Captain Tsubasa é um mangá e anime Shounen (conteúdo direcionado ao público adolescente masculino), do autor Yoichi Takahashi, conhecido por nós no Brasil como Super Campeões. Transmitido originalmente pela extinta TV manchete, anos depois chegou a dar as caras na Cartoon Network e, posteriormente, RedeTV!. Eu, como um jovem nascido no início dos anos 90, tive meu primeiro contato com a série apenas nos anos 2000, através da RedeTV! . Confesso que nunca fui fã de futebol, e muito menos torci para qualquer time. Apenas tenho ânimo para assistir eventos como Copa do Mundo e olha lá. Porém, Super Campeões sempre teve um charme diferente, e me tornou um apaixonado por sua história e personagens absurdamente carismáticos, mesmo que o esporte não estivesse em minhas maiores preferências.
Captain Tsubasa: Rise of New Champions é uma adaptação direta da série para os videogames, desenvolvida pela Tamsoft e publicada pela Bandai Namco. Apesar disso, não é a primeira aparição de Tsubasa no mundo dos jogos eletrônicos. Anteriormente, Super Campeões marcou presença também em vários consoles de diversas gerações, com games que abordavam o estilo exagerado de futebol do anime fazendo o uso até mesmo de elementos de cardgame, ou simplesmente trazendo partidas mais puxadas para o esporte num formato arcade.
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Lançamento: 7/Nov/2024
Porém, pela primeira vez, graças à tecnologia atual temos em mãos uma obra que é praticamente a tradução do anime em um jogo belíssimo (ok, os cenários são bem feios e abaixo da média), com visual cel-shading nos personagens e cutscenes bastante fiéis ao que assistimos na TV através do anos. Diferentemente de Dragon Ball Z: Kakarot, aqui a Bandai Namco não pareceu se preocupar tanto em contar os eventos da obra original em escala 1:1. E felizmente! Já que o título mais recente de Goku e seus amigos trouxe a experiência perfeita para fãs do anime, mas bem superficial quando se trata de um RPG – o que havia prometido entregar.
Aqui em Rise of New Champions, o jogo já inicia apresentando uma espécie de tutorial, te colocando no controle da seleção do Japão liderada pelo protagonista, Tsubasa Ozora. Após algumas cenas icônicas, a partida se inicia e alguns textos instrutivos são apresentados em tela. Logo nos primeiros minutos são ensinadas várias técnicas, roubadas de bola e dribles fundamentais para se vencer uma partida. Como não podia faltar, são mostrados também chutes especiais de alguns personagens de extrema importância, como Hyuga, Misugi e o próprio Tsubasa. Passado o prólogo, que dura até a partida ter fim, o menu principal é liberado com todas as opções de jogo logo de cara. Bom, na verdade quase isso, já que apenas três seleções estão liberadas inicialmente no “modo livre”.
Para fãs e novatos
O modo história é o principal chamariz de Captain Tsubasa: Rise of New Champions, principalmente para quem acompanhou o anime do início ao fim. Esta opção é separada em dois episódios:
- Tsubasa: a história e trajetória de Tsubasa em sua terceira vitória consecutiva no campeonato nacional, desde alguns flashbacks de seu campeonato juvenil e memórias do protagonista junto ao time de sua escola, o Nankatsu Junior High School Club, até sua meta final e carreira profissional no esporte. É um episódio bastante útil para aqueles que não estão familiarizados com o anime e os personagens, fazendo um trabalho digno ao contar a história de Tsubasa e construir a empatia necessária. Apesar disso, é bem curto e dura poucas partidas.
- Novo Herói: aqui você cria um personagem próprio e segue uma história paralela, sendo possível escolher entre três equipes diferentes e uma posição em campo para seguir uma trajetória única. O chamariz desta opção é justamente a construção de seu jogador e a possibilidade de criar relacionamentos com figuras marcantes da série jogando partidas juntos, para assim adquirir suas habilidades e equipar em seu próprio personagem, o qual evolui ao demonstrar um bom desempenho nas partidas através de dribles, defesas e gols marcados. Suas estatísticas e atributos sobem, assim como seu rank.
