Os antigos adventures de Point & Click faziam muito sucesso, especialmente no final dos anos 90 e, como os jogos de qualquer outro gênero, possuíam suas qualidades e defeitos.
Grim Fandango, por exemplo, traz diálogos genuinamente engraçados, mas também alguns quebra-cabeças sem nexo que interferem na fluidez do jogo. Gabriel Knight tem uma atmosfera envolvente, mas você tinha que escolher uma interação para cada ação que fosse realizar. Full Throttle tem uma arte incrível, porém é extremamente curto e também sofre com puzzles ilógicos.
O que aconteceria se pegássemos o que cada um dos jogos mencionados possui de melhor e removesse seus defeitos? É isso que Lamplight City, produzido pela Grundislav Games, fez.
Recomendação de Compra
Mario & Luigi: Brothership
Lançamento: 7/Nov/2024
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O complicado de analisar jogos adventures é que qualquer assunto relacionado à sua história é um potencial spoiler. Mas qualquer jogo que começa com um caso onde um ladrão invade uma floricultura esporadicamente, rouba algumas flores e deixa o dinheiro no balcão, já traz uma ideia da criatividade do enredo e dos mistérios que o jogo traz.
O primeiro caso, que move as engrenagens deste atmosférico ambiente, já é chamativo por si só. Conforme o jogador avança na história na pele do detetive Miles Fordham, mais informações sobre um universo único é revelado, trazendo um contexto genuinamente original neste steampunk que traz uma versão alternativa do nosso século 19, fazendo diversas analogias à nossa realidade, entre elas a automatização e substituição de postos de trabalho por máquinas.
O jogo também toma liberdades em trazer questões sociais atuais em sua história, como racismo e intolerância à religião e a orientação sexual. Bill, o detetive e amigo do protagonista, por exemplo, lança comentários de tempos em tempos dando entender que não possui uma orientação sexual heteronormativa, mas nunca deixando claro essa informação, trazendo diálogos que, somados as ótimas atuações de vozes, são orgânicos e realistas. Apesar de não se aprofundar nas questões sociais, elas pintam um quadro muito mais crível deste universo, trazendo um traço ainda mais humano para a já bela arte dos personagens do jogo.
E as artes de encher os olhos se encontram no cenário também, que lembram muito os antigos adventures tão aclamados da LucasArts, porém com resolução que se adequam aos monitores atuais. Graficamente o game é lindo na telinha do Switch e continua maravilhoso quando jogado na TV, com cores vivas e desenhos detalhados. A única contrapartida em relação ao visual do jogo estão nas fontes que, quando jogados na televisão, ficam embaçadas e ruins de ler.
Porém, o que mais impressiona são os personagens e suas interações com o cenário. O jogo é todo desenhado, e quando você realiza uma ação, a proporção do personagem na tela e sua ação com o objeto sempre são orgânicos, diferente de muitos jogos antigos da qual os objetos da qual dava para interagir pareciam saltar do cenário (quem aí não lembra das portas dos cenários nos clássicos Resident Evils?).
[bs-heading title=”Jogabilidade e fluidez na medida certa” show_title=”1″ icon=”” title_link=”” heading_color=”#00a7eb” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″ bs-text-color-scheme=”” custom-css-class=”” custom-id=””][/bs-heading]
É notável a inspiração que o jogo traz do primeiro Gabriel Knight, especialmente na exibição isolada dos retratos dos personagens ao entrar em um diálogo. Porém, Lamplight City remove todos os defeitos da fonte que bebe. Ao invés de puzzles impossíveis, somos sugados para um jogo simples e direto. Apesar de quebra-cabeças aqui e ali, o jogo fica focado em diálogos, encontrar itens e visitar locais, trazendo uma velocidade e fluidez muito necessária nos tempos atuais para esse gênero.
Além disso, ele simplifica a mecânica, o que é um ponto muito positivo. Em Gabriel Knight e Full Throttle, o jogador deve clicar na interação (falar, olhar, investigar, pegar, etc.) e depois clicar no objeto da ação (pessoa, item, etc.), o que fazia da progressão desses games um verdadeiro perrengue, aumentando significantemente o tempo (e o tédio) de jogo. Isso ocorria porque, se o jogador ficasse preso em um ponto, ele teria que realizar diversas ações diferentes com um mesmo objeto até achar o que deveria ser feito para avançar. Em Lamplight City, essa mecânica é simplificada. Quando o jogador insere o cursor em cima do objeto, o protagonista automaticamente já sabe se é para olhar, falar, investigar, etc… assim deixando o game mais fluido e rápido. O jogo também conta com uma caderneta para você averiguar informações. As anotações são todas curtas e diretas, com o objetivo de ajudar o jogador quando precisar de um lembrete caso esteja empacado no game.
Porém, ele não é livre de defeitos. Um dos problemas do jogo é que você não tem um inventário, e como o jogador, por vezes, pega objetos para destravar um novo diálogo com um dos muitos personagens do jogo, ou então para resolver algum quebra-cabeça, pode ocorrer do jogador deixar passar batido por não lembrar de ter pego o objeto antes e, sem um inventário para ver os itens que possui no bolso, emperrar no game, mesmo tendo o item em questão para avançar.
Outro fator da qual, para evitar Spoilers, terei que ser vago, é que um certo personagem faz diversos comentários rápidos de cunho sarcástico em cada objeto que você decide investigar. Apesar de conectar com um ponto crucial da história e ser, na maioria das vezes, engraçado, para nós, jogadores, ter que escutar toda hora se torna cansativo rapidamente.
O mais incrível, porém, é que Lamplight City não é linear. Eu zerei o jogo achando ter sido um bom detetive só para descobrir que acusei a pessoa errada no final das contas! E não somente isso, mas por ter acusado alguém erroneamente, personagens próximas ao suspeito evitaram com que eu encontrasse pistas no caso seguinte. É sutil e genial essas nuances do jogo.
Esse fator também aumenta o valor de replay, que é um ponto fraco nos adventures criados nos moldes antigos. Somado a essas escolhas que alteram o fator da história, está a capacidade de passar rapidamente os diálogos e transições de tela, assim podendo finalizar o game de forma rápida novamente. Mas é aqui que encontramos o revés também: Algumas ações, e quais passos realizar primeiro, não são claras, o que faz da aquisição do melhor final mais um caso de sorte do que de dedução lógica.
Ao concluir cada um dos 5 casos do game (além do principal), o jogador fica com diversas escolhas na mão, da qual alteram as próximas cenas, até mesmo ao encontrar o suspeito certo. E o mais interessante é que, ao adquirir todas as pistas e acertar as escolhas dos diálogos chave, você visita novos lugares, adquire novas pistas e conhece novos personagens. As possibilidades são inúmeras e muito interessantes, nunca parecendo uma desculpa quando você acusa a pessoa errada (eu realmente achei ter prendido a pessoas certa na primeira vez que zerei!).
Lamplight City corrige todos os defeitos dos antigos Point & Clicks e reforça os pontos fortes do estilo, entregando um pacote completo e gratificante para os amantes do gênero. Suas pequenas falhas não são o suficiente para estragar a experiência do jogo que, inclusive, ficam escondidas diante de tantos acertos. Mas, como todo adventure, seu público consumidor é extremamente nichado e cada vez menor, sendo recomendado para os amantes do gênero e, arrisco dizer, também para jogadores que não fazem parte deste nicho mas buscam por um game atmosférico com uma história marcante e envolvente.
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