Há um ano atrás, comecei a desenvolver as partes desta teoria. Tempo veio, tempo foi, e terminei por só agora conseguir publicar tudo. Vale lembrar que abaixo, é possível conferir a versão em vídeo, com alguns detalhes e explicação a mais. Para quem seguir no texto, bem, vamos lá:
Desde o lançamento do jogo com um dos menores períodos de hype na história (dado que um mês após o lançamento de Legends, nada menos que Scarlet e Violet foram anunciados), e que definitivamente marcou o ponto de virada na franquia, uma dúvida parece ter sido jogada para o segundo plano.
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Afinal, em que época exatamente ocorreram os acontecimentos de Legends? De acordo com o próprio enredo, fomos jogados num passado aleatório para resolver questões não acabadas. Dialga e Palkia ainda não são conhecidos como hoje. ‘Sinnoh’ nada mais é que uma nomenclatura misteriosa para a trindade da criação. O Spear Pillar, ponto do próprio clímax do jogo, ainda está intato. E muitas das cidades da região moderna não são nem ao menos citadas na época. Em resumo, é tudo mato mesmo.
Culturalmente, o Japão foi ter um salto no seu desenvolvimento no período pós Segunda Guerra Mundial. O país não teve grandes mudanças visíveis em seu ambiente por muito tempo, mantendo o tradicionalismo durante séculos, o que faz uma tarefa quase impossível cravar qualquer marca temporal precisamente por lá.
Isso quer dizer que a princípio, o primeiro tiro é completamente no escuro. Talvez o protagonista tenha caído 300 anos no tempo? 500 anos? Afinal, os únicos aglomerados de população são os clãs Diamante e Pérola, e a própria Vila de Jubilife. Comecemos por lá então.
O Despertar do Júbilo
Como toda cidade no mundo Pokémon, ela possui uma espécie de “contraparte” com alguma urbe do mundo real. Nesse caso, temos Sapporo como referência. A maior cidade na ilha de Hokkaido (que por sua vez é o próprio mapa de Sinnoh/Hisui) começou a ser habitada há mais de 15 mil anos atrás, pelos grupos indígenas Ainu. Apesar disso, foi apenas na metade do século XIX, mais precisamente na década de 1860 que a cidade pôde se considerar “fundada”, e só com o período Meiji que ela irá ver sua maior fase de desenvolvimento ocorrer.
Com esse princípio, já temos uma pequena noção de tempo. Apesar disso, no restante da região, temos apenas uma ou duas casas no meio do nada (tal qual no período anterior ao boom populacional do século XX, fora dos grandes centros globais). Uma dessas habitações em Hisui está escondida no interior da região (próximo de onde hoje seria a cidade de Celestic) é onde fica Cogita, a responsável por abrigar-te durante os acontecimentos finais da história do jogo. E curiosamente, é com ela que podemos ter nossa próxima pista.
A Moda Pensa
O seu estilo é a primeira “dica” ocidental para levar em consideração aqui. O vestido de Cogita é influenciado de forma gritante pela moda do período Eduardiano, (que ocorre pelo final da Belle Époque) – eras que terminaram com o início da Primeira Guerra Mundial, no começo do século passado, em um período que aqui pode ser entendido como entre 1890 e 1914. Durante tal período, a moda teve novas aproximações. O vestuário, até então opulento, passou a ser mais resignado e “formal”, como nos exemplos a seguir.
Em teoria, pode-se até considerar que Cogita não tenha origens em Hisui. Seu nome é inspirado diretamente na língua latina, algo não recorrente com a maioria dos personagens nativos da região (como os próprios Rei e Akari, por exemplo).
Faça-se a Luz
A segunda referência ocidental escondida por lá está de volta na vila de Jubilife. Ao decorrer do jogo, algumas mudanças extremamente sutis podem ser notadas. A vila na qual o protagonista foi primeiramente acolhido se desenvolve conforme o seu progresso. E uma dessas mudanças é vista na “avenida principal” – nada menos que lampiões a gás.
É certo de que já se sabia há muito tempo que certos gases eram inflamáveis, o que poderia ser usado como fonte de luz e energia. Porém não foi até o final do século XIX – com a revolução industrial a todo vapor – que a tecnologia se tornaria economicamente viável.
A novidade também alterou o espaço urbano como um todo. Os postes, antes simples, passaram a ter um estilo mais dedicado, de forma a criar uma “estética” noturna. Os modelos de Hisui são um tanto quanto assimiláveis com os postes típicos do período inicial da iluminação a gás, e que olha só: também são contemporâneos da moda de Cogita.
