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Análise – Gerda: A Flame in Winter

A Menina que Roubava Livros versão jogo eletrônico

Filmes como O Pianista e livros como A Menina que Roubava Livros trazem um forte contexto sobre a Segunda Guerra Mundial. No mundo dos jogos, quando o tema é abordado, geralmente somos jogados em um game de ação ou estratégia, da qual temos que sair por aí matando diversos inimigos no maior estilo Rambo.

Gerda: A Flame in Winter traz uma abordagem diferente e bem próxima do Best Seller de Markus Susak, onde somos jogados em um universo onde todos os personagens estão diante de um contexto extremamente pesado vivenciando o regime mais cruel, extremista e genocida que a sociedade moderna já vivenciou.

gerda a flame in winter artwork arte
Artwork bonita e cheia de charme aguarda o jogador nesse adventure.

Uma chama no inverno

O jogador controla Gerda, que deverá sobreviver na Noruega durante os últimos anos de ocupação nazista, quando seu regime já estava em declínio.

A cidade de Tinglev é um território que sempre sofreu disputa do lado dos noruegueses e alemães, e com Hitler no poder, a minoria alemã aproveitou para controlar a parte política da cidade, ocasionando em escassez de comida e materiais, além de brutalidade contra os cidadãos de origem norueguesa.

Gerda, a protagonista, vive um dilema. O amor de sua vida, Anders, é norueguês, quanto que seu pai, nascido alemão, se junta a minoria nazista que toma controle da cidade. Você já pode imaginar a situação e, por mais que queira entregar mais pontos aqui, tudo seria um potencial spoiler para as inteligentes e tensas reviravoltas do jogo.

Apesar da grande história e dos conflitos engenhosamente planejados, o jogo sofre com a atuação de voz que, apesar de ser boa por vezes, peca pesadamente em outras, parecendo forçada demais para criar um drama desnecessário, da qual a própria história já consegue apresentar devido ao pesado contexto.

Gerda só poderá correr em determinados pontos do jogo, o que faz a exploração tediosa em cenários mais abertos.

Gerda: A Flame in Winter traz elementos criativos no gênero adventure

A história sempre acaba sendo um ponto crucial em jogos de adventure porque ela está inerentemente atrelada a jogabilidade no gênero. Em Gerda, a desenvolvedora conseguiu inserir elementos que realmente se adaptam à própria história.

Durante o progresso do jogo, o jogador conquistará pontos de compaixão, perspicácia e sagacidade, e muitos diálogos e ações irão requerer que você use um determinado número de pontos desses atributos, o que traz uma certa cautela em como usar esses pontos, já que não é fácil consegui-los. Se você utilizar em uma ação, quando surgir outra mais importante, talvez você não tenha os pontos necessários.

O mesmo ocorre com os itens. Quando você pega uma caixa de fósforo com 4 unidades sobrando, você poderá aquecer a comida, ligar uma lamparina, etc… mas se utilizar todos os fósforos e em algum momento ele for necessário e você não tiver mais, você perderá uma ação que poderá impactar a história mais adiante.

Gerda a flame in winter pontos, personagens, jogabilidade
Use seus pontos de compaixão, perspicácia e sagacidade com cautela, para não ficar sem pontos em decisões mais importantes. A confiança dos personagens e das facções (resistência e ocupação) também farão diferença.

Essa mecânica é tão bem implementada que muitas vezes vocês verão um personagem fazendo uma ação estranha, como por exemplo, visitar o médico a cada momento, parecendo um hipocondríaco, quando na verdade há uma razão para ele fazer isso, da qual você descobrirá mais tarde. E todas as razões se encaixam de forma tão inteligente que é impossível não pensar “a, então era por isso que fulano fazia tal coisa…” mostrando o quanto a história do jogo foi bem pensada e trabalhada com o gameplay.

É necessário cuidar da gestão de tempo também, já que o jogo é dividido por sessões, conforme o dia passa. E com novas descobertas, Gerda terá que escolher para onde ir com esse tempo. Por exemplo, à uma da tarde, o jogador poderá ir para o acampamento da resistência, ou visitar um personagem na prisão. Dependendo da escolha, irá abrir caminho A ou B mais para frente, trazendo um valor de replay interessante ao jogo.

Gerda a flame in winter cidade escolha local
Escolha com cuidado qual parte da cidade visitar nos dias e horas dispostos, pois poderá mudar o rumo da história. Fique tranquilo, o jogo é curto para um replay mais rápido.

Porém, a jogabilidade de Gerda: A Flame in Winter não é livre de defeitos. O que mais me incomodou é que Gerda só irá correr em momentos específicos do jogo. Isso me parece ser uma forma forçada de aumentar o tempo de jogo. Em diversos momentos eu só queria correr para chegar no local que precisava, mas o jogo só dá a opção da Gerda caminhar.

A câmera também sofre com alguns problemas de visibilidade, apesar de raros. Na visita à cabana de pescadores, por exemplo, uma árvore ficou bem na frente enquanto eu tentava atravessar a ponte, mas nada que estragasse a experiência do jogo.

Gerda a flame in winter diário, personagens, fotos
No diário, você poderá ver personagens e “files” a là Resident Evil da história do jogo, inclusive com fotos reais da ocupação nazista durante o tempo de ocupação na Dinamarca.

Um game com o contexto da 2ª guerra mundial sem a fórmula Rambo

Gerda: A Flame in Winter, sai do tradicional adventure e tenta implementar uma mecânica de pontos e itens como em um jogo de RPG, ao invés de objetos que precisam ser usados em pontos específicos do jogo, fazendo com o que o jogador tenha cautela em como utilizar esses pontos e itens.

O mais interessante de tudo, porém, é que o jogo não dirá para você que um lado é mau e outro é bom. Ele jogará na mesa pessoas e decisões, e o que acontece com elas será resultado das ações escolhidas pelo jogador. Gerda é mais uma prova que nem todo jogo se resolve puxando um gatilho.

Gerda a flame in winter game, jogo, decisões
Decisões difíceis aguardam o jogador nesse incrível game de adventure com toques inovadores durante a Segunda Guerra Mundial.

 

Essa análise foi realizada com o código fornecido pela Don’t Nod

Gerda a flame in winter cover capa analise jogo
Veredito
Gerda: A Flame in Winter é um gostoso adventure que não tenta somente jogar uma boa história, mas antes colocar decisões pesadas na mão do jogador, da qual tudo terá uma consequência positiva e negativa.
Prós
Adventure com mecânicas interessantes, fora do padrão convencional do gênero
História se molda de acordo com as decisões do jogador
Direção de arte criativa
Alto valor de replay
Contras
Atuação de voz forçada
Não poder correr
Câmera atrapalha em alguns momentos
7.5
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