Se tem um jogo que quase qualquer pessoa que tinha um computador nos anos 90 já jogou foi Prince of Persia. O jogo no qual você ia e voltava de um lado pro outro (e morria o tempo todo), tem uma legião de fãs, e agora (depois de 13 anos sem jogos novos), chega à nova geração no próximo dia 15/01, com Prince of Persia: The Lost Crown. Trazemos em primeira mão a visão do jogo.
Sobre Prince of Persia: The Lost Crown
Prince of Persia é uma das franquias mais antigas do mundo dos jogos. O primeiro jogo, que saiu em 1989, foi portado 20 vezes diferentes, o que faz dele (pelas minhas contas) o terceiro jogo mais portado da história, perdendo apenas para Tetris e Pac Man, e foi inspirado por várias fontes, incluindo as histórias de Mil e Uma Noites e os filmes de Indiana Jones e Robin Hood. A franquia, para quem não sabe, inspirou outra, Assassin’s Creed.
No decorrer das últimas mais de três décadas, ele já passou por basicamente todo tipo de dispositivo que consegue jogar um jogo, de computadores a consoles, de celulares a geladeiras, você consegue jogar pelo menos algum jogo da série em algum lugar, e teve até filme do jogo, mas, depois de um período no qual saiam jogos anuais no começo dos anos 2000, estávamos sem um título novo desde Forgotten Sands, de 2010 (nesse meio-tempo, tivemos um remake e um jogo pra celular que é uma tipo uma versão lateral de Temple Run).
Desde 2001, a Ubisoft é a responsável pela franquia, e em junho de 2023, durante a Summer Game Fest, tivemos o anúncio de que Prince of Persia: The Lost Crown estava em desenvolvimento, e, em alguns dias, ele estará disponível para ser jogado em todos os consoles, e nos PCs.
História
A história de Prince of Persia: The Lost Crown começa quando o reino da Pérsia é atacado e está à beira da destruição. No papel de Sargon, o membro de um clã chamado Os Imortais, você usa suas espadas duplas, Layla e Qays, para matar os invasores e vencer a batalha. Depois, você é condecorado pela Rainha Thomyris, e vai celebrar com os outros Imortais, mas no meio das comemorações da vitória pírrica conquistada a duras penas, o Príncipe Ghassan é sequestrado por Anahita, mestra de Sargon, e arrastado para o Monte Qaf, local de uma antiga cidade que é lar de Simurgh, Deus do Tempo e Conhecimento, que é quem escolhe quem é digno para governar a Persia. E adivinha quem tem que ir atrás de resgatar o príncipe? Isso mesmo, você, no comando de Sargon.
Problema é que Simurgh está desaparecido há mais de 30 anos, e o tempo está fluindo completamente errado no Monte, agora que uma maldição tomou conta do lugar. Você encontra pessoas que entraram ontem e já envelheceram 30 anos, e outras que parecem ser eternas lá dentro. Você precisa enfrentar não só os inimigos que habitam o local como também, em alguns momentos, você de outra linha do tempo ou algum dos outros Imortais, tudo em busca de encontrar e salvar o Príncipe e restabelecer a paz do Reino da Pérsia.
No caminho, você vai encontrar não só NPCs úteis, como a fofinha da Fariba e o misterioso e estranho Coletor da Lua, mas também penas deixadas por Simurgh, que ativam os chamados Poderes do Tempo, que te dão habilidades extras ainda mais fortes, e necessárias para avançar em alguns pontos. Além disso há também o Refúgio, um lugar onde você pode sempre voltar para melhorar seu equipamento, treinar para melhorar suas habilidades de combate, comprar itens novos ou obter dicas de para onde ir a seguir, além de poder desbloquear missões paralelas (e o jogo tem exatamente nove delas).
No total, a missão principal leva mais de vinte horas para ser concluída, e você vai conhecer treze biomas distintos dentro do Monte Qaf, onde você enfrentará mais de sessenta inimigos únicos, incluindo nove bosses, enquanto tenta juntar seis Poderes do Tempo diferentes para ajudar a acessar áreas antes impossíveis ou lutar melhor.
Além disso, as personagens parecem seres (humanos ou não) reais, com personalidade e profundidade, que te faz querer saber mais sobre, desde Os Imortais até os NPCs frequentes, em especial aqueles que te dão Missões Paralelas longas.
Não posso falar muito da história de Prince of Persia: The Lost Crown sem fazer spoilers, mas ela é empolgante, interessante, imersiva, cheia de reviravoltas, e te faz querer avançar e descobrir como será o fim.
