Summer in Mara é a mais ambiciosa aventura do pequeno estúdio espanhol Chibig, no que eles definem como “um misto de Stardew Valley com Zelda: Wind Waker e o aspecto visual do Estúdio Ghibli”, que angariou mais de dez vezes o valor necessário para sair do papel. Mas será que os 9523 apoiadores que deram mais de 230 mil euros para o desenvolvimento desse jogo, além de todo mundo que for comprar fora eles, sairão satisfeitos dessa experiência tropical? Em resumo, sim.
Em Summer in Mara, você vive as aventuras de uma garota de 11 anos chamada Koa, que após cair do barco de seus pais foi resgatada por Yaya Haku, uma bondosa senhora não humana que desde que Koa era bebê tenta ensiná-la a cuidar dos campos, cozinhar, criar as próprias ferramentas, cuidar da natureza e respeitar Mara, o oceano ao redor delas.
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Lançamento: 8/Out/2024
Na sua ilha, você criará animais, plantará frutas, legumes, verduras e mineirará minerais preciosos. Você derruba árvores para fazer tábuas e arrumar seu barco, sem se esquecer de plantar novas árvores, que crescerão e darão mais lenha. Você coleta algodão que plantou, faz linha e a usa para pescar. Monta suas ferramentas e as melhora, sem esquecer de dar passadas na cozinha para preparar alimentos e sucos que farão Koa aguentar fazer todas as atividades do dia. E não se esqueça de colocar uma oferenda para os deuses protetores da sua ilha.
Após consertar seu barco, você encontra uma criaturinha fofa que vai te acompanhar em todas as aventuras a partir daí, quando se torna seu momento de explorar os mares de Mara. E como tem coisa para explorar, hein? Mais de 20 ilhas diferentes, total liberdade para ir aos lugares que seu barco conseguir chegar, e mais de 20 personagens únicas, que vão te dar mais de 300 quests diferentes para fazer e descobrir um pouco mais da história de cada um.
O jogo consiste basicamente nesse ciclo de cuidar das coisas na sua ilha e explorar a ilha principal da região e as outras ilhas do lugar. Se você não visitar as ilhas, não consegue sementes e quests que te fazem avançar a história. Mas se negligenciar completamente sua ilha, não vai conseguir avançar na história, porque precisa cultivar suas plantações e fazer novas ferramentas, e esse ciclo sem fim é a alma do jogo, o que pode ser um pouco cansativo para algumas pessoas, por não ter ainda nenhum tipo de viagem rápida, exceto de qualquer lugar do mar para a ilha central.
Se Stardew Valley funciona bem por ter um calendário fixo, Summer in Mara se beneficia de não ter um. Se você quer acelerar o processo de crescimento de vegetais, basta dormir rapidamente várias vezes, e cada uma delas conta um dia. Se quiser aproveitar ao máximo os dias explorando, fazendo as missões paralelas, buscando novos animais, pescando peixes diferentes ou mergulhando em busca de tesouros, você também pode. Tudo no seu tempo. Tudo numa boa. Tudo sem pressa ou com pressa, dependendo da sua vontade.
Para se ter uma noção, conversando com jogadores que tiveram acesso antecipado, houve quem tenha terminado o jogo em 17 horas, houve quem passou das 40 e ainda não terminou. No momento em que escrevo este post, passei das 20 horas e estou um pouco à frente da metade da campanha principal. Não que ela não seja interessante, ela é, quero muito avançar e chegar nas partes de ação que o press release promete, quando diz que uma organização maligna quer explorar os recursos de Mara, mas todas as histórias paralelas que acontecem são muito interessantes, e é extremamente relaxante sair pelos mares de Mara e conhecer novos lugares.
A trilha sonora casa perfeitamente com o ambiente, e as personagens, apesar de não serem dubladas, são cheias de personalidade e diferenças notáveis. Além disso, o planeta no qual o jogo se passa tem espécies das mais diferentes, então é um deleite ver toda a criatividade da equipe de arte em ação.
O jogo não é perfeito, claro. Há vários pequenos defeitos que provavelmente não passariam despercebidos num jogo feito por um estúdio maior e, embora a maioria deles possa ser ignorada, alguns deles incomodam um pouco e atrapalham a curva de aprendizado. Menus e explicações que ajudariam o jogador a entender melhor o sistema fazem falta até o ponto em que deixam de ser necessárias, porque você já aprendeu. Receitas de alimentos e ferramentas poderiam ser acessadas o tempo todo, não apenas de sua casa, para você conseguir fazer uma lista de materiais necessários, e vários menus poderiam ser simplificados. O fato de não ter um minimapa ou de atualizar sua posição em tempo real também confunde em diversos momentos, e há situações nas quais você simplesmente não sabe o que fazer se perdeu alguma parte de texto. Além disso, apesar do jogo estar completamente traduzido para o português, há vários erros de digitação na versão nacional, além de um bug que trava o jogo, e você precisa mudar de idioma para conseguir ler o que está naquela parte em específico do jogo. São incômodos perceptíveis, mas que não tornam o jogo “injogável”.
O maior problema do jogo para mim, aliás, é algo que espero ver diminuído na segunda metade do jogo, que é o excesso de missões de busca. Você perde um tempo absurdo da sua vida indo e voltando de um lado a outro da ilha ou, pior, de uma ilha a outra do outro lado do oceano. Como já disse, não há formas rápidas de viagem, e em muitos casos, é frustrante receber uma missão que exige um item que você ainda não consegue obter. Complecionistas podem ter problemas com isso. As missões deveriam ter sido um pouco melhor escalonadas de forma que algumas só ficassem disponíveis depois de você conseguir a receita do item necessário.
Apesar disso, boa parte dos problemas relatados já foram corrigidos e enviados para a Nintendo para aprovação da atualização. De acordo com os desenvolvedores, atualizações demoram até duas semanas para serem aprovadas, então essa é a janela de tempo para boa parte desses problemas já estarem resolvidos. Mas vale a espera, caso você prefira a experiência melhorada. Além disso, há um canal do jogo no Discord no qual a maior parte da equipe (que tem menos de 10 pessoas) está presente, atenta, recebendo informações sobre bugs, e eles até disponibilizaram um documento online com a lista de problemas que já estão sendo ou já foram trabalhados. Inclusive, vou revisitar o jogo e fazer uma análise final e completa após terminá-lo e ver os problemas resolvidos.
De qualquer forma, Summer in Mara já é um jogo bom, ainda que seus bugs e melhorias necessárias atrapalhem um pouco da experiência no começo, você passa por eles ao mergulhar na aventura dos mares de Mara e no dia a dia da sua ilha. É muito bom ver o desenvolvimento real da Koa como personagem, a profundidade de várias personagens secundárias e como assuntos importantes são tratados de forma sensível e profunda. A demo do jogo, que consiste basicamente no “tutorial” (que não ajuda muito em nada, mas te permite ver muito bem como é a parte da ilha de Summer in Mara) está disponível gratuitamente, e ele está saindo pela metade do preço padrão de um jogo do Switch, então, especialmente quando a atualização sair, é uma boa recomendação para quem é fã de Stardew Valley, Harvest Moon e queria um pouco mais de aventura nas suas colheitas.
Embora precise ainda ser polido, Summer in Mara é um jogo surpreendentemente bom para um estúdio pequeno. Entrelaçando bem suas duas partes diferentes, ele oferece uma experiência que vale o seu tempo.
- Design
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