Meu interesse foi imediatamente capturado com o anúncio de Triangle Strategy, novo SRPG pela Square-Enix e que remetia a séries clássicas como Tactics Ogre e Final Fantasy Tactics. De fato, o jogo têm muitas semelhanças com essas séries: Uma história voltada a tramas políticas em meio a um período de guerra, um foco em indivíduos e suas motivações e objetivos para lutarem, além de uma jogabilidade estratégica que abre espaço para muitas possibilidades dependendo de quais unidades o jogador opte por favorecer. Triangle Strategy, no entanto, vai além de suas inspirações e constrói sua própria identidade e, consequentemente, isso acarreta numa variedade de pontos fortes e fraquezas.
A história se inicia com um acordo de paz entre os três reinos de Grenbrook, Hyzante e Aesfrost e com a promessa desses três reinos de trabalharem juntos na exploração de uma mina que pode trazer uma grande prosperidade para o continente. Após uma descoberta misteriosa na mina, o acordo é rompido e o continente de Norzelia se vê, novamente, em uma grande guerra. Nesses tempos difíceis, o jogador irá acompanhar a jornada de Serenoa Wolfort, filho único de uma casa nobre de guerreiros do reino de Glenbrook e, também, o homem mais indeciso do continente.
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Lançamento: 8/Out/2024
Um dos diferenciais de Triangle Strategy está no fato que certas decisões em pontos chaves da história alteram seu andamento e conclusão de maneira drástica. Ao chegar em um desses pontos de decisão, Serenoa utiliza da balança da convicção para definir qual caminho seguir. A balança funciona como uma votação simples: A maioria vence. Serenoa confia moedas, os votos, a 7 personagens mais próximos dele e o resultado decidido pela maioria é o que será seguido por todos.
Apesar da opção pela democracia e mesmo sem voto próprio, isso não significa que Serenoa não tenha influência na votação. Como um bom cabo eleitoral, Serenoa pode tentar convencer os personagens para que escolham uma opção específica de acordo com a vontade do jogador. No entanto, para isso, é necessário argumentos ou informações obtidas e, algumas vezes, os personagens irão se segurar arduamente a suas convicções e nada irá fazê-los mudar de pensamento. A argumentação também é influenciada pelas convicções do próprio Serenoa, essas sendo alteradas durante o jogo por meio de pequenas escolhas, conversas e outras ações durante a exploração e o combate.
O fato de Serenoa (e consequentemente o jogador) não tomar a decisão final, faz com que esse possa ficar a mercê das decisões do jogo. Em minha experiência, uma única decisão que não concordava acabou sendo feita e, mesmo depois de várias tentativas de alterar o resultado, acabei tendo que ceder e ver a história por um caminho que não escolheria no momento. Independentemente das decisões, há muitos momentos em que as rotas se unem novamente para então se divergirem em outras possibilidades. Em sua conclusão, há um número finito de finais e um que pode ser considerado o verdadeiro.
Certamente, a narrativa é um dos pontos fortes de Triangle Strategy, mas também um dos pontos onde o título mais demonstra inconsistências. Nem todas as rotas vão ter um desenvolvimento e conclusão de maneira gratificante ou sequer convincente, o que certamente pode desanimar jogadores a acompanharem a jornada até sua conclusão. Há muitos momentos na história que os resultados das escolhas são imprevisíveis (o que é, francamente, excelente para um jogo assim), mas o jogo se esforça tanto em demonstrar mais tragédias e colocar o jogador em situações cada vez mais difíceis que, por sua vez, todo o cenário acaba por, gradativamente, se tornar cada vez mais forçado e difícil de empatizar.