Um detalhe que não tem a ver diretamente com o jogo, mas caso vocês se interessem por belas histórias, os nomes das espadas de Sargon, Layla e Qays, são tirados de uma das histórias mais lindas da Literatura Persa, Layla e Majnun. Recomendo muito a leitura, especialmente se você gosta de narrativas em forma de poema (mas há versões em prosa também).
Jogabilidade
Seguindo o padrão dos melhores jogos da franquia, Prince of Persia: The Lost Crown é um Metroidvania à moda antiga. Você tem um mapa gigantesco com áreas que não pode acessar até conseguir certos poderes ou dar a volta de outras formas para liberar acesso.
Cada um dos biomas diferentes do jogo traz características próprias que os diferenciam dos outros, mas as diferenças são, na sua maior parte, estéticas. Há alguns obstáculos específicos de alguns biomas, mas no geral, é o padrão de Metroidvania: você se move para a direita, esquerda, cima e baixo, encontra caminhos secretos, derrota inimigos e chefes, conquista novos poderes, volta para lugares anteriores e por aí, vai. Falando nisso, uma das características mais legais é que você não precisa tirar prints ou fazer anotações fora do jogo. Há uma mecânica que te permite marcar pontos de interesse dentro do próprio mapa.
Conforme você derrota inimigos, e para cada tipo de inimigo, você vai precisar de uma estratégia diferente, não dá só para brincar de atacar sem pensar neste jogo, você vai acumulando Athra, que é o poder espiritual que te permite dar ataques mais poderosos. Além disso, caem Cristais do Tempo de cada inimigo derrotado, que é o que você vai usar, primariamente, para comprar suas melhorias. Há outros itens que também servem como moedas de troca, especialmente para as melhorias de níveis mais altos, mas todas sempre precisam de Cristais de Tempo também. Se seu Sargon estiver fraco demais para algum boss do jogo, basta voltar, derrotar inimigos (que, na maioria das vezes, renascem assim que você deixa a área deles), até ter Cristais suficientes para comprar a melhoria necessária.
Isso vai te fazer voltar várias vezes ao Refúgio, o que não é um problema, já que o jogo conta com vários pontos de viagem rápida, que te permitem ir para lá rapidamente, comprar o que é necessário, e voltar para o que você estava fazendo.
A jogabilidade é intuitiva e fluida, com os movimentos mais complexos sendo uma evolução natural dos mais simples. O treinamento dado por Artaban, o Mestre das Espadas dos Imortais, vai te ajudar a entender melhor os combos que você pode executar e até onde vão seus poderes, inclusive os poderes de bloqueio e esquiva, que são essenciais contra alguns inimigos.
Mais que isso, Prince of Persia: The Lost Crown te permite uma variedade de estilos de jogo que é muito bacana em algumas frentes diferentes:
A primeira delas são os amuletos. Você pode equipar alguns (são 38 no total) no colar de Sargon, que vão fortalecer suas espadas, seus ataques no ar, ou seus ataques com as flechas, por exemplo. Ou você pode equipar amuletos que aumentem sua vida, suas defesas e sua capacidade de desviar.
Além disso, no Abrigo, você pode melhorar suas armas e amuletos com Kaheva, a Deusa da Forja, mas como alguns dos recursos são limitados, você vai ter que escolher qual caminho prefere seguir; vai fortalecer Layla e Qays, e usar combos poderosos com elas, ou vai usar seu Arco de Menolias como arma principal e tentar manter inimigos longe de ti?
Por fim, você também tem os poderes de Athra, dez deles no total, que mudam completamente o que você pode fazer nas lutas: alguns melhoram suas capacidades ofensivas, outros melhoram suas capacidades defensivas, outros te permitem mais tempo para fazer certas atividades, e por aí vai. Como você só pode equipar dois por vez, e eles têm custos diferentes de Athra para serem usados, você vai precisar testar com várias builds diferentes até encontrar os Poderes que se adequam ao estilo que você escolheu jogar.
Com tanta variedade nas formas de jogar, Prince of Persia: The Lost Crown, é um jogo que tem um fator replay muito grande, não só para descobrir os segredos deixados na primeira vez, como também para experimentar novas formas de jogar.
Independente do seu estilo escolhido, existem dois modos diferentes de jogo: Exploração e Guiado. No modo de Exploração, você tem o mínimo de informações possível no seu mapa, e terá que descobrir por conta própria qual é o caminho a ser seguido. É o modo ideal para jogadores experientes em Metroidvania.
Já se esse é seu primeiro jogo do gênero, ou você não tem muita experiência (ou quer jogar de forma mais fácil), você pode optar pelo modo Guiado, que adiciona marcadores ao mapa, como seu próximo destino e caminhos inexplorados e bloqueados.
