Ender Lilies: Quietus of the Knights é um Metroidvania que chegou sem tanto alarde na grande mídia, sendo lançado também para PC, e fazendo sua estreia exclusivamente no Switch – se tratando de consoles – agora em 2021. Aqui, incorporamos uma sacerdotisa chamada Lily, que é protegida pelo espírito guardião Umbral Knight e consegue usá-lo como seus principais ataques efetuados com uma espada. Vivemos num mundo tomado por uma misteriosa chuva que invadiu o reinado, e que transformou seres vivos em criaturas nefastas e demoníacas, através de uma entidade conhecida como Blight. Agora, todos precisam ser purificados com a ajuda da protagonista, a última das sacerdotisas vivas. Embarque nessa doce e infernal jornada pela eliminação e redenção de seres tomados pela entidade.
Um mundo tomado pela entidade Blight
Como esperado de um Metroidvania, Ender Lilies traz a estrutura tão presente no gênero, com suas várias “salas” apontadas em um minimapa quase-eficiente, bastante backtracking (revisitação de cenários), pontos de salvamento, upgrades e habilidades que são adquiridas ao longo da jornada. Muitas portas, muros altíssimos e locais bloqueados com um “treco” vermelho horizontal ou verticalmente são encontrados enquanto exploramos, deixando claro que precisaremos voltar ali depois de conseguir uma técnica ou outra.
Indo um pouco além do que é comum no subgênero, Ender Lilies aposta numa quantidade abismal de chefes e mini-chefes para derrotarmos, resultando em novas habilidades para Lily que podem ser equipada apenas nos bancos (ou camas e etc) pontos de salvamento, feito através menu chamado Spirits. Estes chefes e mini-chefes também possuem uma pequena história a ser contada em algumas poucas linhas de diálogos quando derrotados, revelando um pequeno trecho do enredo e mostrando que nem tudo é o que parece neste mundo. Os chefes (não os minis), exclusivamente, apresentam uma cutscene, mostrando algo intrigante sobre seu passado antes de serem tomados pela Blight.
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Lançamento: Ago/2024
Há também um menu chamado Findings, que mostra todas as descobertas e partes da história coletadas até o momento, como se fosse uma espécie de arquivo com documentos. Aqui, é possível entender um pouco melhor o enredo e o que se passa, o que é bem útil principalmente se você for alguém como eu que costuma pular trechos de conversas e se arrepender depois por isso. Aliás, também fico feliz que exista o idioma Português Brasileiro disponível, assim todos conseguem ficar por dentro do que se passa neste universo. Porém, não se engane, a exploração é um elemento primordial em Ender Lilies, e em nenhum momento o jogador é tomado pela mão ou apontado para onde deve ir.
Além dos ataques e habilidades ofensivas, inicialmente Lily consegue esquivar-se de inimigos pressionando o botão ZR, o que faz a garota se jogar na direção apontada. É um movimento bem eficiente que pode atravessar o corpo de qualquer adversário – que mais pra frente é aprimorado com um dash -, anulando completamente qualquer tipo de dano. Fora isso, outra ação existente desde o começo é a Pray (rezar) para restaurar sua barra de saúde, sendo possível restabelecer a quantidade de Pray existente ao destruirmos flores de lótus que estão espalhadas pelos cenários ou simplesmente sentando nos bancos e outros pontos de salvamento.
Existem também Relics equipáveis, que concedem habilidades ou atributos extras como um parry (que repele ataques inimigos e funciona mais ou menos, eu diria), valores maiores em dano, vida extra e até mesmo um maior número de uso para seus espíritos. Essas relíquias também são importantes de serem coletadas, e você percebe isso quando vai avançando até que nota que seus danos já não são mais tão eficazes quanto esperava, ou então que poucos ataques bastam para sua morte.
Não posso me esquecer também dos upgrades em seus espíritos ou no próprio Umbral Knight, que é sua arma principal. Para tal, é necessário utilizar 3 tipos de itens específicos, que são coletados ao encontrarmos corpos deixados em pontos do mapa. O mais difícil de evoluir é o Umbral Knight, que exige um item bem complicado de se encontrar por aqui, porém, uma vez melhorado, novos combos são liberados para Lily para serem utilizados, seja em pleno ar ou em superfícies.
Não julgue um jogo pela capa Kawaii
Apesar de Ender Lilies: Quietus of the Knights parecer um game fofinho à primeira vista, não se engane: a paciência será sua melhor arma por aqui. Digo isso porque, além de lutas incrivelmente exigentes e desafiadoras contra chefes, como citado anteriormente, a exploração é um dos focos principais. Assim que recebemos novas habilidades, precisamos retornar para ambientes já visitados a fim de alcançar locais que antes não eram alcançáveis – felizmente existe a viagem rápida entre pontos de save. O mapa, no meu ponto de vista, não faz um trabalho muito bom neste quesito, pois ele apenas aponta salas nas quais ainda existem alguma coisa para ser feita. Portanto, nada de ter algum tipo de ajuda na questão de saber especificamente em quais pontos das salas existem itens a serem coletados ou qual tipo de habilidade você precisa para entrar num local bloqueado ou subir em alguma plataforma mais alta com o pulo duplo: se vira.
