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Universo Nintendo

Análise – Akiba’s Trip: Hellbound & Debriefed

A história do herói que salva o dia tirando a roupa de todo mundo

Você já teve aquela leva de jogos, na época do PSP, que chamavam sua atenção e que nunca chegaram a dar as caras no ocidente? Muitos deles sequer foram localizados para nossas terras, e muito provavelmente por causa de suas premissas malucas demais para que o povo ocidental compreendesse. Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified é um desses games perdidos do PlayStation Portable, que foi localizado para o idioma inglês e chegou ao Switch agora para que todos possam desfrutar de sua loucura otaku – ao menos aqueles que entendem inglês.

Vampiros e muita Otakice

Loucuras Otakus

Trazendo uma area bastante icônica do Japão em Tokyo, mais conhecida como o centro otaku, Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified conta a história do nosso personagem genérico que foi mordido por um vampiro (aqui chamado de Shadow Soul, mas vou chamar de vampiro pra facilitar), e foi abandonado em um beco em seguida, tendo sua vida salva por uma outra vampira que compartilhou seu sangue conosco. Porém, um grupo de “caçadores” bastante peculiar chamado Freedom Fighters encontra o jovem e o resgata.

Mas as coisas não acabam de forma tão hospitalar assim, e nosso protagonista acorda amarrado em uma cadeira dentro de um local referido como Corporação NIRO, tendo sua cooperação exigida para caçar e destruir esses vampiros, que se tornam assim após serem mordidos. Ah, aliás, agora você também é um deles, ao mesmo tempo que precisa caçá-los. Quem já assistiu o anime Tokyo Ghoul vai perceber alguma semelhança entre ele e Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified, no âmbito de que caçamos exatamente aquilo que nos tornamos recentemente.

Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified é um jogo que me lembra um pouco a franquia Yakuza, mas de uma forma bem mais rasa e superficial. Podemos explorar cenários contidos com algumas lojas aqui e ali, além de alguns NPCs para conversarmos com, e estabelecimentos que vendem artefatos diversos. A transição entre cenários acontecem através de um loading e uma seleção de local na tela de mapa, sendo que cada beco, esquina, estação de trem ou avenidas famosas da área ambientada em Akihabara são pequenos pontos possíveis de transitarmos por.

História cativante para fãs de animes

Beat 'em Up 3D

Como um fã de muitos elementos da cultura japonesa e, principalmente, de animes e mangás, Akiba’s Trip fala muito comigo. Como citado anteriormente, a história me lembra bastante Tokyo Ghoul, até mesmo como muitas das coisas são concluídas aqui me trazem essa ligação. O jogo possui finais diferentes, que são apresentados de acordo com algumas de suas escolhas nos diálogos. Felizmente, a partir de um certo ponto, é possível simplesmente salvar o progresso para, a partir dali, ver os finais disponíveis. Além do mais, ao terminar o enredo, um modo New Game Plus é desbloqueado, além de novos modelos de personagem são liberados para serem usados.

Apesar das tomadas de decisões levarem a conclusões bastante previsíveis – especialmente se você for alguém familiar com animes e afins -, a história e os personagens conseguem falar com a gente, fazendo com que nos apeguemos e nos sintamos mal, dependendo da escolha que fizermos. E, sim, tudo isso é possível mesmo com gráficos incrivelmente ultrapassados, mas é justo dizer que o voice acting em inglês tem bastante crédito nesse quesito.

Beat ‘em Up 3D para poucos

Desnudando pessoas

Em alguns minutos você irá perceber que Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified trata-se de um Beat ‘em Up. Como sua missão é identificar e caçar as sombras/vampiros, a comandante dos Freedom Fighters nos dá um sensor para identificá-los, instalado em nosso smartphone para que possamos clicar fotos e saber quem está fingindo ser um ser humano comum. Para tal, basta ver quem simplesmente irá desaparecer em uma foto. Porém, mais à frente isso se torna um pouco menos necessário, pois as pessoas começam a reconhecer seu personagem em público, chamando-o por algum apelido qualquer como The Ripper – ou qualquer outro título que você receber, como medalha, e equipar -, o que achei interessante por me remeter a jogos como Fable, do Xbox. É um elemento dinâmico bastante simples, mas que casa muito bem com a história, pois as batalhas acontecem mais frequentemente sem precisar sacar o celular do bolso para identificar os impostores, e existe um contexto para tal.

