A sequência do jogo Ni No Kuni finalmente chegou ao Switch, depois de alguns após sua primeira aparição na plataforma da Sony, o PlayStation. Com isso, todo o conteúdo extra veio acompanhado (The Adventure Pack, The Lair of the Lost Lord e The Tale of a Timeless Tome, além de equipamentos adicionais), além de alguns ajustes para que o game seja otimizado para o hardware do console da Nintendo. Tendo em mente que a sequência de Ni No Kuni: Wrath of the White Witch não teve a mão atuante do Studio Ghibli por trás, o quanto de qualidade ela consegue esbanjar sem uma direção do estúdio japonês?
Novo mundo e novos personagens
Ni No Kuni II: Revenant Kingdom Prince’s Edition traz novos personagens, os quais são completamente diferentes do primeiro Ni No Kuni Wrath of the White Witch. A história se passa muitos anos depois do primeiro game e começa com um viajante do tempo, especificamente um presidente do mundo moderno, que volta ao passado justamente no momento em que está acontecendo um golpe de estado no reino de Ding Dong Dell, o qual passava por um longo período de paz e tranquilidade.
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O aparente protagonista, Roland, dá de cara com o suposto rei Evan, um garoto bastante novo de idade duvidosa o suficiente para ser considerado o verdadeiro dono do trono. Depois de perceber que seus guardas o tentaram atacar, o pequeno garoto se alia à Roland e ambos planejam uma fuga dali o quanto antes. Mais à frente ambos encontram a governanta Aranella, basicamente a cuidadora de Evan, a qual une-se ao grupo e lança um feitiço em Roland para que ele aprenda a usar habilidades, além de que conta que a figura que está aplicando um golpe de estado no reino é uma das pessoas (ou rato) de maior confiança do falecido Rei Leonhard: Mausinger, o conselheiro.
Após eventos iniciais, Evan coloca na cabeça o objetivo de reconstruir seu reino e fazer com que o local seja bom o suficiente para que todos possam ser felizes morando ali. Para isso, ele contará com a ajuda de Roland e seus amigos para essa jornada, além de vários personagens durante a jornada que farão alianças importantes com o novo mundo de Evan: o reino de Evermore. Portanto, a história de Ni No Kuni II gira em torno de Evan e sua missão de reconstruir o seu lar, além de que o garoto lutará contra suas emoções e momentos de desesperança, precisando enxergar o poder do companheirismo em seus amigos.
O RPG de ação sem elementos de Pokémon
Diferente do primeiro game, Ni No Kuni II traz um estilo de combate bem mais focado em ARPG, com movimentação totalmente livre e ataques frenéticos que te permitem intercalar com o desvio de golpes de inimigos e uso de itens a qualquer momento do confronto. Existem monstros alados também que se tornam mais difíceis de serem acertados, mas felizmente todos os personagens são dotados de uma arma secundária com tiros à longa distância que podem ser ampliados em termos de intensidade, como a pistola de Roland que veio do futuro com ele, a varinha mágica de Evan e o arco de Tani.
Primariamente, cada personagem pode carregar até 3 armas de curto alcance em seu equipamento. Elas possuem uma porcentagem que vai subindo quando estão em segundo plano nas batalhas, devendo ser alternadas toda vez que seu número atinge 0%, o que representa a sua eficácia. É uma mecânica um tanto quanto desnecessária, mas que pode ser simplesmente ignorada ao ativarmos a opção de Troca Automática.
Fora isso, temos as habilidades especiais de cada membro, que podem equipar até quatro ao mesmo tempo. Esses poderes possuem efeitos elementais, que podem ser utilizados como vantagem contra inimigos de tipos específicos. Obviamente, podemos controlar todos os personagens da equipe durante uma batalha, utilizando o D-pad para trocar entre eles.
Vários membros podem compor sua equipe, porém, apenas três podem participar da ação e serem utilizados por vez. Mesmo assim, o restante dos personagens ficam em segundo plano e são tratados como reservas, trazidos para a linha de frente apenas fora de batalhas no menu principal. Isso acaba sendo um pouco decepcionante, já que seria interessante a substituição dos membros durante confrontos, pois ampliaria a estratégia.
Secundariamente, temos a ajuda dos nossos companheiros Higgledies, que são criaturinhas feitas a partir de elementos da natureza que resolveram criar pernas e braços. Esses bichinhos possuem as mais variadas formas e servem para dar apoio durante os combates. Eles conseguem utilizar ataques contínuos e efeitos positivos para a equipe (como uma esfera de escuridão ou uma área de cura), servindo como verdadeiros ajudantes em todos os momentos em um embate. Para ativar a ajuda dos Higgledies, basta entrarmos no círculo azul ao redor deles, o que representa que estes estão prontos para realizar uma ação, e então seu efeito será executado.
