Quando jogos se nomeiam sucessores espirituais de outros jogos, geralmente acertam ou erram demais. Não tem meio-termo. Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes se dedica a ser de Suikoden, uma das mais amadas franquias de JRPG. Qual terá sido o resultado?
[bs-heading title=”Sobre Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes” show_title=”1″ icon=”” title_link=”” heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″ bs-text-color-scheme=”” custom-css-class=”” custom-id=””][/bs-heading]
Recomendação de Compra
Nintendo Switch – Modelo OLED (Branco)
Lançamento: 08/Out/2021
Era uma vez, no longínquo ano de 1995, um joguinho chamado Suikoden foi lançado no Japão, para o amado PlayStation cinza. Criada por Yoshitaka Murayama, a série, que tem 5 jogos no total, é uma das séries mais queridas por fãs de JRPG. Pouco antes do terceiro jogo sair, porém, Murayama saiu da Konami, lá em 2002.
18 anos depois, em 2020, ele anunciou, através de um projeto de Kickstarter, a ideia de criar um sucessor espiritual de Suikoden, e deu a ele o nome de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes. Atingindo a meta inicial em menos de quatro horas, o jogo conseguiu mais de 4.5 milhões de dólares, se tornando o terceiro lugar na lista de jogos que mais arrecadaram no site.
Atrasos causados pela COVID-19 fizeram o jogo ser adiado, adiado, até que chegou no mês passado para basicamente todas as plataformas existentes.
[bs-heading title=”História” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
A história de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é o ponto forte do jogo. Primariamente, você seguirá Nowa, embora haja outras duas personagens que você controle de tempos em tempos. Nowa veio de uma pequena vila e começa a liderar a Patrulha, que é tipo a guarda local. Vivendo na Liga das Nações, essa patrulha acaba se juntando temporariamente a um batalhão do Império Galdeano, liderado por Seign, que depois vira um amigo, para um objetivo comum de buscar uma Lente Rúnica numa caverna.
Infelizmente, um tempo depois (que passamos por um salto no tempo), o Império, através de Dux Aldric, decide arrumar razões para invadir a Liga das Nações, o que inicia uma guerra. Depois de ver sua vila pegar fogo e sua cidade ser invadida, Nowa e os sobreviventes fogem para as ruínas de um castelo, onde devem juntar forças para revidar e derrotar os pelotões do Império.
O problema é que Seign agora é um inimigo, e as interações entre Nowa e ele são das mais emocionantes de toda a história (especialmente depois de você jogar com Seign e entender mais de suas motivações).
Já Nowa precisar recrutar as dezenas de heróis (até 100 – ou talvez mais) do título, que estão espalhados por toda a região de Allraan, buscando-os nas cidades, matas, cavernas e minas enquanto também melhora as condições de seu castelo para atrair mais e mais pessoas.
Gosto muito que apesar de Nowa ser o centro, há espaço suficiente para outras personagens se destacarem na história de alguma forma, a ponto de adicionar profundidade a boa parte dos 100 Heróis.
Gosto também da complexidade e das camadas de Dux Aldric, que, conforme a história avança, demonstra muito mais humanidade e ideais interessantes do que o que inicialmente parecia. De um aparente déspota ditador, ele aos poucos vai parecendo cada vez mais alguém com bons ideais, mas desviado pela ideia de que os fins justificam os meios, acaba sendo visto de forma mais dúbia do que deveria, se tivesse pensado em agir de outra forma.
Essa complexidade, adicionada ao fato de jogarmos com lados diferentes dessa guerra, faz com que a parte política da história seja interessante o suficiente para despertar a curiosidade de continuar jogando, para saber o que acontece.
A história tem alguns problemas de escrita e alguns momentos de Deus Ex Machina (não o jogo) que poderiam ter sido mais bem escritos, e algumas coincidências demais, mas não prejudica tanto a experiência geral, e o nível de humor é bastante agradável.
[bs-heading title=”Jogabilidade” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes vai a fundo na recriação do JRPG dos anos 90 e 2000, mas há três momentos de jogabilidades distintos.
O jogo padrão envolve viajar pelo mapa entre cidades, vilas, florestas e mais, para encontrar e recrutar heróis. Alguns virão depois de você cumprir alguma missão para eles, outros, depois de elementos da história, e outros, você consegue só de dizer oi.
Para subir de nível, é preciso lutar contra bichos. As lutas são em encontros aleatórios (impossíveis de desligar), que você encara viajando pelo mapa ou masmorras. São lutas em turnos, com uma linha do tempo na parte superior da tela que mostra quem atacará em cada ordem.
