Fire Emblem Engage, de muitas formas, é uma celebração de toda série, incorporando elementos clássicos com novidades interessantes, aparições de personagens populares da série e uma quantidade considerável de conteúdo que, certamente, irá agradar seus fãs. O resultado final é um título com pontos fortes e fracos muito bem definidos e que irão atrair e afastar diferentes tipos de fãs da série.
Primeiramente, a história de Fire Emblem Engage pode ser considerada como uma das grandes homenagens às origens da série, contando uma história simples de um dragão do bem contra um dragão do mal e que seu conflito acaba por colocar todo um continente em estado de guerra. Seu personagem, Alear, é um dragão divino e que, após uma série de acontecimentos extremamente previsíveis, deve derrotar o dragão do mal que ressuscitou e ameaça o continente onde Alear e demais personagens vivem.
Uma história com moldes clássicos e mais simples, por si só, não é algo negativo, no entanto, é certamente um desafio criar uma história engajante e de qualidade utilizando conceitos que, largamente, já são clichês por serem utilizados por inúmeras obras. Em Fire Emblem Engage esse esforço para criar uma história envolvente foi, simplesmente, direcionado para todas as outras partes do jogo, pois a história, diálogos, interações entre os personagens não só remetem Fire Emblem clássicos de décadas atrás como parecem ter sido retiradas diretamente de um desses.
Recomendação de Compra
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Lançamento: 8/Out/2024
Considerando os últimos lançamentos da série, é um retrocesso enorme ter uma parte tão importante da experiência de jogo ser tão raquítica e até mesmo ruim. Fire Emblem Fates foi o que considerava mais fraco nesse ponto após a série ter sido ressuscitada com Awakening e, ainda assim, não me recordo de ser tão superficial como é em Engage. Várias interações entre personagens, por exemplo, tem pouquíssimas linhas e com um diálogo extremamente rígido, tornando muitas conversas desinteressantes ou, no pior dos casos, completamente artificiais. Infelizmente, a atuação dos atores (em inglês) segue a mesma linha, simplesmente lendo um script e sem muita consideração pela cena ou personagem em questão, mesmo que esses últimos sejam completamente unidimensionais em praticamente todos os seus aspectos.
O real desperdício quanto a história é que a mesma é responsável por colocar o jogador em cenários verdadeiramente interessantes de luta e que o design dos mapas fez um proveito excelente construindo desafios bastante variados para o jogador. A justificativa e narrativa para esses conflitos, no entanto, varia entre o regular e o péssimo, com momentos que me deixaram incrédulo e estupefato da forma como foram abordados. A história é certamente o elo fraco de todo o título e, portanto, Engage não é recomendado para aqueles que esperam uma experiência semelhante à Three Houses e que atraiu um público considerável com suas múltiplas histórias.
Em contrapartida, a jogabilidade estratégica de Engage é absolutamente fenomenal e uma das melhores na série inteira. A razão para isso é que Engage encoraja, de formas inteligentes, o jogador a utilizar suas mecânicas de forma correta e, da mesma forma, o penaliza duramente quando não segue essas regras. O triângulo de armas, por exemplo, continua presente e com as regras que fãs da série já estão familiarizados: Espadas vencem de machados, machados vencem lanças e lanças vencem espadas. A novidade é que é possível desarmar um oponente caso ataque com a vantagem do triângulo e isso abre espaço para que o adversário receba mais ataques sem a possibilidade de contra-atacar. Isso vale tanto para o jogador como para os inimigos, portanto, o jogador deve se atentar em utilizar de maneira eficiente o triângulo de armas, enquanto também se defende de ataques da AI que tentam fazer o mesmo.
Outro ponto importante é que as características intrínsecas dos personagens foram devidamente balanceadas e fazem com que as diferentes unidades tenham papéis bem definidos no combate. Unidades com armadura, por exemplo, sofrem pouco dano de ataques de armas normais, independente da vantagem do triângulo, e permite que esse tipo de unidade seja uma vanguarda para os demais. No entanto, armaduras são extremamente vulneráveis à magia, portanto, há a necessidade de se atentar com ataques mágicos. Cavaleiros com pegasus são ótimos tanques mágicos, mas vulneráveis a arcos e por aí vai. Ao contrário de muitos outros jogos da série, é difícil criar uma única (ou várias) unidades imunes a tudo e que podem ganhar um estágio por si só.
O Engage no título faz referência a principal mecânica do título, utilizar de anéis especiais capazes de invocar protagonistas e heróis de outros Fire Emblem. Cada herói tem uma série de status, habilidades e armas únicas e é possível equipar qualquer anel em qualquer personagem sem limitações. Cada anel tem várias mecânicas e características exclusivas e isso aumenta consideravelmente a gama de estratégias possíveis. Além disso, como é possível equipar qualquer anel com qualquer unidade, isso fornece uma gama incrivelmente variada de times viáveis para qualquer luta.
A combinação de todos esses fatores tornam Fire Emblem Engage um estupendo jogo de estratégia. As peças/unidades têm pontos fortes e fracos bem definidos e que precisam ser levados em consideração, a AI é inteligente o suficiente para utilizar dessas mecânicas, o level design coloca o jogador em situações variadas e o jogo também dá liberdade ao jogador para montar seu exército da forma que bem entender. O título também conta com opções que se tornaram padrões na série moderna como a possibilidade de voltar no tempo e consertar um (ou vários) turnos ruins e a morte permanente dos personagens ser opcional. Vale também ressaltar que a parte técnica do título está excelente desde o desempenho do jogo e até mesmo com a arte e parte gráfica que tiveram melhorias consideráveis se comparado com Three Houses.
Há alguns pequenos pontos que me incomodaram quanto à jogabilidade e são detalhes extremamente específicos. A narrativa progride entre os arcos de história de maneira muito, muito rápida e, consequentemente, o jogador adquire unidades de uma maneira muito rápida. Esse é um problema semelhante à Fire Emblem Radiant Dawn, em que o grupo de personagens obtidos no início do jogo é muito, muito mais fraco do que os obtidos depois e, virtualmente, se tornam inúteis a menos que o jogador invista um tempo considerável nos mesmos. Mesmo que o jogador opte por treinar essas unidades, a experiência adquirida também é consideravelmente mais baixa que títulos anteriores e inimigos de batalhas opcionais, muitas vezes, crescem de maneira muito mais rápida do que batalhas da história.
Apesar da possibilidade de se poder treinar e customizar seus personagens seja extremamente expansiva, a economia por trás dessas opções é bastante rígida. Existem várias mecânicas menores que influenciam status, otimizações, habilidades e muito mais e que, infelizmente, estão atreladas a minigames e/ou modos repetitivos. A quantidade de conteúdo de Fire Emblem Engage é absurdamente grande, especialmente considerando todos os modos de jogo disponíveis e que o título incentiva a serem rejogados até enjoar o jogador. O título certamente espera essa disponibilidade de centenas de horas caso deseje otimizar seu exército da forma que quiser e é algo que poderia ser ajustado para não ter requerimentos tão altos.
Jogo analisado com código fornecido pela Nintendo.
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