Apesar do produto final ser acompanhado de muitas cutscenes e um modo de contar história bem relacionada à série na opção Tsubasa de jogo, não tive uma grande sensação de “arrastado” na forma que isso foi feito. Posso ser suspeito, mas o carisma dos personagens e linhas de diálogos dramáticas dignas do anime ajudaram muito a manter o ritmo em todo o tempo, segurando minha atenção para tudo o que estava sendo falado. Mesmo assim, para quem conhece a história da série, sabe o quanto ela é simples e clara – ok, também é bem enrolada. E, apesar do foco ser futebol, o brilho principal sempre foi a interação entre os personagens e a mensagem sobre a importância da amizade, companheirismo, persistir e ultrapassar seus limites.
Além disso, em meio às próprias partidas, algumas cenas rápidas são mostradas para ilustrar o momento e não deixar o jogador esquecer de forma alguma que está experienciando algo baseado em Super Campeões e não em um simulador. São cenas características e nostálgicas até mesmo durante o jogo, como o Chute de Trivela do Tsubasa (que não é trivela nada), as defesas dos incríveis Wakashimazu e Wakabayashi, e o espírito determinado de Hyuga com seu futebol agressivo.
Jogabilidade arcade e o drama da série
Meio maior medo, ao saber que um novo jogo de futebol de Captain Tsubasa estava sendo feito, foi o receio do resultado ser apenas um game genérico que faz mal uso de uma franquia licenciada e de grande nome. Porém, essa angústia caiu por terra logo nos primeiros momentos da primeira partida, mas em apenas alguns pontos – a maioria, felizmente. Captain Tsubasa Rise of New Champions é incrivelmente único. O jogo transpira o anime e consegue trazer toda a emoção existente na obra televisiva através das músicas contagiantes, cenas exageradas e as vozes características dos personagens em momentos onde a bola é tocada e o nome dos companheiros é gritado.
As trilhas sonoras também são um aspecto importante aqui e ajudam a transmitir muito bem a emoção que o jogo quer passar. É fácil de se sentir em um episódio de Super Campeões enquanto a partida está rolando, ainda mais com a inexistência de faltas (as regras são compostas pelo lateral, tiro de meta, escanteio e impedimento), momentos de close no goleiro fazendo a defesa, chutes icônicos de personagens marcantes, a bola recebendo um impulso sobre-humano e disputas aéreas pela sua posse.
Porém, verdade seja dita: Captain Tsubasa Rise of New Champions é muito mais um jogo de anime do que de futebol. Apesar da alta fidelidade às características icônicas de Super Campeões, a jogabilidade não é a mais indicada para fãs de jogos mais conhecidos do esporte. Muitas das vezes me parecia mais um título do gênero luta do que de futebol. Para fazer gols aqui existe a exigência de um processo para diminuir a Garra do goleiro. Elemento este que nada mais é do que uma barra amarela contida acima de cada personagem, simbolizando uma espécie de fôlego. Quando esta barra vai se esgotando e fica vermelha, o respectivo jogador fica bastante vulnerável à roubadas de bola, carrinhos e trombadas.
O goleiro passa pela mesma situação, e fica bastante propenso a levar gols assim que sua Garra chega ao fim. Até lá, as chances de que ele defenda qualquer chute são extremamente altas. Diria que é quase impossível fazer gol da forma básica sem o “enfraquecer”, exceto se existir uma brecha completamente ridícula, como o goleiro estando longe do seu posto, ou o atacante completamente cara-a-cara com a rede “dando sopa”.
A maneira indicada de se conseguir uma pontuação certeira é abusando dos chutes especiais dos personagens – cada qual consumindo uma quantidade de Garra específica do jogador, cerca de 50% -, derrubando o fôlego do goleiro em uma velocidade relativamente alta. Algumas vezes o gol pode sair em apenas uma tentativa, fazendo uso da habilidade dos personagens principais bem próxima ao goleiro, mas não consegui esta proeza constantemente. Como alternativa, há como marcar gols através de cruzamentos seguidos de chutes verdadeiramente estilosos, mas só se o personagem possuir uma habilidade de chute aéreo equipada. Caso contrário, um “golpe” comum é aplicado e suas chances são quase nulas.
