Graças à minha paixão imensa desde criança por Chrono Cross, resolvi conferir esse dito remaster que a Square Enix estava dando a entender que seria feito há vários meses. Depois de alguns vazamentos sobre uma possível nova versão do jogo, finalmente tivemos a confirmação de que essa obra prima seria trazida novamente à luz, para ter uma nova chance de cativar aqueles que nunca conheceram Chrono Cross, e fazer os fãs comprá-lo mais uma vez.
Cicatrizes do tempo e batalhas em turno
Chrono Cross conta a história de Serge, um adolescente de 17 anos que mora em Arni Village no arquipélago El Nido, e que parece viver uma vida normal e pacata com sua melhor amiga e interesse romântico, Leena. Depois de coletar alguns materiais para ela, Serge a encontra na praia para entregar o pedido e, de repente, sente uma espécie de energia passando pelo seu corpo, enquanto as ondas do mar vêm e o cobrem enquanto ele tem algumas visões.
A partir daí, Serge acorda em um mundo bastante igual ao seu, porém, percebe que simplesmente ninguém o conhece. Apenas com isso, Chrono Cross sempre me fisgou bastante, já que viagem no tempo e realidades paralelas estão entre meus temas preferidos no mundo dos games. Nossa principal missão passa a ser encontrar um caminho de volta para a realidade de Serge, porém, o protagonista acaba descobrindo que o buraco é “muito mais embaixo”, e que existem várias coisas acontecendo em ambas realidades.
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Lançamento: Ago/2024
Chrono Cross se trata de um RPG por turnos, ou seja, você precisa escolher uma ação e passar a vez para o inimigo lhe atacar de volta. Porém, as coisas aqui se diferenciam no quesito liberdade. Existem três níveis de ataque e uma barra de stamina que vai até 7.0. Quanto mais alto o nível do ataque, menos chances você tem de acertar o golpe de primeira, e mais stamina será gasta. Por isso, usar o ataque com menos poder de ataque mas uma chance maior de acerto pode ser uma boa ideia, já que isso aumenta consideravelmente a porcentagem dos ataques mais fortes em seguida.
Também podemos variar os ataques entre os diversos membros da nossa equipe, escolhendo um deles para executar a ação, recuar em seguida e, após isso, selecionar outro personagem para executar outra ação. Mesmo com esse diferencial que foi um grande marco pra mim na época, Chrono Cross me surpreendeu mais ainda por conta de seu sistema de Elements. Podemos equipar magias diversas em nossos personagens, cada uma delas possuindo um elemento de cor diferente que afeta a cor do campo (vantagem para Elements da respectiva cor) e é mais forte contra a cor oposta do inimigo enfrentado.
Fora isso tudo, essas “magias” também podem conter níveis diferentes quando alocadas em diferentes colunas de Elements dos personagens, o que causa danos mais altos. Elements consumíveis também estão disponíveis, e podem agir como itens de cura e afins. Após o final da batalha, existe a opção de curar toda sua equipe utilizando Elements e/ou itens consumíveis, ou simplesmente não realizar nenhuma ação. Mesmo assim, essa opção economiza bastante tempo pelo simples fato de existir.
Para adquirir novas armas e equipamentos, não basta apenas comprá-los nas lojas, assim como na maioria dos RPGs. Em Chrono Cross, precisamos criá-los a partir de materiais encontrados por aí, equipamentos desmontados, materiais adquiridos em trocas (usando Elements como moeda) ou recebidos como recompensa de batalhas. O mais legal é ver o novo equipamento (armas, especificamente) sendo usado durante as batalhas, visualmente falando, em vez dele apenas mudar seus atributos.
Por fim, as batalhas não seguem o estilo “encontro aleatório”, o que foi algo que me deu uma baita dor de cabeça em minha infância – e até hoje, eu diria -, justamente por mecânicas assim resultarem em confrontos a cada 5 passos – exageradamente falando. No lugar disso, Chrono Cross nos permite ver os inimigos caminhando pelo ambiente, e encostar neles inicia uma batalha. Com isso, dá pra evitar muitos perigos se assim você desejar, a não ser que o monstro corra ou pule em sua direção (o que acontece muito).
Opções exclusivas do remaster
Além das várias atualizações visuais, Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition oferece algumas opções que antes eram possíveis de serem ativadas apenas através de emulação ou de Game Shark. Primeiramente, para minha felicidade, agora podemos acelerar o jogo e tornar tudo mais rápido (com um item que, originalmente, era só adquirido no New Game Plus), o que melhora bastante o ritmo das batalhas, que acabam ficando repetitivas depois de um tempo.
