O que acontece quando Harry Potter se mistura com Artemis Fowl? Não faço ideia, mas Hero U: Rogue to Redemption é um bom palpite do que poderia vir a ser. Chegando ao Switch depois de anos, Hero U: Rogue to Redemption traz todas as alterações e correções de bugs que fizeram na versão do PC, e é um port excelente, rodando muito bem no console.
Neste jogo, você assume o papel de Shawn, um jovem ladrão que é pego ao tentar roubar uma casa. Mas em vez de ser pego pela polícia, ele foi pego pelo famoso clichê de Dumbledore/Gandalf de um velho misterioso e barbudo que oferece a ele uma escolha: ele pode ir para uma escola e aprender a ser herói, ou pode ser preso.
Recomendação de Compra
Nintendo Switch – Modelo OLED (Branco)
Lançamento: 08/Out/2021
Com essas opções maravilhosas à sua frente, você entra na Hero-U, com o objetivo de se tornar um herói. Mas você não é bom pra nada. E quando não se é bom em ser nenhum tipo de herói, nesta escola, você é direcionado para a a turma dos bardos rebaixados. Na real, é uma turma de ladinos, mas não querem que a escola saiba, então é tão segredo que as outras turmas não fazem ideia do que você faz na escola. Ou seja, pra não ser preso por roubar uma casa, você foi para uma escola para aprender a fazer certo as coisas erradas (sim, eu sei que ladino e ladrão são duas coisas distintas, no sentido de que todo ladrão é ladino, mas nem todo ladino é ladrão, isso é bem falado no decorrer do jogo).
Falando em turma, a sua sala é composta de várias personagens cheias de personalidade própria e cores. São personagens profundas, com várias nuances, e é impossível conhecê-las todas na primeira vez que você joga. Isso acontece porque o jogo te força a tomar decisões. O tempo é contado, você tem 50 dias pra resolver as coisas, e as horas passam a cada atividade que você faz.
Então, se você passar muito tempo interagindo com as pessoas, vai perder tempo de treinar seu físico, suas habilidades de combate, agilidade ou capacidade de destrancar fechaduras, todas habilidades essenciais para um ladino. Ao mesmo tempo, se você focar demais em alguma coisa, pode perder outras, e tudo no jogo parece importante. Eu estou sempre levando bronca do professor por estar dormindo em sala, depois de ficar até o limite físico do Shawn fazendo alguma coisa pelo castelo à noite, e tentando que o zelador da escola não me pegue fazendo isso. Isso acontece porque a cada vez que você é pego fazendo algo que não deve, ganha deméritos, e ao receber 100 deméritos, você é expulso da escola.
Além da parte das aulas e da exploração da escola, o jogo também conta com uma masmorra clássica. A cada sala, inimigos maiores e mais fortes, e você precisa se manter treinando para conseguir ir a câmaras cada vez mais profundas e a descobrir diferentes mistérios na escola.
A primeira metade do jogo é meio entediante, porque é uma repetição de atividades de escola + atividades extras e interações, mas a história é intrigante o bastante (especialmente se você fizer bom uso de abrir fechaduras e invadir salas à noite para conseguir mais informações) para te carregara partir da segunda metade, que é quando o jogo realmente pega um ritmo muito bom. Os puzzles do jogo são bastante criativos, e alguns muito mais difíceis do que imaginei que seriam, mas aqui o jogo falha novamente em não te permitir manipular diretamente os objetos com a tela de toque. Outra melhoria que os desenvolvedores poderiam ter feito.
Sem dar spoilers do jogo, todos os possíveis finais são interessantes e surpreendentes o bastante pra serem memoráveis, então, novamente, vale encarar o jogo mais vezes, tomando decisões diferentes, pra saber como as coisas poderiam ser. Como será namorar a Katie ou o Joel, em vez da Esme? Não sei, vou descobrir. Há cinco opções diferentes de romance que não são limitadas pela espécie ou gênero, e isso é um ponto muito positivo do jogo.
Se você entende inglês, deve ter percebido que o subtítulo: Rogue to Redemption, é um trocadilho de “Road to Redemption”. Pois bem, trocadilhos são o que esse jogo mais tem. Alguns deles dão dor de barriga, outros são tão maneiros que me fizeram gargalhar sozinhe jogando.
No fim das contas, em 50 dias, você pode fazer Shawn deixar de ser um inepto total para um herói… do jeito dele. Aliás, do seu jeito. Isso porque todas as interações pessoais te permitem escolher como você vai responder. Vai tentar flertar? Vai fazer gracinha? Vai provocar o babaca da sala? Cada decisão tem um efeito de melhorar ou piorar a forma como as pessoas te vêm na escola, então, vale a pena voltar ao jogo para ver como as diferentes relações se desenvolvem com respostas diferentes. Cada vez que você passar pelo jogo deve levar entre 8 a 15 horas, dependendo do quanto de coisas você quiser fazer, então ainda vou fazer uma gameplay fazendo o Shawn ser grosseiro com todo mundo, só para ver o resultado.
E falando em gameplay, tirando o elefante da sala: o controle é horrível. A jogabilidade é horrível. Inspirado na clássica série Quest for Glory, inclusive, são os mesmos criadores, o jogo mantém a ideia de um point and click isométrico com câmera fixa. Essa era a melhor forma de interação com cenário nos jogos antigos, da série supracitada até jogos como Full Throttle, os primeiros jogos mais complexos usavam muito esse recurso. O problema é que num jogo moderno com câmera fixa, isso pode ainda funcionar no computador, com mouse e teclado, mas não funciona tão bem no console. Teria sido muito mais simples se tivessem permitido que a gente movimentasse o Shawn com o analógico esquerdo ou até mesmo com o direcional, já que eles só movimentam o ponteiro do “mouse” do jogo. Já o analógico direito serve pra mudar o nível do zoom da câmera.
Jogar no modo portátil é um pouco mais fácil, porque você pode ignorar que os controles existem e apenas tocar na tela, como se estivesse num tablet, mas os campos de texto são pequenos demais, e quem tem dedos um pouco maiores ou mais gordinhos, pode ter dificuldades na hora de fazer isso.
A principal diferença entre o modo dock e portátil, para mim, foi o tempo de carregamento. Curiosamente, as telas demoram bem mais pra carregar na TV do que fora do dock.
O som do jogo é muito bom, as músicas são agradáveis, há vários sons ambiente, mas ainda assim, poderiam ter caprichado um pouco mais em variar um pouco mais. Já os gráficos vão agradar algumas pessoas e desagradar a outras, não acho que haja um meio termo aqui. É um jogo com estilo gráfico clássico, focado em agradar fãs da série Quest for Glory, ao mesmo tempo em que agrada bastante a fãs de outros RPGs clássicos da mesma época.
Eu poderia falar muitas coisas a mais sobre o Hero-U, mas acredito que é um jogo que tem um público muito específico. Se você gosta de RPG, gosta de jogos clássicos e/ou quer saber como era jogar jogos de PC há algumas décadas, Hero-U: Rogue to Redemption é um excelente tributo aos clássicos e vale demais o investimento. Se você já não gosta desse estilo de jogo, a jogabilidade vai provavelmente te fazer cansar antes de você conseguir se interessar pela história.
Jogo analisado com cópia gentilmente cedida pela Transolar Games
Hero-U: Rogue to Redemption é uma ótima homenagem aos clássicos RPGs isométricos point and click do passado. A jogabilidade ruim pode afastar quem não é muito fã do gênero, mas a história é muito interessante e com vários caminhos possíveis para sua jornada.
- Design
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