Porém, aí chegamos na parte mais interessante, engraçada e, ao mesmo tempo, frustrante de todo o jogo: o combate. Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified também se parece remotamente com Yakuza, nesse aspecto, mas nem de longe esbanjando a qualidade e precisão que a franquia tem em seus confrontos corpo-a-corpo. Aqui, os controles se dividem em 3 níveis: alto, médio e baixo, cada qual com sua capacidade de debilitar partes específicas do corpo do adversário. Seu objetivo é enfraquecê-lo o suficiente para tirar sua roupa. Isso mesmo que você leu: “gotta strip ‘em all!”. Arranque suas peças de roupa à força através de um minigame de esmaga botão, ou faça isso através dos seus socos até chegar ao ponto de remover tudo facilmente com uma ação rápida.

Equipamentos

Quando você deixa o outro personagem totalmente nu (na verdade, de roupa íntima), ele é atingido pelos raios solares e é eliminado completamente, resultando em ganho de experiência e seus objetos caídos no chão esperando para serem pegos. Ah, aqui também somos avisados de que remover a roupa de pessoas sem a premissa de caçar vampiros é algo pervertido e criminoso, portanto fique alerta. A polícia também pode lhe prender ao notar que você está tentando desnudar alguém, e até mesmo se alguém estiver fazendo tal coisa contigo e você nem estiver revidando – complicado esse senso de justiça.

Podemos equipar itens ofensivos e roupas geral no personagem, sejam estes objetos adquiridos em batalhas – seres humanos reais concedem suas respectivas peças de roupa -, o que é divertido e instiga a lutarmos sempre, ou através da compra de muitos desses itens nas próprias lojas. Esse elemento também é bem usado em algumas missões de disfarce, nos obrigando a nos vestirmos como parte do bando daquele que estamos perseguindo para o enganar e capturar, por exemplo.

Câmera

É possível comprarmos novas habilidades nas lojinhas locais, que nos concedem novos combos e vantagens sobre certos tipos de roupa para que estas sejam removidas mais facilmente. Fora isso, existe a mestre que treina o protagonista em um telhado de um edifício de Akihabara, ensina novos golpes para remover trajes específicos e coloca nossas habilidades à prova através de 3 rounds consecutivos contra oponentes vampiros. É necessário visitá-la de tempos em tempos para aprender novos grupos de movimentos.

Além do mais, conosco temos nosso smartphone, nosso faz-tudo que disponibiliza as configurações do jogo, perfil do personagem, uma lista de afazeres, mochila de itens e aspectos gerais de Akiba’s Trip. Porém, não há qualquer tipo de log da história, retrospectiva de eventos, perfil de personagens e coisas do gênero, o que seria bastante útil caso você revisite o game após um longo intervalo de tempo e esqueça tudo o que aconteceu. Erro crasso.

Premissa interessante, queda violenta

Quartel general

Tudo parece muito interessante, diferente e maluco, não? Porém, o combate parece ter vindo de algum jogo da era PS1 e Nintendo 64 de tão arcaico que é. Tudo é muito travado, nada responsivo e bastante impreciso. Existem os golpes básicos que são executados esmagando botões, e os de remoção de roupas que acontecem ao segurarmos o X, Y ou A, como dito, mas é extremamente comum o jogo reconhecer que você segurou um botão em vez de apenas pressionar, porque tudo é bastante sem precisão e confuso.

A câmera é uma das piores que já vi, também, e tenta simular o comportamento de um jogo de luta 3D com a visão apontada para o adversário. Movendo para os lados, seu personagem faz um movimento lateral em relação ao inimigo, mas isso depende muito do ângulo em que a câmera estiver naquele exato momento, o que resulta em movimentos constantemente acidentais.