Dentro delas, você alinha até 6 personagens em duas fileiras, e pode atacar de maneira normal ou com habilidades específicas. Com as condições certas, você pode juntar dois ou três heróis em ataques que são supostamente mais fortes que atacar individualmente (supostamente porque, na prática, a maioria não é). Um ponto legal é que a experiência ganha é proporcional ao nível das personagens, então, se você proteger bem alguém de nível baixo, basta colocar numa luta de nível mais alto, e rapidamente, vai se igualar ao resto da equipe.
Falando em equipe, da centena de heróis disponíveis, você precisa selecionar seis. Em alguns casos, haverá personagens que são obrigatórias para a história, e se não quiser usá-las, pode colocar na reserva. É muito legal pensar as estratégias diferentes de acordo com formações diferentes, e a escolha certa para cada chefão faz com que as lutas sejam mais fáceis. Além disso, há algumas personagens que não vão para o campo de batalha, mas podem ser suporte e oferecer bônus interessantes. Uma permite que você troque a sua formação nos pontos de salvamento. Outra libera a opção de se teletransportar pelo mapa. Outra ainda diminui a quantidade de encontros aleatórios. Misture e combine elementos diferentes, e encontrará o que te agrada mais.
Há uma opção de batalha automática, e você vai usá-la em quase todas as lutas, exceto contra os chefes. Estes, inclusive, são os que oferecem as lutas realmente interessantes do jogo. As únicas que vale a pena lutar de verdade, porque a maioria oferece alguma mecânica diferente, como se esconder atrás de uma pedra pra evitar danos, manipular um guindaste para arremessar pedras neles, ou adivinhar que lado o inimigo vai sair da terra, num jogo divertido de Whack-a-Mole.
Além disso, há lutas especiais que envolvem um tipo de jokenpô entre atacar e contra-atacar, mas que são difíceis de ganhar de fato. Normalmente, acontecem quando Nowa encontra Seign ou alguma outra personagem relevante.
O segundo modo de jogo lembra Advance Wars, no qual você tem um tabuleiro em quadrados e precisa mover suas tropas contra as tropas inimigas. A força é determinada pelos heróis que lideram cada tropa, e cada uma destas batalhas tem objetivos diferentes, como invadir certa área ou impedir que o inimigo rompa suas linhas de defesa por um certo número de turnos.
Já o último modo é o de reconstruir o castelo para o qual você foge para começar a Revolução contra o Império. Você precisa encontrar personagens específicas para liberar reformas específicas, além de precisar dos materiais e valores necessários para o feito. Alguns heróis só aceitarão se juntar à Revolução caso seu castelo esteja num ponto específico de reforma.
Para mim, em relação à jogabilidade, há alguns problemas bem específicos:
Primeiro, não dá para desligar encontros aleatórios. Tá, eu sei que os JRPGs clássicos eram assim, mas estamos em 2024, Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes foi lançado agora, não em 2004. Há dez anos, o magnífico Bravely Default (outro sucessor espiritual de um JRPG clássico) já havia resolvido o problema de encontros aleatórios, permitindo à gente escolher aumentar, diminuir ou zerar, dependendo do momento do jogo.
Segundo, o gerenciamento de equipamentos é horrível. Pra começar, o que você equipa nas personagens fica preso a elas, o que significa que você pode alterar o equipamento de alguém que está na sua equipe, mas se fizer alguma mudança, e esquecer de tirar de quem saiu, você não pode mais usar aquela arma, escudo ou armadura, até colocá-la na equipe, retirar, tirar de volta e colocar em quem você queria originalmente. Além disso, melhorar suas armas é extremamente caro e só é possível num local específico que ninguém te avisa que você precisa ir.
Meu terceiro incômodo se dá na completa ausência de monitoramento de missões paralelas. Se você não anotar onde encontrou uma personagem específica e o que ela queria, boa sorte encontrando de novo, porque o jogo não te ajuda em nada nisso.
Falando em personagens específicas, até você encontrar alguém para aumentar, por exemplo, suas fazendas, ou trazer lojas específicas para seu castelo, essa personagem aparece como uma sombra, e a expansão de sua fortaleza será pausada até que você encontre, o que torna o problema acima ainda maior. Se considerarmos que existe um mínimo (nunca informado) de heróis para avançar certas partes da história, alguns que, como dito, exigem certas coisas do seu castelo para se mudarem para lá, e você nunca sabe de quem precisa para expandir, é um loop bem ruim de atividades para não se ter nenhum tipo de controle.
