Pipistrello and the cursed yoyo, o mais novo trabalho do estúdio brasileiro Pocket Trap. Novamente com um apelo à nostalgia e à infância como característica principal do seu título. Seu primeiro trabalho, Dodgeball Academia(você pode ler a análise dele aqui) onde o foco principal era um esporte bastante jogado durante a infância de muitos, a queimada, em volta da qual toda a narrativa gira, em um ambiente bem familiar para o jogador, principalmente se você vive no Brasil. Pipistrello já emprega isso no seu título, Pipistrello and the cursed yoyo, apresentado como um ioiôvania onde a jogabilidade é toda volta de um ioiô, um brinquedo cotidiano da infância de muitos.
Não tinha notado esse detalhe até começar a escrever essa análise, mas mostra muito que as inspirações da equipe vem de suas experiências, vivências e tentam refletir a realidade de uma maneira que eles gostam de fazer, com muita descontração e algo mais.
Originalmente lançado para o Pocket Trap System, felizmente foi portado para o Nintendo Switch.
A aventura começa com Pippit, jogador profissional de ioiô, retorna a cidade natal de sua família, os Pipistrello, onde sua tia madame Pipistrello criou um império com sua indústria de energia fornecida pela essência de rosas misteriosas, que são capazes de abastecer a cidade de forma bem eficiente. Porém a ganância da Madame Pipistrello é grande, e a energia tem um preço alto, o que faz com que outros empresários da cidade se voltem contra ela utilizando sua própria tecnologia para transformá-la em uma fonte de energia infinita, por sorte, o pequeno Pippit acaba interferindo, e parte da alma de sua tia vai parar em seu ioiô e em algumas baterias gigantes. Enfraquecida, a única esperança de Madame é seu sobrinho recuperar as baterias para restaurar sua alma e seu corpo, derrotando os responsáveis em seus territórios e munidos das mega baterias.
Um começo bem impactante mesmo que um pouco batido, mas ainda impactante. Apesar da breve introdução desse universo, é uma boa montanha russa de acontecimentos. Uma vez que, com poucos diálogos, a história e seu visual colocam a Madame Pipistrello como um personagem forte e, em uma fração de tempo, tudo muda, e agora sua vida está na mão de seu sobrinho.
A história de Pipistrello and the cursed yoyo é bem criativa: não simplesmente vamos pela cidade atrás do objetivo mas a conhecemos e como ela foi afetada, tanto pelos vilões com a ajuda das mega baterias. Aprendemos como ela era antes disso, com uma divisão em vários bairros que fazem referência a alguns locais conhecidos de São Paulo e suas características reais, algumas até demais.
Tenho que deixar aqui um elogio a Pocket Trap por criar um universo com personagens tão criativos e, ao mesmo tempo, tão reais (e não são poucos; mesmo fora do enredo principal existem muitos personagens que falam ou agem de forma única e com uma pitada de crítica). Dá pra perceber o empenho da equipe no enredo.
A jogabilidade de Pipistrello and the cursed yoyo é toda baseada em desafios de plataforma que utilizam o ioiô de Pippit (com a alma de sua Tia) para passar por diversos cenários e combates. Parece simples de começo, mas ainda no tutorial dá pra ver o potencial dessa jogabilidade, já que o item amaldiçoado é mais que um mero brinquedo a ser jogado para frente e voltar. Afinal, Pippit é um profissiona, então aquela manobra que você já viu ou fez com um ioiô vai aparecer em algum momento, e até mais que isso.
Como foi feito originalmente para o pocket trap system, tanto seu combate quanto movimentação são bidirecionais, onde só podemos movimentar em formato 2D, na vertical ou na horizontal de cada vez, ou seja sem movimentação diagonal, mas, para compensar isso contamos com quinas que fazer movimentos como curvas ou alcançar lugares estreitos. O ioiô é o núcleo dessa jogabilidade claro, e todos os aprimoramentos são truques dele, criando muitos quebra-cabeças diferentes e que não se resumem apenas a ajudar a abrir saídas; os próprios desafios de plataforma pedem o tempo perfeito de execução, pois o jogo conta com dano ambiental, o que pode ocasionar em muita e muitas mortes. Pipistrello and the cursed yoyo conta com um sistema de dificuldade bem acessível, no qual você pode alterar e até remover algumas coisas, como o dano de queda. Mas se você quer um recomendação que facilite ,jogue com um controle que tem as setas analogicas separadas, como o próprio joy-con do Switch, isso ajuda demais em momentos de precisão e evita muita frustração.
O sistema de combate e melhorias de Pipistrello and the cursed yoyo é um pouco frustrante mas não é de todo mal: tem um leque de habilidades que podem ser usadas mas algumas delas só pode ser equipadas uma por vez, e acaba que elas têm mais utilidade na área aprendida do que no resto do jogo. Algumas nem podem ser muito utilizadas sem ficar exposto, mas dá pra entender que é para evitar abuso desses ataques.
A luta contra chefes é um pouco longa e talvez bem frustrante se você seguir uma rota muito linear Mesmo explorando bem, não melhora muito, algumas são divertidas, mas algumas são extremamente repetitivas ou complicadas e, se você morrer, boa sorte voltando desde o início. Embora a exploração possa ajudar bastante na luta contra chefes e nos combates em geral, o sistema de melhorias por outro lado não parece ajudar tanto. Para conseguir melhorias, Pippit assina um contrato, e metade de todo novo dinheiro é usado para pagar mas, enquanto isso, ficamos com alguma desvantagem que pode diminuir sua vida, não achar cura, perder ataque e perder espaços para equipar bottoms. Parece um pouco punitivo demais e não compensa tanto em algumas escolhas. Muita vezes, peguei melhorias só para seguir na árvore de melhorias para pegar algo que queria mais à frente, mas isso torna a jornada bem mais difícil do que deveria. Apesar disso, se quiser pode pedir reembolso do contrato.
No fim Pipistrello and the cursed yoyo não é um jogo que te deixa “rushar” a campanha tão facilmente. Prestar atenção ao seu equipamento e ao comportamento dos inimigos é crucial, o que pode te fazer retornar várias vezes no esconderijo. Uma coisa que Pipistrello and the cursed yoyo não faz é segurar na sua mão e te ajudar. Nada de tinta amarela ou outra indicação por aqui, descubra por conta própria o que está fazendo de certo ou errado. Ou ajuste a dificuldade com os modificadores, ninguém vai te julgar.
Pipistrello and the cursed yoyo é todo em pixel art, mas não impede de ter um nivel bom de detalhamento e resolução, tudo é bem colorido e animado, com muitos detalhes nos cenários e, claro, cheio de referências. Cada cenário tem suas características, deixando claro onde você está sem deixar se confundir com outros cenários, mas isso não te impede de se perder, e é para isso que existe o mapa.
A trilha sonora é bem animada e segue o estilo 16 bits do gráficos, embora não consiga lembrar nada mais que me marcou, além da trilha sonora da mansão inicial e os barulhos que o Pippit faz quando morre.
O desempenho é uma parte que me pegou de surpresa: um jogo leve e de cenários separados por salas não deveria ter problemas de desempenho; porém Pipistrello and the cursed yoyo dá algumas engasgadas em alguns lugares, e não dá pra entender muito o motivo, pois a maioria nem tem tanta informação, talvez o tamanho da sala? Vai saber. Não são muitas salas, mas mesmo assim é perceptível quando se entra e tem uma queda drástica de quadros. Fora isso, tudo é bem fluido e responsivo dentro do que o jogo se propõe.
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