Tratando-se das lutas contra chefes e mini-chefes, este segundo não exige tanta habilidade assim para vencer o combate, o que pode enganar aqueles que pensam que todas as lutas serão assim. Já os chefes apresentam, em sua maioria, três formas diferentes que vão sendo reveladas conforme a barra de vida decai. Os padrões de golpes mudam levemente, porém, os danos são elevados e em apenas 2 ataques Lily pode dar adeus à sua vida. Podemos coletar itens que aumentam a quantidade de Pray e a própria barra de saúde da protagonista, porém, nada que vá trazer um grande símbolo de tranquilidade ou sensação de que “finalmente temos o poder para destruir o grande mal”.
Próximo ao final do jogo (aliás, existe mais de um), diria que os desenvolvedores conseguiram juntar o uso de todas habilidades para serem testadas em uma área só, o que instiga e, ao mesmo tempo, frustra. Nas últimas salas existem elementos que tiram nossa vida constantemente a todo momento, tanto no ar quanto em locais aquáticos, além de existirem inimigos posicionados estrategicamente para te atacar e te fazer voltar ao ponto de salvamento diversas vezes. Sinceramente, nunca gostei e odiei tanto um jogo assim desde Dark Souls em 2011. Porém, existe um problema chato nisso tudo: há um item em um lugar bem específico que irá proteger Lily consideravelmente nesta área, porém, a culpa é sua se não resolveu explorar tudo antes de vir pra cá – mas ninguém te contou isso também, então metade da culpa é de quem fez o jogo.
Novamente, falando dos últimos chefes e da área final, o jogo aposta naquilo que chamamos de “esponja de dano”. A maioria dos inimigos exigem uma quantidade bem alta de ataques para serem derrotados, e o mesmo vale para os chefes. É bastante enfurecedor ver o quão pouco seus ataques degradam a barra de saúde dos monstros finais, e isso acontece mesmo em um nível extremamente alto da personagem, com valores bem generosos de ataque tanto do Umbral Knight quanto de seus espíritos secundários. É cansativo enfrentar as três formas de cada adversário e ficar desviando de seus golpes, mesmo que a ordem de seus ataques não seja previsível, pois o sentimento de repetição é inegável e bem presente.
Por fim, mas não menos importante, tenho uma leve impressão de que a duração acabou sendo um pouco maior do que deveria, e isso deve-se muito ao fato de que passamos mais tempo perdidos procurando o que fazer do que realmente indo até o objetivo. Se você não está preparado para passar, pelo menos, 15 horas de gameplay para depois notar que não sabe mais aonde deve ir, recomendo fortemente um guia para te auxiliar – e não tenha vergonha disso, porque o maior desafio é sobreviver aqui.
Fofo, infernal e um teste de paciência
Será que se eu dizer que Ender Lilies: Quietus of the Knights é o Dark Souls dos Metroidvania, as pessoas ficarão chateadas comigo? Porque é um sentimento parecido que tive com ambos: amor e ódio. Ender Lilies é muito bem feito, e isso em todos os aspectos. Os visuais são ótimos, a jogabilidade é excelente, os cenários são lindíssimos e a música, então, nem se fala. Diversas vezes joguei com minha esposa ao lado, e ela, curiosamente, compartilhou comigo o mesmo sentimento (sem saber disso) que a trilha sonora me passou: tristeza. O piano de fundo acompanhado de uma voz cantada de forma triste me deixou deprimido em vários momentos, mas a proposta de uma melodia em games é justamente mexer com o jogador, certo? Não costumo citar músicas em minhas análises, porque normalmente não sou marcado por esse elemento, mas Ender Lilies merece essa exceção por realmente ter me feito sentir imerso.
Porém, não consigo indicar esse Metroidvania para todo mundo ou qualquer um que seja fã do subgênero. Ender Lilies é difícil, e difícil com força, de uma forma que eu não esperava nem de longe. E sua dificuldade, como falei, não é graças à, exclusivamente, suas lutas contra chefes que exigem habilidade e paciência, mas sim por conta de sua exploração acompanhada de um mapa não tão útil assim. Eu diria que é um dos melhores games que joguei neste ano por conta de sua quantidade gigantesca de habilidades que podem ser desbloqueadas. Quem sabe, Ender Lilies é até um dos melhores Metroidvania de todos. Mas fica o aviso: seu esforço aqui será grandemente recompensado, porém, traga um travesseiro para esmurrar ou pendure um saco de areia para socar depois de morrer 30 ou 50 vezes para um mesmo chefe.
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