Também não há um sistema de travamento manual de mira no oponente, então você se pega tentando acertar golpes muitas vezes e acaba errando o personagem porque a câmera fica tentando travar automaticamente o tempo todo, talvez até mesmo te fazendo colidir com um NPC inocente. Também é possível executar um golpe depois de pular, mas boa sorte tentando direcionar esse ataque corretamente. Quando precisamos enfrentar um grupo de vampiros, então, nem se fala: é uma humilhação e massacre em público o quanto apanhamos – e essa é uma situação comum nas missões principais. O pior é que se faz necessário chegarmos bem próximos do adversário para acertá-lo, o que expõe muito mais o personagem e o torna um alvo fácil, quase inutilizando ataques que não sejam utilizando armas e outros apetrechos.

Já em termos de remasterização, a versão atualizada do jogo original de PSP mostra-se um tanto quanto descuidada e sem capricho. A interface de usuário claramente é algo vindo do console portátil da Sony, sem um grande trabalho feito em cima para ser modernizada. As telas de loading também foram alteradas, já que antes mostravam propagandas e sites que provavelmente não existem mais, mas que agora dão lugar a fotos em baixíssima qualidade – parece que alguém pegou algo em 4k e diminuiu sem ajustar a resolução – do centro de Akihabara com algumas curiosidades sobre o local e sobre o jogo em si. Sei que o produto é um remaster e não um remake, porém, isso mostra o quanto a segunda opção teria sido um caminho mais agradável e apropriado.

Fotos em resolução bizarra

Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified também é bem burocrático na questão de save e equipamentos. Tudo isso é feito apenas através do mapa, obrigando o jogador a sair do local onde está para fazer algo tão simples. Também não existe uma miniatura dos itens que você possui na mochila, fazendo-se necessário consultar a enciclopédia interna do game e fingir que tem uma memória fotográfica.

Finalmente, também existem alguns bugs irritantes que fazem com que NPCs fiquem travados em paredes ao fugirem, além de um outro em que seu personagem corre na parede como um ninja – esse último não sei dizer se é algo proposital. A inteligência artificial também é bem ruim, e muitas vezes pessoas em locais variados correm em sua direção ao te virem e simplesmente ficam esbarrando infinitamente no protagonista. E não menos importante, temos as quedas de framerate absurdas que ocorrem durante ambientes com mais de 2 personagens em tela, resultando em uma lentidão tremendo e impossibilidade de controlar o que está acontecendo.

Uma franquia interessante que merecia mais carinho

Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified mostra sinais claríssimos de sua idade e do quanto sua gameplay é ultrapassada, até mesmo para sua época (2012). Seus controles são duros e imprecisos ao extremo, além de possuir um combate pra lá de ruim e monótono. A premissa, apesar de previsível, chega a ser engraçada e única, coisas sobre as quais não tenho nada a reclamar. A história é bastante interessante, e te faz relacionar muito com algo inspirado em animes e mangás, mas acaba desanimando qualquer um por causa de sua terrível jogabilidade. Existe uma sequência que foi lançada para o PS Vita, e vários elementos já se mostram melhor ali, principalmente em termos de jogabilidade.

Em vez de um remaster, o jogo merecia um tratamento melhor através de um remake, com melhoria de interfaces, visuais mais caprichados e com menos cara de upscaling. Isso daria até mesmo um novo sopro de vida para a exploração, já que os cenários do mapa não permitem entrarmos de fato em lojas e afins, dando lugar a menus e listas de seleção. Com essa jogabilidade truncada, limitações técnicas vinda da versão original e esforço mínimo apresentado para trazer o jogo aos consoles modernos, fica difícil recomendar Akiba’s Trip: Hellbound & Debrified para fãs de Beat ‘em Up, de jogos de anime e até mesmo Otakus em geral.

Jogo fornecido para análise pela XSEED Games.

Akiba's Trip: Hellbound and Debrified Capa
Akiba's Trip: Hellbound & Debriefed
Veredito
Akiba's Trip: Hellbound & Debriefed é um jogo engraçado e besta, mas possui personagens bem convincentes. Porém, sua jogabilidade mostra sinais claro de que um remake teria sido uma melhor ideia.
Prós
Personagens possuem um carisma impressionante
O enredo é melhor do que você imagina
Mais de um final, dependendo de sua escolha
Contras
Jogabilidade péssima
Gráficos receberam apenas um upscale
Exploração rasa e maçante
Fica repetitivo rápido demais
Sem o idioma português
5
Arrancar roupas é divertido, mas enjoa rápido
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