Eu sempre achei o conceito de expandir a experiência de um bom jogo fascinante. O sentimento que eu tive da primeira vez que coloquei Super Street Fighter 2 no meu Super Nintendo e pude jogar algo familiar, mas com tanto conteúdo a mais, é inexplicável. Desde então esta indústria evoluiu disso para a miriade de expansões encontradas em jogos como The Sims ou MMO’s, chegando até às semi-sequencias, como Xenoblade 2: Torna e Spider-Man: Miles Morales.
Pokémon não é estranho a este conceito. Os fanáticos pela série podiam esperar, em quase toda geração, uma nova versão dos jogos que vieram logo anteriormente repleta de melhorias e novidades. Um novo conjunto de monstrinhos, novas áreas, seções de estória inéditas, visuais refinados… uma série de adições que ajudava a manter o jogo vivo ao mesmo tempo que incentivava os donos da famosa “versão base” a fazer a atualização.
Mas em 2020 a situação mudou: Deixando de fora as pessoas que esperavam o terceiro jogo para fazer a atualização, a Nintendo e a Game Freak optaram por focar totalmente em quem ja possuía o jogo original. Isso tecnicamente torna o upgrade mais barato para os donos de Sword e Shield, apenas U$ 30 / R$ 150, mas para os que gostavam de pular direto para a “experiência completa”, esta agora custa U$ 90 (EUA, digital ou físico) / R$ 400,79 (Brasil, apenas digital). Dado isso, vale a pena comprar o Expansion Pass?
Recomendação de Compra
Mario & Luigi: Brothership
Lançamento: 7/Nov/2024
Uma expansão que completa.
Mas analisar uma expansão é diferente de analisar um jogo. O conceito de expansão está muito ligado ao valor inicial do produto que chamamos de “jogo base”. Existem duas formas de vender uma expansão: A primeira dela é partir de uma experiência completa e satisfatória, onde os designers podem tomar riscos e projetar algo mais ousado; Enquanto que a segunda tem como proposta adicionar mais conteúdo para aumentar a proposta de valor do jogo base, passando o sentimento de “completa-lo” de tal forma.
E é justamente nesta segunda abordagem que o Expansion Pass de Pokémon Sword e Shield se encaixa. Precisamos ser francos: Os dois primeiros jogos da oitava geração, lançados em 2019, ficaram aquém das expectativas de conteúdo que os pairava. Mesmo que apresentando quase a mesma quantidade de espécies Pokémon capturáveis que os jogos anteriores no 3DS, a quantidade de monstrinhos usáveis, e transferíveis, é bastante menor. Além disso, não há muito o que se fazer depois da campanha principal, onde até mesmo jogos de Game Boy, como Gold e Silver, ofereciam novos Pokémon, cenários, objetivos e até ginásios.
Eu não estou aqui para criticar os jogos do ano passado. Se quer saber minha opinião, Pokémon Sword é simplesmente o meu jogo mais jogado no Switch, mais até mesmo que Breath of the Wild. Mas esta não é uma análise do jogo base, esta ja fora publicada aqui no Switch Brasil em 2019. Esta é uma análise do Expansion Pass com o intuito de saber se vale o preço cobrado e para quem é indicado.
Novos horizontes.
As estrelas desta expansão são, sem sombra de dúvidas, as novas localidades. Adjacente a Galar, a Isle or Amour e a Crown Tundra são moldadas ao estilo da Wild Area, totalmente aberta e explorável, com direito a mudanças de clima, novas Dens para Max Raid Battles e uma enorme variedade de Pokémon espalhados em diversos biomas inéditos.
