Depois de duas gerações ofertando experiências online gratuitas, a Nintendo anunciou em janeiro de 2017 que seria necessário pagar para usufruir de alguns serviços no Switch. Depois de um período beta de 18 meses, finalmente veremos o serviço lançar em setembro deste ano. Mas será que a assinatura valerá a pena?
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O serviço oferecido
O carro chefe do serviço é algo que já está disponível durante este período inicial teste, e que sempre foi gratuito desde 2005, no DS: Jogatina online. Cobrar por este serviço não é novidade, afinal a Microsoft vem fazendo isso desde 2002 e a Sony desde 2013, mas é a primeira vez que a Nintendo entra na brincadeira.
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Eu não sou contra cobrar por online. O prospecto de ter um serviço melhor é animador, já que sempre fomos assombrados por péssimas conexões, matchmaking inconsistente e a falta de um serviço padrão de comunicação entre jogadores nas gerações anteriores. A Live é paga desde seu lançamento em 2002 e a justificativa para isso sempre foi um serviço confiável e de melhor qualidade, rodando em servidores parrudos que, obviamente, custam caro.
Mas é aí que vem minha preocupação: Será que a Nintendo tem o know-how para desenvolver um serviço bom ao ponto de cobrar seus usuários por isso? Temos que dar o voto de confiança à empresa, mas eu entendo que ela reservou 18 meses para que pudéssemos testar e verificar a qualidade nós mesmos, e sinceramente eu não posso dizer que ela satisfez.
Primeiramente, o Switch ainda não oferece paridade de recursos básicos com serviços que estão a 16 anos no mercado, alguns inclusive gratuitos. Não há usernames para adicionar seus amigos e também não há um sistema de mensagem e conquistas globais. E o que é pior: Alguns recursos básicos, como criação de salas e chat por voz, estão delegados a um aplicativo de smartphone do qual eu não achei sequer uma crítica positiva pela internet. Se esses 18 meses vem sendo um beta para o serviço, é como se a Nintendo tivesse ignorado todo o feedback de seus usuários. A situação só fica pior ao saber de que o DS permitiam chat diretamente do console, e o Wii U permitia adicionar pessoas por usernames.
Segundo, não sabemos se esses servidores e a estrutura de conexão será realmente boa. A Nintendo tem uma história muito flutuante no assunto. Se por um lado jogos como Mario Kart 8 funcionam relativamente bem, títulos como Smash Bros. sempre foram um desastre. Eu não sei se nesses 18 meses, com a quantidade ainda relativamente pequena de usuários, tivemos a prova de que tudo ocorrerá bem, então ainda nos resta a dúvida.
O próximo produto oferecido é algo que também está presente na concorrência a um tempo: Jogos “gratuitos”. Coloco entre aspas porque não tem nada de gratuito nisso. A solução da Nintendo aqui é oferecer 20 jogos de NES para seus assinantes, cada um com uma função online básica integrada. Enquanto isso, a Microsoft oferece, apenas neste mês de maio, Streets of Rage (um jogo retrô de Mega Drive), Vanquish (um jogo de Xbox 360) e a dupla Assassin’s Creed Syndicate / Phantom Pain (dois jogos da geração atual, de 2015). Eu não consigo deixar de ficar um pouco decepcionado pelo caminho que a Nintendo seguiu.
Não me entenda mal, eu adoro a geração 8-bits da Nintendo, inclusive meu console favorito da empresa é o Famicom (com o Disk System, melhor ainda). Mas temos que entender que estes são jogos que a empresa já colocou a venda, no mínimo, 5 vezes (contado os originais e os relançamentos no GBA, Wii, 3DS, Wii U e Classic Edition) durante um período de 35 anos. Inclusive quando ela quis pedir “desculpas” às pessoas que comparam o 3DS por preço cheio no lançamento, ela deu jogos de NES e GBA, talvez porque tenha achado que só os de Nintendinho não eram o suficiente.