Caso o oponente pressione o comando de chute ao mesmo tempo durante um cruzamento, seu golpe aéreo se transforma numa disputa pela bola num gameplay rápido de esmaga botão (destruição de Joy-con) e uma barra de intensidade, resolvendo a situação com um verdadeiro cabo de guerra que pode também resultar em um gol. De qualquer forma, a estratégia mais usada será sempre driblar dois adversário em seguida usando o ZR (usando Garra) para realizar um combo que resulta em um ganho rápido e imediato da Garra, e isso é mais eficaz quando feito próximo ao goleiro para dar aquele chute especial bem próximo ao gol, aumentando muito suas chances de pontuar.
Também é possível usar, pressionando ZL, algo que o jogo chama de Zona-V, uma barra que fica no canto inferior da tela e enche à medida que você consegue realizar dribles e outras acrobacias com sucesso. Basicamente é uma forma de levar seus jogadores ao limite, e preencher a barra do chute especial bem mais rapidamente – sem garantir qualquer tipo de resistência especial contra o adversário. A vantagem é que a Zona-V garante uma defesa perfeita com direito à cutscene especial do seu goleiro, caso o ZL seja pressionado no momento do chute adversário – você sentirá um feedback tátil através da vibração do controle.
Veja bem, caso não tenha ficado claro, os amantes de PES ou FIFA podem esperar algo completamente diferente do que estão acostumados, e digo isso em todos os aspectos do game. Recentemente joguei alguns títulos de futebol mais longes do tipo simulação, como o próprio Golazo! – também disponível para Nintendo Switch -, que podia ter ensinando algumas boas lições para Captain Tsubasa no quesito futebol arcade, como misturar coisas essenciais do gênero simulação com a “jogabilidade sem compromisso com a realidade”.
Um “plus a mais”
Captain Tsubasa: Rise of New Champions possui vários modos disponíveis no meu principal. Além do modo história, existe o amistoso, chamado aqui de Contra, treinamento, campeonatos personalizados e o adorado modo online. As partidas através da internet são bem competentes e possibilitam jogarmos em até quatro pessoas, 2 de cada lado, além da criação e pesquisa de salas restritas – com senha – ou públicas. Os modos disponíveis para se jogar no online são dois: Contra e Campeonato. Infelizmente, não há uma forma de duas pessoas no mesmo console irem ao online juntas, algo que fez muita falta para mim.
Fora os tipos de jogo, no menu da loja também são encontrados diversos desbloqueáveis para serem aplicados em seu jogador, tanto cosméticos quando alguns itens equipáveis úteis para acelerar o ranking e outros aspectos do modo história. Aqui é onde são vendidos pacotes de cartas que funcionam como loot boxes, mas compradas com dinheiro do jogo – felizmente -, e que podem liberar cards de personagens com os quais já topamos no enredo para aumentar o relacionamento entre eles e nosso jogador criado. Como um extra, é oferecido uma opção para montar seus próprios times e até mesmo um brasão. É possível incluir seu jogador personalizado e personagens de outras equipes, criando um verdadeiro Dream Team quase imbatível e completamente “apelão”.
Bolas fora
Apesar de ser um jogo incrível para fãs do anime, provavelmente certas coisas irão afastar muitos jogadores que ainda não foram cativados pelo conteúdo no qual o jogo se baseia. A maior falha de Tsubasa: Rise of New Champions é o excesso de cutscenes e conversa fiada que podem irritar quem não está tão interessado na história. Muitas delas também não podem ser puladas, e isso chegou a me irritar bastante em partidas onde precisei rejogar três ou quatro vezes por ter sido derrotado. Fui obrigado a ver a mesma cena antes, durante e momentos perto do fim da partida, já que faziam parte do enredo e surgiam de forma obrigatória. No modo história, no episódio Novo herói, isso de intensifica muito, e acabei focando bem mais nas partidas e deixando de lado esse elemento com carinha de visual novel.
