Guayota é um jogo com uma proposta bastante ambiciosa, centrada em uma mitologia raramente explorada no mundo dos videogames. Inspirado na cultura das Ilhas Canárias e na mitologia Guanche, o indie conta a história de uma busca pela mítica Ilha de São Brandão, oferecendo uma visão única de um folclore quase desconhecido. No entanto, a execução geral acaba se complicando devido ao excesso de elementos e a dificuldade em moderar suas ideias, resultando em uma experiência que se torna mais confusa e frustrante do que deveria.
Narrativa interessante, mas mal explorada
A premissa é realmente interessante e promete uma aventura cheia de descobertas culturais. Poucos conhecem a história das Ilhas Canárias e a mitologia Guanche (eu nunca tinha ouvido falar), então seria uma oportunidade perfeita para apresentar esses elementos de forma intrigante. Porém, Guayota se perde ao tentar contar essa história com diálogos e cenas longas e expositivas que acabam cansando.
Embora a intenção seja apresentar uma história rica em detalhes, a maneira como tudo é executado faz isso torna o processo maçante e pouco envolvente. Cada vez que uma nova cena se inicia, você já espera uma enxurrada de informações irrelevantes e maçantes que não acrescentam muito. A história muda relativamente entre os dois mundos existentes aqui, o que cria um conceito interessante e curioso. Se você visitar a mesma cutscene nesses dois ambientes, verá coisas diferentes.
Uma abordagem punitiva para os quebra-cabeças
A mecânica principal de Guayota é, em essência, um jogo de quebra-cabeças, onde cada novo nível oferece uma oportunidade de aprender mais sobre a mitologia Guanche ao resolver os desafios propostos. No entanto, o game adiciona uma camada de dificuldade que parece desnecessária ao te penalizar de forma rigorosa sempre que ele falha. Em uma gameplay de puzzles, é esperado que você experimente e aprenda com os erros. Geralmente, você tem a chance de tentar uma abordagem diferente se não conseguir resolver o quebra-cabeça na primeira tentativa.
A segunda chance aqui te pune de forma muito severa. Se o falhar, você se pega sendo transportado para um mundo alternativo onde a dificuldade aumenta exponencialmente. Esse ambiente é cheio de paredes invisíveis e dispositivos que ativam cores que só aparecem quando você chega muito perto, além de várias armadilhas que complicam ainda mais a resolução dos quebra-cabeças e te matam rapidamente. Você só consegue retornar ao mundo original se terminar essa punição na qual foi inserida. Uma vez terminado a fase, o personagem é enviado de volta ao HUB pra escolher a próxima área a ser enfrentada. Então, o ciclo acaba se repetindo demais.
Um excesso de complexidade e punição
O maior problema de Guayota é a sua tentativa de fazer muito em um único jogo. Ao invés de optar por uma abordagem mais simples, com quebra-cabeças diretos e uma história que seja fácil de acompanhar, o indie complica tanto a mecânica quanto o enredo, o que acaba tornando a experiência cansativa e punitiva sem precisar. Puzzles excessivamente difíceis, combinados com uma trama intrincada e cheia de reviravoltas desnecessárias, fazem com que o game perca o seu potencial de ser algo mais acessível e agradável. Não era nem um pouco necessário punir tanto o jogador com um mundo alternativo para que este o termine antes de voltar ao mundo original. No mais, o fator novidade aqui é rapidamente saturado, já que os elementos se repetem e apenas leve iterações são acrescentadas. No final, Guayota é um conceito se perde em suas próprias ideias.
Jogo fornecido para análise pela Dear Villagers.
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