lançamentos anteriores para o Switch foram bem recebidos, saiu Emio – The Smiling Man: Famicon Detective Club, um jogo novo, feito do zero para o Switch.
Sobre Emio – The Smiling Man: Famicon Detective Club
Não dá para falar de Emio sem falar do Famicon Detective Club. Embora não seja a primeira série de Visual Novel da história, sem dúvidas é uma das mais relevantes. Com seus primeiros jogos lançados em 1988 e 1989 para o Nintendinho (Famicon no Japão, daí o nome), a série fez tanto sucesso que recebeu remakes para o SNES. E estes foram tão bem recebidos que motivaram o lançamento de um terceiro jogo, BS Tantei Club: Yuki ni Kieta Kako (O Passado Perdido para a Neve), lançado para o Satellaview, um acessório de vida curta para o SNES, e que ainda aguardamos um remake, já que ele é o único da série que nunca veio para o Ocidente.
Com a boa recepção dos remakes no Nintendo Switch, Yoshio Sakamoto, criador da série e Makoto Osada, diretor da Mages, o estúdio responsável pelos remakes, estavam desde 2021 interessados em criar uma nova história para a série. Para essa nova entrada, Sakamoto queria algo menos sobrenatural e mais enraizado em lendas urbanas, para trazer o jogo mais para a nossa realidade. Depois de alguns anos de trabalho, Emio começou a receber teasers pelas redes sociais da Nintendo, depois, um vídeo com alertas de temas de suicídio e assassinato foi lançado pela Nintendo Australia, e no final do mês passado, Emio: The Smiling Man: Famicon Detective Club foi lançado, exclusivamente para o Nintendo Switch. Há, inclusive uma demo disponível gratuitamente que cobre o primeiro capítulo do jogo, caso queiram experimentar.
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Lançamento: Ago/2024
Sakamoto deu uma entrevista dizendo que o jogo seria o ápice de tudo que ele e seus colegas mais confiáveis aprenderam trabalhando na série Famicon Detective Club.
Resta saber se o título que falta ainda virá para nós, o que eu ainda tenho esperança.
História
Emio – The Smiling Man: Famicon Detective Club se passa alguns anos depois do último jogo da série. Nele, você assume o papel do mesmo jovem detetive que trabalha para a Agência de Detetives Utsugi, com Utsugi e Ayumi voltando como personagens que ajudam nas investigações.
Aqui, um garoto do ensino médio é encontrado morto com o rosto coberto por um saco de papel com sorriso desenhado e marca de enforcamento no pescoço. Ele aparentemente foi para o local por conta própria, andando em sua bicicleta, depois de receber uma ligação telefônica e não se comunicar com ninguém.
A morte lembra um caso que aconteceu 18 anos antes, no qual algumas garotas foram mortas por enforcamento e encontradas com sacos sobre suas cabeças, que também tinham sorrisos desenhados. E para adicionar mistério, há uma lenda urbana sobre Emio, o Homem Sorridente do título do jogo, que encontraria garotas chorando e diria para elas que elas não precisavam mais chorar, pois ele daria a elas um sorriso eterno, matando aquelas que continuavam chorando.
Nesse clima amigável, você (que pode importar seu nome de um dos outros jogos, ou escolher um novo) precisa conversar com pessoas, viajar a lugares, investigar pistas e descobrir o que aconteceu com o garoto.
A cada passo que você dá na história, você se envolve mais e mais no jogo que para mim é o mais sombrio e macabro que a Nintendo já lançou sob o próprio selo. Os temas de suicídio, abuso, assassinato, bullying, etc, são todos trabalhados bem abertamente, mas com bastante respeito e cuidado. O equilíbrio para isso é bem tênue, mas Sakamoto e sua patotinha conseguiram, mais uma vez, ter a sensibilidade necessária para passar o horror da situação, sem ridicularizá-la.
Será que foi mesmo assassinato? Por que um garoto, e não uma garota, como nos casos anteriores? Por que uma corda, e não as mãos? Por que os assassinatos do passado pararam depois que um certo garoto sumiu? Qual a ligação da morte dele com as das garotas de 18 anos antes? E de onde veio a lenda urbana, se a polícia não tornou pública a informação sobre o saco de papel com o sorriso desenhado?