A maior diferença para a Wild Area original, no entanto, fica pelo level design muito maior, complexo e instigante. Os vários biomas são totalmente interconectados e há várias formas de chegar a um lugar específico. O jogador pode facilmente se perder nestes mapas enormes enquanto descobre seus segredos. É o tipo de sentimento que o mapa simplório do jogo base nunca conseguiu alcançar. Aqui tudo é mais proporcional, bonito e diverso, características que ajudam a atiçar a curiosidade de formas que não sentia na série a um bom tempo. Mas estes mapas não foram simplesmente colocados aqui sem contexto. Há todo um significado neles, especialmente o Crown Tundra. Esse nível de contextualização, de querer conhecer mais sobre a área, sua cultura e história, é muito importante para criar uma conexão do jogador com aquele cenário.
Os segmentos de estória que acontecem na Isle of Armour são simples, mas conseguem prender o jogador simplesmente pelo charme de seus personagens, como Klara/Avery e Mustard; Um charme sincero que Leon ou Hop, do jogo principal, nunca conseguiram ter. A ilha também se esforça para colocar o jogador em situações diferentes, como ter que capturar um grupo de Slowpokes velozes ou encontrar 150 Diglets escondidos. Estes e outros objetivos são muito bem recompensados, como destravar Tutores super úteis e até ganhar o lendário Kubfu,
A mesma simplicidade de Isle of Armour não é aplicada à Crown Tundra, mas seu charme sim. Aqui o jogador vai interagir primariamente com Peony, um ex líder de ginásio e irmão mais novo de Rose que te adota em sua aventura particular depois que sua filha o rejeita; Além de Calyrex, um Pokémon lendário da região que perdeu sua relevância, e até mesmo memória, ao longo dos anos. Eu confesso que nos últimos títulos que joguei da série, Pokémon falhou miseravelmente em criar uma atmosfera imersiva de curiosidade em relação ao seu mundo, mas Crown Tundra é diferente.
Eu fiquei genuinamente interessado em saber mais sobre o local, sobre seus moradores e os acontecimentos do passado. Eu até imagino que algumas coisas se desenrolaram rápido de mais, mas admito que o conteúdo aqui passou longe de ser um esboço. Cada área de Crown Tundra tem uma estória por trás, tem algo para ser descoberto ou refletido. Desde sua única vila até seu cemitério e a mansão no topo daquela colina, tudo aqui apresenta um atenção que não via na série há um bom tempo. Tudo isso contribui para o desenrolar de uma estória muito mais interessante do que qualquer coisa que o jogo principal tenha nos apresentado.
Um ponto que acho importante levantar sobre estas campanhas é sua dificuldade. A Isle of Armour apresenta ao jogador mais experiente com Pokémon de níveis relativamente baixos, semelhante à Wild Area; O que é um pouco decepcionante para todos aqueles que vão experimentar a ilha depois de terminar a aventura principal. Enquanto isso a Crown Tundra traz batalhas com Pokémon selvagens em níveis mais altos, mas pouquíssimas batalhas contra treinadores. Peony é basicamente o único adversário humano disponível, então quase todo desafio neste sentido estará relegado ao Galarian Star Tournament.
Novas Atividades
Como já fora explicado anteriormente, o Expansion Pass te apresenta duas novas campanhas que são moderadamente prolongadas. Obviamente que não são comparadas à presente no jogo base, mas, como explicado, a qualidade das atividade com certeza compensa sua extensão. Quando comparado com o restante da série, podemos interpretar o Expansion Pass como o verdadeiro post game de Sword e Shield, um imenso contraste com o que o jogo base ousou nos oferecer. Não é algo no nível de Kanto na segunda geração, mas chega a ser mais conteúdo que as Sevi Islands de FireRed e LeafGreen.
Mas não é só de campanha que esta expansão é feita; A Game Freak trouxe alguns adicionais para aumentar ainda mais a proposta de valor deste pacote. O primeiro que gostaria de comentar, de longe o mais importante, são as Dynamax Adventures. O jogo te agrupa com mais três pessoas online para enfrentar uma série de Max Raid Battle aleatórias que culmina com um Pokémon lendário. A diferença aqui é que você não pode usar seus próprios monstrinhos, mas sim alugar um no começo da aventura e troca-lo por outro que sua equipe capturou quando achar necessário. Além disso, o uso de PP e HP é carregado para as batalhas seguintes.