Um dos principais comentários que vi acerca de TS é sobre sua grande quantidade de texto, especialmente durante as cenas que ocorrem entre as batalhas principais de cada capítulo. De fato, a leitura é parte integral da experiência de TS e uma que irá compor uma parte considerável do tempo de jogo. No entanto, para a complexidade da história que os desenvolvedores criaram, sinto que TS deveria ter ainda mais texto para detalhar acontecimentos na história, motivações, escolhas, entre muitas outras coisas. Em sua, a história é certamente um dos grandes atrativos de TS, mas uma que também tem seus pontos que poderiam ser melhorados.
Em uma reclamação particular, a VA em inglês é absolutamente péssima e optei por jogar utilizando a VA em japonês que é, de fato, muito boa. No entanto, há um número considerável de divergências entre o roteiro japonês e a tradução em inglês e que afetam, principalmente, os eventos opcionais com diferentes personagens. Se o roteiro original em japonês pode ser considerado “seco” em termos de detalhes, a tradução em inglês opta pelo caminho contrário, colocando inúmeros detalhes e enfeites na forma de falar que muitas vezes não estão lá. Devo ressaltar que a história principal não é tão afetada por isso (lembro que encontrei uma única frase que não foi traduzida corretamente no meio do jogo), mas esses detalhes durante os cenários menores foram algo que me incomodou em relação a como o título foi localizado.
Assim como a história, o combate de Triangle Strategy é um de seus pontos fortes, mas que também contém seu número de inconveniências. Vamos direto ao ponto: As mecânicas estratégicas e os vários sistemas que as compõem são excelentes e abrem um leque de opções bastante abrangentes. A jogabilidade é de um SRPG baseado em velocidade, ou seja, o personagem com maior velocidade se move primeiro e, dependendo de suas ações, deverá aguardar mais até seu próximo turno, um estilo de turnos semelhante a Final Fantasy Tactics e muitos outros SRPGs. Outro diferencial, é que cada personagem jogável possui sua própria classe e seu próprio conjunto de habilidades, fazendo com que cada unidade seja uma peça única no combate.
Talvez o grande diferencial do título perante a outros SRPGs é na influência do clima e do terreno perante o combate. Por exemplo, um clima chuvoso faz com que poças de água se formem no chão e que, por sua vez, são ótimos condutores de eletricidade de uma magia de trovão. Posicionar unidades em um campo de grama pode ser perigoso porque o inimigo ou o jogador pode utilizar de um ataque de fogo e causar um incêndio que pode se alastrar e causar um sério dano a unidades inimigas e aliadas. As combinações climáticas não são muitas, mas abrem um leque interessante de possibilidades em cada combate. O jogo também incentiva os jogadores a utilizarem esse sistema, com mapas que facilitam bastante a vida do jogador caso saiba utilizá-los de maneira apropriada.
O grande leque de opções viáveis faz com que Triangle Strategy seja um excelente jogo de estratégia e, ironicamente, sua parte RPG e o balanceamento dela é seu ponto fraco. Existem muitas unidades interessantes, mas a viabilidade de suas habilidades e mecânicas únicas é drasticamente sabotada pela existência de níveis e pelo balanceamento da melhoria de armas no ferreiro. Aumentar o nível de todos os personagens é uma tarefa possível em batalhas opcionais, mas uma que também requer uma quantidade considerável de tempo por parte do jogador e, algumas dessas unidades, são muito mais úteis em mapas extremamente específicos durante a história. A melhoria de armas pelo ferreiro garante uma variedade de bônus para os status e habilidades, além de liberar uma habilidade especial em seu último nível. No entanto, o custo de materiais cresce imensamente a cada melhoria feita na arma de um personagem fazendo com que seja mais eficiente investir em múltiplas unidades. Isso, no entanto, vai na direção oposta ao sistema de níveis e ao baixo número de personagens que podemos levar ao combate, fazendo com que o balanceamento dessas mecânicas não se adequem muito bem. Em suma, TS é um excelente jogo de estratégia, mas o balanceamento de sua parte RPG pode resultar em muitas horas de grind desnecessário para o jogador.
Jogo analisado com código fornecido pela Nintendo.
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