O mais legal é que você pode alternar entre esses dois modos a qualquer momento nas Opções do jogo, então, caso sinta que um modo está difícil ou fácil demais, pode alternar sem impactar nada no seu progresso.
O que impacta no progresso, mas também pode ser modificado a qualquer momento, caso alguma parte esteja fácil ou difícil demais, são os níveis de dificuldade. Além de quatro níveis padrão, você ainda pode personalizar para si o quanto quer sofrer de dano do ambiente ou de inimigos, o quanto você causa de dano e o quanto de vida seus inimigos têm. Isso permite, novamente, experiências diferentes a cada vez que jogar o jogo.
Quero destacar aqui as opções de acessibilidade do jogo. A Ubisoft fez um excelente trabalho permitindo que cada pessoa consiga deixar o jogo no nível de dificuldade ideal para suas habilidades e/ou capacidades. Desde assistência para passar pelas partes mais difíceis de plataforma do jogo (como aquelas que precisam de reflexos rápidos, que podem ser difíceis para pessoas com alguns tipos de deficiência), a modos de alto contraste, para pessoas daltônicas ou com dificuldade de visão, passando por assistência de mira, tamanho do HUD ou escolha de fonte, Prince of Persia: The Lost Crown é um jogo que pode ser aproveitado por quase qualquer pessoa.
Parte Técnica
Jogos que são lançados em todos os consoles e PC sempre causam uma preocupação a usuários do Switch. Podem descansar suas cabeças: a Ubisoft se preocupou conosco também na hora de fazer este jogo. No modo portátil, ele roda a 720p e 60 fps, enquanto no dock, roda a 1080p e 60 fps.
Eu tenho a primeira versão do Switch, que é a piorzinha de todas, e ainda assim, o jogo só teve quedas de framerates, extremamente leves, e quase imperceptíveis, em dois ou três momentos, e nenhuma delas em situações que me fizeram perder ou cair ou levar algum golpe por causa disso. O carregamento entre as telas, quando necessário é rápido e, no geral, o jogo flui lisinho mesmo com muitos inimigos na tela, e as cutscenes são lindas e 100% dubladas.
Prince of Persia: The Lost Crown é um jogo 2.5D, o que significa que os cenários são todos em 3D, apesar da movimentação 2D. E esses cenários são estupendos. A arte do jogo é magnífica, cada bioma, como falei antes, é distinto e muito bem desenhado, a atenção aos detalhes aqui é muito clara.
As personagens também foram feitas de forma distinta. Ninguém parece ser uma versão copia e cola de outra pessoa, como acontece em alguns jogos com muitas personagens. Cada Imortal, cada NPC importante, cada inimigo, tudo é muito distinto. Sim, você tem inimigos que têm versões variantes em outros biomas, mas eles são a minoria. A maioria tem características próprias bem definidas. Sargon também tem opções de visuais diferentes, mas não afetam nada no jogo, só o deixam mais bonito de ver.
Os sons do jogo são incríveis, a mixagem de áudio (que ainda vai melhorar) está linda, e você pode escolher o volume de cada coisa, o que torna a experiência ainda melhor. A música contribui para a imersão e acompanha o nível de tensão de cada momento, a dublagem das personagens é maravilhosa, em todos os idiomas que experimentei ouvir.
Falando em idiomas, a dublagem do jogo está disponível em inglês, francês, alemão, espanhol e, a melhor de todas para mim, persa. Eu amei jogar o jogo em persa, mesmo sem entender o idioma, a imersão fica ainda maior.
Já em relação aos textos, legendas e menus do jogo, as opções são ainda mais variadas. Além das já citadas, temos opção de português, francês, italiano, polonês, russo, árabe, persa, japonês, coreano e os dois tipos de mandarim, tradicional e simplificado. Não posso falar dos idiomas que não conheço, mas dos que conheço, a tradução no geral é muito boa, contando com apenas um ou outro detalhezinho confuso, mas que não interfere em nada no jogo.
Importante saber que o jogo vai ter um patch no dia do lançamento, que trará um balanceamento ainda maior das lutas no geral, trará melhorias ao modo Guiado do jogo e à interface, melhorará o mix de audio, e resolverá alguns bugs gerais.
Conclusão
Prince of Persia: The Lost Crown faz valer a pena a espera de 13 anos por um novo jogo da franquia. É a experiência perfeita, tanto de Prince of Persia quanto de Metroidvania, seja você fã, seja esse seu primeiro jogo do tipo.
Análise feita com cópia gentilmente cedida pela Ubisoft.
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