Mas o que seria interessante ela oferecer? Bem, para começar os jogos de SNES que ela havia prometido antes do anúncio realizado nesta segunda-feira. Caso houvesse algum jogo de N64 seria ótimo também. Mas porque apenas jogos retrô? Porque não adicionar certos títulos que estão fora do radar ou até algum indie mais antigo? 1,2 Switch e Bomberman seriam opções excelentes! Afinal, não é isso que a concorrência faz? Sem contar que jogos de 35 anos atrás nem sequer contam no orçamento de U$ 20 anuais, então os esforços da Nintendo são realmente pequenos aqui.
A grande surpresa do anúncio de ontem foi a possibilidade de enviar saves para o servidor. Esta função está presente na PSN e na Live, sendo que nesta última o serviço é gratuito. Esta talvez seja a funcionalidade que mais me empolgou, mas ela só o fez porque, aparentemente, esta é a única forma de fazer backup de seus saves! Até os consoles da Sony, que cobra pelo serviço, permitem que façamos cópias de nossos saves pelo USB, mas o Switch não! É uma atitude um pouco forçada da Nintendo, a meu ver. Porém, divago. Não sabemos ainda como o upload vai funcionar, tendo em vista que o site da Nintendo não deixa claro que será algo disponível para todos os jogos.
E, por último, temos as “ofertas especiais”. Sério, quem é que vai cair nessa? Não sei vocês lembram, mas a Nintendo prometeu a mesma coisa no Wii U, onde quem comprasse a versão deluxe (preta, com 32 GB) do sistema ganharia descontos especiais em jogos. Sabe quantas vezes isso aconteceu? Nenhuma. E mesmo se acontecer desta vez, a palavra Nintendo + promoção nunca significa algo que mereça alguma atenção.
Errata: Como nosso leitor Vinicius Celestino bem nos lembrou, a promoção realmente existiu, mas só durou até final de 2014 e dava um crédito de U$ 5 para cada U$ 50 gastos na eShop.
Mas e aí, vale a pena assinar?
Pois é, até agora fiz minha análise sem levar em conta o preço que será de fato cobrado pelo serviço. Sim, são U$ 20 por ano, um terço do valor cobrado pelos seus concorrentes.
Os U$ 20 cobrados inclui jogar online, cloud saves e 20 jogos de NES. É um terço do que a Microsoft cobra por seu serviço, mas também oferece muito menos. Por U$ 60 a Live te dá uma seleção de jogos retail todo mês, incluindo grandes hits de um ou dois anos atrás, além de jogos retrô no mesmo estilo da Nintendo. A Microsoft não cobra por saves online, simplesmente porque o impacto disso no servidor é tão pequeno que nem sei como a dupla Nintendo/Sony tem coragem de cobrar seu assinantes.
A vantagem na oferta da concorrência é que ela diminui o quanto que você vai gastar com jogos ao longo da vida útil do console. Alguém que passe dois anos sendo assinante vai ganhar tantos jogos que o dinheiro investido em lançamentos com certeza vai diminuir. Não podemos dizer o mesmo do Switch, a não ser que você tenha comprado um apenas para jogar jogos de NES, mas duvido que seja o caso.
Algo interessante é que a Microsoft tem um serviço chamado Game Pass, que custa U$ 10 e te dá 100 (isso mesmo, cem!) jogos logo de cara. E não é qualquer jogo, a lista é composta por títulos de peso como Halo 5 e Gears of War 4, além de lançamentos, vários títulos de 360 e até mesmo do Xbox original. Se a Microsoft faz isso com U$ 10, o que impede a Nintendo de reservar U$ 5 ou até U$ 2 do valor da assinatura para algo mais substancial? No final, a Nintendo considera esses jogos como um pequeno “agrado”, um tipo de bonus, e não um produto integral do serviço. É uma jogada de marketing que infelizmente muitos fãs não estão enxergando!