Depois de uma vitória, os inimigos deixam cair itens que podem ser coletados pela equipe. Caso não consiga pegar todos até o fim da música de vitória e o confronto tenha sido no mapa durante a exploração, estes itens ressurgem para que tenhamos uma segunda chance.
Enquanto caminhamos no mapa, as batalhas surgem depois de uma animação e um pequeno loading que representa a transição, diferentemente de locais dentro de ambientes fechados. Neles, o combate inicia-se naturalmente, algo bem parecido com o que Final Fantasy XII já fazia muitos anos atrás. Por isso, o tom fica um pouco diferente e até monótono em momentos de exploração no mapa, já que existe essa quebra de ritmo para iniciar o confronto.
Elementos secundários que somam
Nem só de batalhas vivem nossos habitantes de Evermore. Ni No Kuni II apresenta mecânicas inéditas, como o Skirmish e o gerenciamento do reino. O Skirmish é composto por bandeiras fincadas em locais no mapa, e basta interagirmos com elas para iniciarmos batalhas épicas. Aqui, comandamos Evan e suas tropas, cada uma delas tendo sua classe própria, a qual pode ter desvantagens e vantagens sobre outras. As mecânicas envolvem rotacionar suas tropas ao redor do líder para direcionar o ataque, além de que podemos utilizar habilidades e efeitos em nosso grupo.
A maioria das ações do Skirmish consome uma quantidade de pontos ilustrados no topo da tela, o qual serve também para restaurar suas tropas caídas em batalha. Por isso, não apenas a ação, mas também a estratégia será um elemento chave nesses momentos. Essas batalhas também fazem parte da história principal, expandindo pouco a pouco a quantidade de classes que possuímos.
A segunda mecânica é a de gerenciar Evermore. O novo reino de Evan precisa ser reconstruído, e por isso é necessário avançarmos na história para encontrarmos novos personagens para o local. Além do enredo, missões secundárias também concedem novos moradores para nossa (inicialmente) pequena vila ao redor do lago. É possível construir estabelecimentos como restaurantes, lojas de itens gerais, ferreiro, toca do caçador e afins para que uma quantia maior de dinheiro entre sempre em nosso “cofre”, o qual será usado para ampliar as construções dali. Fora isso, itens usados diretamente em nossos membros da equipe são adquiridos também em Evermore.
Porém, não é indicado colocar qualquer personagem para gerenciar um estabelecimento, mas é necessário ver qual deles se encaixa melhor no local. Alguns tem dotes mais para o lado da culinária, enquanto outros possuem uma habilidade especial em criar armas novas ou conjurar novos feitiços para que nosso grupo aprenda a usar em batalhas. O gerenciamento de Evermore é até interessante e se encaixa bem na história, mas às vezes a vontade é de apenas pular todas as falas e cutscenes.
Apesar de bastante backtracking no mapa de Ni No Kuni II, existem portais (dentro de cidades e zonas fechadas também) no mapa que servem como pontos de viagem rápida. Para habilitarmos eles, basta interagirmos uma vez com um brilho azul que desbloqueia o local no menu de Trip Door. Isso vem bastante a calhar e economiza um tempo valioso, já que a distância entre uma missão e outra por aqui não é brincadeira, na maioria das vezes.
Um tom bastante diferente de seu antecessor
Para quem estava acostumado com Ni No Kuni: Wrath of the White Witch e sua pegada que se aproximava bem mais da franquia Pokémon, aconselho a adquirir essa sequência tendo em mente que a jogabilidade é completamente diferente. Os combates em turno foram dizimados, dando lugar a um Action RPG bastante frenético e, algumas vezes, quase bagunçado com tanta coisa acontecendo na tela. Felizmente, a gameplay fala bastante comigo, mas pode desapontar os fãs de Ni No Kuni 1 que embarcarem nessa jornada sem muita informação.
Sobre a versão para Nintendo Switch, diria que a resolução é bem competente e os visuais continuam bastante bonitos, assemelhando-se bastante à qualidade vista em sua versão original para o console da concorrência. Porém, verdade seja dita: a performance não é das melhores. Os momentos mais dolorosos são no mapa, e lá os quadros por segundo despencam de uma forma absurda. Existe também um delay nos controles e até no menu do mapa, o que decepciona bastante pela falta de otimização. Porém, em todo o resto, apenas existem quedas de fps em combates com muitos inimigos ou efeitos visuais na tela, mas nada que atrapalhe a jogabilidade ou sua taxa de sucesso nos confrontos.
Por fim, apesar de parecer muitas vezes enrolada, a história de Evan e a construção de seu novo reino é bem engajante. É como se estivéssemos assistindo um longa metragem do Studio Ghibli, já que o humor, o ritmo em que as coisas acontecem e as reviravoltas são bem características das obras cinematográficas do estúdio. Por isso, Ni No Kuni II: Revenant Kingdom Prince’s Edition é uma excelente pedida para fãs de Action RPG, mas ainda mais para aqueles que são amantes das obras dos responsáveis por clássicos como A Viagem de Chihiro.
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