Locomoto, desenvolvido pela Green tile digital e distribuído pela THQ Nordic, se vende como um jogo agradável em que você leva uma vida de maquinista de trem e precisa cuidar tanto do seu trem quanto dos passageiros.
Como bom apreciador de trens, embarquei em Locomoto para viver essa experiência, mesmo achando que ser maquinista em tempo integral não parece tão agradável.
Cozy games, ou jogos de conforto, costumam começar com uma mudança de vida do protagonista, como herdar uma fazenda ou se mudar para uma cidade nova. Em Locomoto, roubamos um trem no meio da noite para trabalhar, simples assim.
Com ajuda de Fliney, um vizinho seu, pegamos o trem de um senhor de uma estação vizinha e saímos com o trem da forma mais sorrateira possível. Confesso que me arrancou uma risada no início, principalmente porque depois voltamos e falamos com o dono do trem, e ele deixa passar com um agrado de uma miniatura de trem. Então começa a nova vida de maquinista e faz-tudo nas horas vagas, porque além do trem agora somos o faz-tudo da cidade, tendo consertar coisas, plantar, entregar encomendas e muito mais.
Outro ponto bem clichê é sempre começar com tudo uma bagunça. É claro que nosso trem é velho: alguns vagões enferrujados, cheio de lixo e faltando coisas. Então vamos fazer todo aquele trabalho de limpar e decorar nosso principal local de vivência.
O único problema é que Locomoto faz isso de forma muito lenta e nada agradável. Fabricamos tudo a ser usado no trem, e isso é muito exaustivo no processo todo, pois para isso temos que juntar material, e os materiais só se acumulam em pacotes de 4 em cada espaço do personagem que deve precisar de uma ferramenta, então, isso acaba causa idas e vindas muito chatas. Isso sem contar se precisar viajar de trem. Entendo a ideia de jogos de conforto serem menos acelerados, mas Locomoto se supera, pois tudo demora demais. Mesmo colocando a fabricação e a logística dela de lado, ainda demora bastante para conseguir coisas fundamentais como uma pá ou uma picareta, já que algumas ferramentas, apesar de disponíveis em vários lugares do jogo, têm donos e não podem sair de seus cenários.
Locomoto te coloca em papel fundamental para o funcionamento da cidade enquanto aprecia uma bela viagem, só que não. As viagens de trem só parecem agradáveis de início. Depois de um tempo, acaba virando um jogo de espera, onde você passa mais tempo parado dentro do trem do que realmente fazendo algo. Claro que podemos fazer outras coisas, como decorar, mas é um processo muito mal otimizado. O sistema de alocação dos móveis é muito engessado: não dá para guardar os móveis dos vagões como caixas igual quando criamos elas, o inventário é pequeno e o vagão-depósito não vai ter espaço para guardar suas coisas, se quiser colocar um vagão maior.
Não foi uma experiência nada agradável, principalmente se somado aos problemas da versão recebida, com fechamentos forçados o tempo todo, principalmente jogando no Nintendo Switch 1. No 2, foi um pouco mais estável, mas ainda fechou sozinho algumas vezes.
Tudo isso tornou toda a experiência bem ruim. Apesar desses problemas terem sido sanados no lançamento oficial no console, que trouxe até melhorias na interface. Normalmente, quando isso ocorre antes do lançamento, relevo. Porém ele originalmente já tinha lançado em abril, chegando somente agora para consoles Nintendo, e ainda manteve alguns problemas de performance, mesmo que não tão extremos.
Parece ter pouco a se falar do jogo em si, mas é porque tem; Locomoto se resume a pegar passageiros e encomendas, levar para outras estações, realizar missões pontuais para NPCs e decorar seu trem. Inclusive, pode ignorar tudo se quiser e ficar andando de trem à toa, já que nada te impede.
Se Locomoto tivesse gráficos mais detalhados, daria para entender essa questão, mas não parece o caso. Seus gráficos são extremamente simples em modelos 3D, os cenários têm alguns detalhes, mas o ambiente não é nada bonito. Esperava pelo menos apreciar a vista pela janela do trem, mas o cenário é bem genérico e com texturas pouco detalhistas. Talvez os problemas de performance estejam relacionados a isso, já que parece que o mapa vai renderizando conforme viajamos, o que torna possível que ele mantenha as áreas passadas ainda carregadas.
Toda experiência parece pela metade aqui: temos ingredientes, mas não cozinhamos; podemos decorar os vagões, mas é tudo muito apertado e limitado; tem armazenamento, mas só para material. Até o trem não é nada complexo, apenas uma alavanca e uma fornalha.
Não parece relaxante, parece só relaxado, tantas possibilidades, mas nada bem aproveitado.
A trilha sonora é puro lo-fi, que mistura estilos diferentes com uma batida lenta, assim como tudo ali. Nada muito marcante, mas também nada ruim.
Locomoto grita falta de polimento. Mesmo com a atualização em seu lançamento, ainda falta alguma coisa. Talvez interações melhores, ou algum sistema de recompensa/penalidade por alguma coisa, mesmo que não tão pesado. Se ignorar tudo e só andar de trem, nada acontece, você pode ignorar os passageiros ou enrolar para chegar aos destinos deles, nada importa.
Por um lado, entendo que isso jogue menos pressão no jogador, mas para mim, acaba deixando um vazio, uma sensação de algo faltando.
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