Ok, vamos resumir então: Seremos cobrados U$ 20 (em torno de R$ 75) anualmente por um serviço que temos pouquíssimo conhecimento de sua estabilidade, realizado por uma empresa que até então tem um péssimo histórico no assunto, que nos obriga a usar um segundo aparelho para realizar funções básicas e onde os jogos oferecidos são tratados como “brinde”, algo tirado do baú para tentar dar mais valor ao tal produto.
No fim do dia, estamos pagando pelo que estamos recebendo: Um serviço que não é sequer ótimo, quem dirá excelente, em nenhum de seus recursos. Algo “barato” no pior sentido da palavra.
Ok resmungão, o que a Nintendo precisa fazer para valer a pena?
Primeiramente trazer atualizações básicas para o sistema do Switch e, enfim, ter uma certa paridade com os videogames pós 2005. Isso seria abolir os friend codes, introduzir chat por voz e mensagens no console, desenvolver alguma forma de backup de dados eficiente e gratuita (pode manter os cloud saves dentro dos U$ 20, caso isso aconteça) e, por fim, introduzir um sistema conquistas.
Depois, é necessário agregar valor ao serviço em si. Um gameplay online estável já vale metade do valor do cobrado. Não temos como mensurar esta performance no momento, mas quando Smash Bros. chegar ao Switch (provavelmente junto com o serviço online, em setembro) teremos uma ótima prova inicial de fogo. Depois disso, teremos que ver como os jogos das third parties vão se sair. Depois de 18 meses de beta, eu não aceito problemas generalizados em setembro.
Por fim, faça algo além do jogos de NES. Como disse antes, mesclar com jogos de outros console já seria meio caminho andado, e ofertar jogos de SNES e 64 não pesam no bolso da Nintendo. Se seguir este caminho, nem precisaria fazer parceria com desenvolvedoras para colocar seus jogos no acervo, mas título indies fora do radar seriam maravilhosos.
Mas há alguma vantagem neste modelo?
Sim. Basicamente tira dos usuários de Switch o peso de pagar um valor extra por algo que talvez não queiram usar, que neste caso seriam os jogos dados mensalmente. Esta estratégia seria ótima caso a empresa tivesse oferecido um serviço de assinatura para jogos de forma separada. Desta forma quem apenas quisesse o online e cloud saves pagaria por isso, e quem quisesse uma biblioteca rotativa de jogos virtuais pagaria separadamente ou exclusivamente.
No modelo atual, a empresa tentou fazer os dois num mesmo pacote, oferecendo um valor reduzido e que infelizmente não parece ser excelente em nenhum dos casos.
Mas a Nintendo tem algo a se preocupar?
Essa é a parte irônica de toda a discussão. Sejamos francos, ninguém vai deixar de pagar pelo serviço, simplesmente porque ninguém quer deixar de jogar online, sendo ele bom ou ruim. A Nintendo nos deu um pirulito e, enquanto saboreávamos, ela nos avisou lembrou que temos que pagar U$ 20. Um pirulito que talvez não vale isso tudo, mas que não queremos largar.
A Nintendo conseguiu o que queria: Depois de introduzir na cabeça de todo mundo um valor unitário sem muito contexto de sua qualidade/funcionalidade, mas que parece “barato” porque custa 1/3 do valor da concorrência, ela faz qualquer coisa (inclusive funções básicas que deveriam fazer parte do próprio sistema, como os Cloud Saves) parecer lucro. E realmente é mais barato que os demais, mas isso não significa que o valor cobrado corresponde a uma boa qualidade.
Concluindo
O conceito de caro ou barato é bem relativo. Um Renault Kwid e um Fiat Mobi são carros baratos, mas só temos esta idéia porque o restante do mercado custa o dobro ou o triplo de seus valores. No sentido prático, é difícil dizer se a qualidade deles justifica seu preço. Será que podemos falar o mesmo do serviço online do Switch? Talvez sim, talvez não, mas quem decide isso é realmente quem vai coçar os bolsos. O que você acha?
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