Outro defeito são as mecânicas de futebol em geral. Como o foco é representar o anime, alguns comandos existentes em simuladores do esporte deixam a desejar, e estou falando de peças fundamentais do gênero – bom, se mostraram fundamentais aqui. É impossível dar um chute em falso em Captain Tsubasa, e uma vez que você segura o comando de chute especial para atacar e esperar a barra ridiculamente lenta encher, não existe uma forma de fazer um passe para um companheiro se antes não pressionar o botão R pra esquivar e anular enquanto esvazia a potência do chute. É um processo chato e nada natural, que faz o jogador ficar totalmente vulnerável e podia ter sido melhor projetado.
É bastante comum também sentir que a partida é decidida unicamente por meio de combos de dribles aliados aos “golpes” especiais. E isso é percebido facilmente quando a Garra sobe após desvios consecutivos ao estar com a bola no pé, o que culmina para que o personagem tenha bastante chances de sucesso com sua respectiva habilidade e chute ao gol. Basicamente vira um jogo de quebra-quebra e timing que se apoia em chutes especiais, ignorando bastante os personagens comuns sem habilidades únicas, exigindo praticamente com que o jogador use e abuse da Garra. Também muitas vezes me vi frustrado por ter apertado o R ou ZR (usados para corrida e drible, respectivamente) no momento exato para realizar o movimento contra o adversário, mas acabei tendo a bola roubada. Parece algo impreciso. Treinei por horas e insisti para tentar dominar o processo de passar pelos oponentes para chegar ao gol sem perder a posse, mas a sensação é de que você nunca está 100% preparado.
Outra coisa que não ajuda é a câmera extremamente limitada. Existem 3 opções de distanciamento, e todas continuam inclinadas da mesma forma, atrapalhando a visão ampla do campo ao tentar identificar onde seus jogadores estão. Por diversas vezes fiquei extremamente dependente do radar, mais ainda nas partidas do modo história onde há momentos em que os uniformes de ambos os times são parecidos e não podemos sequer mudar a cor.
O modo online, apesar de competente, possui lag e bugs. Tive partidas com jogadores teleportando bastante e momentos onde não consegui terminar o jogo, já que a bola “travou” em locais inacessíveis para os personagens ou o goleiro simplesmente saiu de campo com a bola em mãos e ninguém podia tirar dele. Porém, na maioria das vezes consegui uma experiência sólida e agradável. Por último e não menos importante, como já falado, no começo temos apenas 3 seleções disponíveis (Japão, Inglaterra e Uruguai), e o restante são times escolares existentes no anime, sendo necessário liberar as outras nações jogando o modo Novo Herói até o fim, e cumprindo alguns desafios deveras exigentes para liberar outras equipes consideradas secretas.
Bom para fãs, mas fica devendo no futebol
Sinceramente, Captain Tsubasa: Rise of New Champions é um excelente jogo baseado em anime, algo relativamente difícil de acontecer no cenário onde temos adaptações diversas com resultados medíocres com o único objetivo de faturar dinheiro em cima de nostalgia e amor de fãs pelo conteúdo. É de fato um título incrível para amantes do produto que é Super Campeões, mesmo com cutscenes em excesso que, felizmente, podem ser ignoradas em sua maioria. Entretanto, no quesito futebol e “gameplay de verdade” o jogo deixa a desejar, passando a sensação de frustração em diversos momentos por causa da temática arcade muito bem escolhida, mas não tão bem executada.
Para fechar, a versão de Switch ainda precisa de uns “tapas” generosos na performance para ser oferecida como a melhor opção contra a versão de PS4 (falando de consoles), o que considero algo bem mais importante do que a portabilidade em si. São quedas constantes de quadros por segundo, tanto na dock quanto no handheld, o que mostra a falta de otimização do port para a plataforma Nintendo.
Como futebol, é um belo jogo de anime
Captain Tsubasa: Rise of New Champions é uma excelente adaptação arcade da série para o mundo dos videogames, mas suas mecânicas de futebol deixam a desejar e passam a sensação de que falta algo, ao mesmo tempo que aposta excessivamente em habilidades especiais.
- Design
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