Sei que era comum antigamente só jogar as pessoas no meio das coisas, mas eu realmente acredito que num jogo com tantas camadas, um tutorial decente seria muito bem-vindo. Muito de cada uma das partes, você tem que aprender através da tentativa e erro, porque mesmo quando tem tutorial, ele não explica nada além dos comandos básicos de cada situação.
O autosave do jogo também não faz nenhum sentido. Extremamente inconsistente, eu cheguei a passar três horas entrando e saindo de cidades e vendo cutscenes antes de o autosave ativar, enquanto que em outros momentos, salvava a cada cinco minutos.
Outra coisa incômoda é que entra uma tela de carregamento cada vez que você entra e sai de uma luta, e essa tela pode durar de 4 a 7 segundos. Isso, num jogo de mais de 50 horas, pode adicionar, sem brincadeira, umas três a cinco horas extras, dependendo do quanto você estiver buscando heróis. Algumas vezes, especialmente no modo de luta automática, entrar na luta e voltar para o mapa demora mais do que a luta em si.
[bs-heading title=”Parte Técnica” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Aqui é o ponto mais fraco de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes no Nintendo Switch. Comparando com outros consoles e, especialmente com PC, a versão do Switch parece não ter tido o mesmo tipo de cuidado. Para começar, a primeira versão era literalmente injogável. Travava no menu de entrada, a ponto de antes mesmo do lançamento do jogo, enquanto ainda estava no período que só reviewers tinham acesso, recebemos uma atualização para nos permitir de fato jogar. Não me lembro de outro jogo ter acontecido isso.
A seguir, o problema é dos engasgos. Supostamente, o jogo deveria rodar a 30 FPS no Switch, não importava o modo, mas a gente só tem isso em ambientes fechados com poucas coisas acontecendo. Em ambientes abertos e em algumas cutscenes, cai notadamente, e até mesmo andar de um lado para o outro às vezes parece estranho.
As personagens em 8 bits são muito bonitinhas, porém, e contrastam legal com os ambientes 3D. Problema é que quanto maior a área, mais feio o fundo se parece, com menos detalhes e mais granulações. Muitas áreas parecem vazias demais, e até feias e comuns. As cidades são bonitas e bem desenhadas, mas a maioria parece maior do que deveria, dada a sensação de vazio e tantas construções com as quais não podemos interagir. As personagens em suas versões 2D são cheias de personalidade e bem diferentes e características entre si.
Nas lutas, alguns chefes são bem criativos nos designs, mas os monstros gerais do mapa são bem repetitivos (não que seja incomum isso em JRPGs, mas seria legal ter maior diversidade).
O som do jogo é o ponto forte, tendo músicas bem marcantes, que me fizeram jogar com o volume ligado, o que normalmente não faço. Os sons das personagens também são bacanas, e os efeitos sonoros das batalhas são bem legais.
O jogo é divertido, porém, a ponto de que isso tudo poderia ser facilmente ignorado, não fosse o fato de que há diversos momentos nos quais o jogo para numa tela de carregamento ou durante alguma cutscene, e, graças ao autosave inconsistente, você perder literais horas de progresso, porque seu último ponto foi exatamente antes de alguma série de cutscenes e lutas importantes acontecerem sem um momento de salvamento entre elas.
Infelizmente, isso aconteceu mais vezes do que eu tive saco para contar, mas foram vezes o suficiente para eu quase ter arremessado meu Switch na parede depois de finalmente vencer um chefão para quem tinha perdido mais de dez vezes, só para ver o jogo não avançar além da cutscene posterior, e eu ter que voltar ao save anterior à luta.
Há traduções para diversos idiomas, inclusive nosso rico e maltratado português, e as piadas, nível de humor e trocadilhos foram muito bem traduzidos, parabéns à equipe de tradução, foi uma das melhores localizações que já vi em um jogo tecnicamente indie.
A dublagem é em inglês e japonês, e é muito bem-feita também nas duas línguas. Todo mundo é cheio de personalidade, isso é muito legal.
[bs-heading title=”Conclusão” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é uma homenagem aos antigos JRPGs, mas sua história intrigante com personagens diversas e interessantes é atrapalhada por uma jogabilidade antiquada, poucos elementos de Qualidade de Vida e inúmeros problemas técnicos na versão do Nintendo Switch. Talvez com algumas atualizações, ele valha a pena de verdade.
Análise feita com cópia gentilmente cedida pela 505 Games.
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