Também podemos ativar uma espécie de “God mode”, que simplesmente faz com que os inimigos nunca acertem um golpe em nossos personagens. Isso não deixa com que ninguém desfaleça. Fora isso, é possível desativar as batalhas de maneira geral (menos aquelas que fazem parte da história e tem contexto específico), além de ligar um auto-battle que executa todas as ações nas batalhas sem a ação do jogador – e restringe tudo apenas aos ataques comuns sem Elements.
Todas essas funções são muito bem-vindas, e melhoram a experiência como um todo, principalmente se você, assim como eu, já tiver terminado a história na versão original várias vezes e quis revisitar tudo novamente apenas para ter um passeio no parque sem grandes desafios.
No mais, há o text adventure Radical Dreamers, originalmente lançado em 1996, que estava oficialmente disponível apenas em japonês até então. Pela primeira vez, o jogo foi localizado completamente para o idioma inglês, o que não ajuda muito os fãs brasileiros. A jogabilidade consiste basicamente em fazer escolhas, acompanhadas de imagens de fundo, algumas animações e trilha sonora.
O que podia ter sido bem melhor
Tratando-se de um remaster, algum conteúdo extra podia ter sido adicionado como “algo a mais”, e não precisava ser nada absurdo. Um manual de como convidar os mais de 40 personagens existentes para sua equipe seria algo bastante convidativo, ou então um manual com explicação de como algumas mecânicas funcionam. É verdade que elas são explicadas em tutoriais durante alguns momentos da jogabilidade, mas posteriormente não existe uma enciclopédia para consultar como tudo funciona.
O framerate também podia ter sido testado com muito mais cuidado. Chrono Cross nunca foi um exemplo de performance na época do PlayStation nos anos 90, mas, mesmo assim, o mínimo que se espera de uma remasterização é um fps, no mínimo, melhor do que a versão original. O game tem mais de 20 anos de existência, e a performance apresentada em todas as versões é vergonhosa, e até mesmo pior do que a de PS1. Isso é perceptível tanto na velocidade padrão quanto na acelerada disponível apenas nessa atualização.
Os gráficos, apesar de atualizados, foram feitos através de uma inteligência artificial de uma maneira bem precária. Através do vídeo da Digital Foundry, é possível constatar que as imagens dos cenários receberam um tratamento automatizado que causou um “efeito aquarela”, o que deixa todos os fundos com aspecto de derretimento e mesclagem de cores, e torna tudo um tanto quanto deslocado em vários momentos em relação aos personagens. O destaque vai para os personagens 3D, que agora não tem mais aquela aparência trêmula do PS1 e possuem uma resolução bem maior, além de texturas melhoradas.
Finalmente, algumas opções exclusivas da remasterização são possíveis de serem alteradas apenas voltando ao menu principal, o que exige o encerramento e a inicialização do game. Achei essa decisão bastante ruim, e me fez dar uma “volta” bastante chata toda vez que quis selecionar outra forma de aspecto visual e alternar entre os gráficos antigos e atuais para efeitos de comparação. O salvamento do progresso também não pode ser feito a qualquer momento, mas apenas como era originalmente feito, que é através dos cristais de save e no mapa do mundo. Aliás, também temos algumas músicas novas, mas que tocam aleatoriamente no menu principal e não são possíveis de serem ouvidas em um tocador de mídia ou algo do gênero.
Um título tão importante que recebeu menos do que merecia
Chrono Cross é um dos jogos mais importantes da minha vida, e acreditava que a Square Enix o trataria de maneira caprichosa por ser parte da aclamada série Chrono. Infelizmente, as opções que vieram com esse remaster são muito bem-vindas, mas a experiência fica bastante prejudicada pelo framerate terrível que, até o momento desta publicação, não foi corrigido. Isso causa input delay durante a seleção de golpes, e principalmente para movermos o cursor durante as batalhas. Opções gráficas e aspect ratio foram curiosamente colocadas apenas no menu principal do remaster, o que exige reiniciar o jogo para poder alternar entre elas – uma decisão duvidosa.
Os gráficos 3D estão bem melhores, e as fontes ficaram incrivelmente legíveis. Porém, tudo que é parte de visuais pré-renderizados recebeu um tratamento automatizado com um nível de qualidade bem baixo, o que deixa as imagens com aspecto de derretido. Felizmente, Chrono Cross por si só é um excelente jogo que consegue divertir bastante até hoje, e é um deleite poder jogá-lo novamente em um hardware atual – ainda mais deitado na cama.
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