Tudo isso traz um nível de estratégia às Dynamax Adventures que eu particularmente não estava esperando. Mesmo que a espécie dos Pokémon que serão enfrentados não seja revelado logo de cara, o seu tipo é divulgado com antecedência, então é possível preparar as trocas para acontecer no momento certo. Além disso, vários rotas diferentes podem ser tomadas, cada uma trazendo diferente benefícios e malefícios. No fim eu me vi parando para pensar na minha próxima jogada de forma analítica e foi algo bastante satisfatório e inesperado. Existe até uma versão infinita, sem o Pokémon lendário no fim, para os que querem apenas se divertir e ganhar Dynite Ores, uma moeda especial que te permite comprar uns itens legais. É o tipo de conteúdo que, caso fosse desenvolvido um pouco mais, poderia até se tornar um jogo independente, então fico bem feliz de estar incluso neste pacote.
Mas a Dynamax Adventures não é a única nova atividade que pode ser executada de forma indefinida, também temos o Galarian Star Tournament. Eu particularmente achei o torneio final do jogo base um pouco anticlimático, então é ótimo ter outra opção. Aqui as batalhas são realizadas em dupla, sendo que você destrava novas duplas ao se tornar campeão múltiplas vezes. O torneio em si é divertido, existe um bom nível de desafio e ao menos destravar todos os parceiros será algo que tomará um certo tempo.
Por fim, há outras pequenas atividades disponíveis. Como já mencionado, há 150 Diglets para serem encontrados na Isle of Armour, além dos lendários opcionais da Crown Tundra, como as espadas da justiça (que inclui uma pequena quest para achar suas pegadas) e Keldeo. Há também outras atividades menos empolgantes, como equipar o Dojo da Isle of Armour. De forma geral, conteúdo é o que não falta.
Novos Pokémon
Talvez a maior expectativa no anúncio deste pacote tenha sido justamente a adição de novos monstrinhos. Pela primeira vez na série, toda a coleção (até então) de Pokémon não estava disponível para ser utilizada, então esta parecia uma atualização óbvia para um possível pacote de expansão.
Pois bem, 221 espécies retornaram ao jogo e podem ser capturadas com a compra do Expansion Pass. Existem representantes de todas as gerações e, caso você não tenha o pacote, é possível transferi-los para o jogo através do Pokémon Home ou trocas. No entanto, certa de 230 espécies infelizmente não foram agraciadas com este retorno e não podem sequer ser transferidas. Eu vejo isso como algo frustrante. Entendo não torna-las disponíveis para capturar no próprio jogo, afinal nenhum jogo anterior da franquia permitiu tal coisa, mas impedir que o jogador seque consiga transferir seus monstrinhos favoritos é um imenso downgrade comparado com os jogos de 3DS e que esta expansão de R$ 150 não se preocupa em corrigir.
Mas não acaba por aí. Existem também espécies e formas inéditas adicionadas nesta expansão. Tanto Slowpoke quanto suas duas evoluções e as três aves lendárias receberam novas formas que trazem consigo estratégias interessantíssimas. Além disso, quase dez novos monstrinhos (contando formas alternativas) estreiam aqui, todos com ótimo potencial para batalhas.
Novas ferramentas
Uma coisa é certa: Esta expansão, na falta de uma palavra melhor, expande muito mais além dos monstrinhos disponíveis. Coisas pequenas, como um novo Exp. Share que te dá bonus de experiência e novas roupas para customizar a aparência do jogador, são muito bem vindas, mas há novidades maiores. Eu acredito que o pensamento por trás dessa expansão foi dar ao jogador todas as facilidades que ele não tem no jogo principal e garantir uma certa vantagem nas batalhas, pois há diversas novas mecânicas com este foco.