O Primeiro Chrome
Ainda na avenida principal, logo no final (ou seria no começo?) da passagem, há um estúdio de fotos, onde é possível gravar alguns dos seus momentos, sozinho ou acompanhado de seus Pokémon. Dentro do estúdio, podes conferir os equipamentos de Dagero (também conhecido como o cota da foto). Entre eles está um modelo de câmara estática, criada para estúdios e ocasiões pontuais. Curiosamente, o modelo começou a cair em desuso na década de 1920, sendo substituído por modelos menores e mais portáteis.
E aqui teríamos um empecilho. No estúdio, é possível tirar fotos em cores vivas. Digo “teríamos” porque sim, na época que Hisui aparenta tomar parte, já existiam fotos em cores. A tecnologia havia sido descoberta ainda na década de 1870, mas só com os irmãos Lumière (sim, os mesmos do cinema) que surgiu o Autochrome, em 1900.
Mesmo assim, ainda precisamos de outro nó para arrematar o mistério de uma vez. E esse nó na verdade não é nem sequer de Hisui, mas sim de Galar.
Laventon é o professor titular da antiga região. Assim como Cogita e Ingo, é um dos pouquíssimos “estrangeiros” implícitos no jogo. Nas versões de Legends em outras línguas (que não o Inglês), seu vocabulário é um pouco misturado com maneirismos de sua suposta terra natal. Seu estilo também é baseado na moda masculina do final do período vitoriano, no século XIX. Um perfeito gentleman.
Em algumas artes conceituais suas, temos mais uma pista – a câmara. Modelos como o que ele porta foram usados por muitos anos, mas há um em específico que temos que prestar mais atenção: a Leica I. A mesma foi criada na Alemanha, ainda em 1925: um período relativamente aceitável para encaixar-se na nossa “pesquisa”. O modelo revolucionou a fotografia portátil da época, por criar um modelo acessível de fotos visto antes apenas com a Kodak Brownie, de 1900.
E claro, como se esquecer do próprio enredo entre os jogos? Em Legends, seu destaque ocorre por ser a única pessoa na região a saber como utilizar as novas Pokébolas, um aparato criado a base de Apricorns, ainda em fase de testes, e usado para capturar Pokémon.
De maneira canónica, o ano de criação (ou ao menos patente) do artefato é um preciso e seco 1925. Já vimos representações no anime com o uso do equipamento em anos anteriores a sua fundação, o que pode explicar uma fase de diversos protótipos usados em alguns anos (ou décadas antes). Que também é um período próximo ao presente na moda de Cogita, as câmaras de Hisui, e a estética de Jubilife.
Fio dos Tempos
Bem, vamos resumir. Os acontecimentos de Legends são sim um pouco antigos. Mas não tanto quanto parece. A região vive o início da era de bonança e desenvolvimento global, assim como na nossa própria realidade. Seria impreciso e leviano cravar um ano exato, mas arriscaria sem dificuldades assumir uma época entre 1900 e 1920, há cerca de um século atrás.
É na hipotética sequência da história de Legends que iremos ver a transição para a Sinnoh moderna, com a expansão de Jubilife, a criação das demais cidades, e o desenvolvimento da futura Liga regional.
Pelo intervalo de anos, isso também indicaria que a maioria dos ancestrais representados em Legends dividem cerca de 2 ou 3 graus de familiaridade com seus descendentes. A exemplo, ao colocar os acontecimentos de Diamond e Pearl como ocorridos precisamente nos anos 2000, Rowan teria nascido por volta de 1940, o que abriria espaço viável para que Kamado seja algo como seu avô ou bisavô.
Além disso, caso seja assumido o período de Legends e DP como corretos, existe uma curiosa e grande possibilidade de que (sim) algumas das crianças que aparecem como NPCs em Legends também apareçam em DP como idosos, já por volta dos seus 90 ou 100 anos. O que honestamente, se confirmado, seria uma das descobertas mais gratas na história da franquia, na minha opinião. Quem dera fosse possível ver os nomes de toda a população em Sinnoh…
Então é isso. Tem algo que gostaria de acrescentar por aqui? Alguma hipótese a mais que eventualmente poderia reforçar a teoria, ou até mesmo mandar o jogo para outra data? Quero muito saber, conta aqui nos comentários. Até a próxima!
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