Seja atuando como o protagonista, seja atuando como Ayumi, você vai precisar fazer as perguntas certas e examinar os lugares certos para encontrar as respostas, e, eu te garanto, muita coisa no jogo vai te surpreender. A história é tão boa quanto as anteriores, e, apesar de ainda ser bastante linear, o que significa que o fator replay pode ser pequeno, garanto que se você gosta de Visual Novels com boas histórias, essa vale muito a pena.
Jogabilidade
O jogo segue a mesma jogabilidade dos seus antecessores, para o bem e para o mal.
Do lado positivo, o jogo manteve o Bloco de Notas, que agora é bem mais detalhado do que antes, e destaca partes importantes das notas. Além disso, você tem a opção de rever qualquer diálogo que perdeu, e de pular textos que já viu antes. O menu sempre está fora do centro, e você não precisa das duas mãos pra jogar, se não quiser. Pode jogar só usando o joycon direito, e vai ficar tudo bem. Os salvamentos automáticos são mais claros que nos jogos anteriores da série, e o resumo do que aconteceu antes a cada vez que você inicia o jogo ainda está disponível, caso você passe um tempo sem jogar e precise se lembrar do que aconteceu.
Os controles continuam intuitivos; é só você escolher a opção, e ver o que acontece. Mas infelizmente, algumas das decisões que considerei ruins nos outros dois jogos continuam aqui. O motor ainda é o mesmo, o que significa que, por mais que haja todo o polimento de um jogo lançado em 2024, e já vamos falar sobre isso, ainda há questões que frustram, e que deveriam ter ficado no passado.
Você ainda precisa selecionar a mesma opção de conversa diversas vezes seguidas, em vez de ter conversas fluidas. Você ainda precisa voltar dois menus a cada vez que descobre uma informação nova, em vez de o jogo te levar automaticamente para a parte de perguntas. Você ainda vai ficar sem saber o que fazer, ou onde olhar, em vários momentos, porque não há dicas suficientes em alguns momentos. O jogo ainda leva mais de 12 horas, e, novamente, uma parte desse tempo poderia ter sido economizada otimizando a qualidade de vida de quem joga.
Mas se você gostou dos jogos anteriores, vai conseguir jogar tranquilamente, ainda que um ou outro momento seja incômodo. A história realmente compensa esses poucos defeitos na jogabilidade.
Uma melhoria para mim foi o momento de revisar o caso que acontece no final de cada capítulo. Você tem mais liberdade para selecionar as coisas (embora as respostas erradas sejam corrigidas), o que faz você sentir que realmente está deduzindo mais agora.
Parte Técnica
A exemplo das entradas anteriores, Emio consegue fazer um ótimo trabalho se aproveitando do Switch. Não que haja algo muito pesado em cenas estáticas ou com pouco movimento, mas eu já vi jogos simples engasgarem, e aqui, não acontece.
A arte do jogo, liderada por Yukihiro Matsuo, que também assina a arte dos outros jogos da série, além de Anonymous;Code e Steins;Gate, entre outros, é tão bonita quanto sempre, com personagens cujas características são diferentes o suficientes para você identificar de bater os olhos depois de um tempo.
A dublagem do jogo é muito boa, 100% em japonês, e contribui muito para a imersão. Os menus e textos são em inglês, novamente, não tem nada de português disponível para jogar. A música é genérica, mas serve como “musiquinha de elevador” enquanto você tenta pensar no que fazer, e os sons extras são convincentes o suficiente.
Conclusão
Emio – The Smiling Man: Famicon Detective Club parece mais um remake do que um jogo novo, por sua jogabilidade razoavelmente antiga. Apesar disso, o trabalho de arte, a profundidade e seriedade da história, e as reviravoltas pelo caminho fazem dessa uma entrada respeitosa ao legado de Famicon Detective Club.
Análise feita com cópia gentilmente cedida pela Nintendo
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