Se lembra que a única forma de ter um Pokémon Gigantamax no jogo base é capturando um monstrinho com esse potencial em Max Raid Battles? O problema disso é que você teria que lidar com IV’s e habilidade diferente das desejadas, que necessitaria Hyper Training ou Ability Capsules, além de não poder contar com golpes herdados. Pois bem, Isle of Amour te permite produzir uma Max Soup que torna qualquer Pokémon de uma espécie com forma Gigantamax em um monstrinho Gigantamax, simples assim. Além disso, alguns Pokémon só podem utilizar tal forma com a ajuda da Max Soup, então mesmo que você esteja no jogo base tais monstrinhos nunca vão aparecer numa Max Raid Battle orgânica, fora de eventos.
A ilha também oferece a oportunidade de conseguir vários itens que o jogo principal só te dá uma vez, além de novas cópias de vários TR’s para os que não jogam tanto Max Raid Battles. Há também um Move Tutor que disponibiliza vários novos golpes, alguns deles primordiais para montar certos tipos de estratégias, que não podem ser adquiridos no jogo base. Já o Crown Tundra traz ainda outra ferramentas para facilitar a vida do treinador: Aqui é possível comprar um item que permite trocar a habilidade de um Pokémon para sua variação secreta, um feito que era impossível de ser realizado até então e democratiza o uso destas habilidades que eram consideravelmente raras.
Todas estas adições dão, por bem ou por mal, uma vantagem absurda ao jogador que comprou o pacote de expansão quando comparado com os demais. Eu não chegaria a dizer que são mecânicas pay-to-win, mas fica claro que diversas estratégias, e não somente facilidades, agora estão presas atrás da necessidade de realizar um pagamento.
Finalmente completo?
Como já mencionado, Pokémon Sword e Shield foram jogos aquém das expectativas para um título da série principal num console de mesa e da evolução natural da série ao longo destes anos. Um Pokedex incompleto, a ausência de conteúdo pós-game (ou conteúdo de forma geral) e a falta de profundidade da sua campanha são alguns de seus problemas mais graves. Porém, a base do jogo é tão fantástica, e o loop de sua jogabilidade tão viciante, que dificilmente outro título roubará seu posto de mais jogado no meu Switch.
E é neste contexto que o Expansion Pass se encontra: Pegar esta base incrível e complementa-la. Duas novas campanhas que funcionaram maravilhosamente bem como o pós-game que este jogo tanto merece, uma imensa quantidade de Pokémon regressando (incluindo espécies totalmente novas) e várias ferramentas que são realmente úteis para o treinador. Porém, muitos monstrinhos ainda ficaram de fora da brincadeira, então não posso chamar o resultado final de completo; Neste quesito, infelizmente, ainda estamos atrás dos jogos de 3DS.
É frustrante pensar que algumas destas adições ja deveriam estar no jogo base, especialmente visto que estão até mesmo nos jogos de 3DS, mas meu dever é analisar esta expansão de forma individual. Desta forma, eu não consigo imaginar algum perfil de jogador ao qual este pacote não seja recomendado. Os casuais vão amar a quantidade de espécies para capturar e os assíduos vão se debruçar nas novas estratégias e oportunidades apresentadas, além de que ambos ainda aproveitam duas campanhas super divertidas. Caso ja tenha Pokémon Sword ou Shield, esta expansão é praticamente obrigatória. Caso não tenha, pegue logo o pacote com ela para ter a experiência completa.
Este pacote de expansão verdadeiramente cumpre o que promete e atualiza o jogo base em todos os aspectos possíveis: Duas novas regiões que comportam não somente novas campanhas e personagens, mas também mais de duzentos novos Pokémon e novas atividades. Além disso, ferramentas exclusivas voltadas para o metagame se propõem a dar uma vantagem obrigatória aos que gostam de batalhar online. Com certeza uma aquisição obrigatória para todos os donos de Pokémon Sword e Pokémon Shield.
- Design
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