Sim, o prazo foi postergado. O tão aguardado “Breath of the Wild 2” não virá nesse ano. Isso mesmo, aquele jogo anunciado pela primeira vez ainda na E3 de 2019. Quase três anos atrás. Isso porque o texto apresentado lá muito bem dizia que o jogo já estava em desenvolvimento, ou seja, coloque nessa conta mais uns bons meses de trabalho. Mas sejamos honestos. Sem partidarismo, ou como queira chamar. Um adiamento é a melhor coisa que poderia acontecer para a sequência do GOTY de 2017.
Primeiramente, precisamos nos recordar de um detalhe crucial para esse adiamento: a própria pandemia. A partir do princípio de que o jogo estaria em um estágio inicial de desenvolvimento, ele foi subitamente interrompido no começo de 2020.
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Durante a pandemia, o mundo (e a Nintendo) parou. Tanto que passamos pela maior seca de Nintendo Directs desde o começo das apresentações – tivemos uma setembro de 2019, e outra só em fevereiro de 2021. A primeira expectativa de muitos era que o jogo saísse no final do ano passado, ou começo desse. Porém é quase certo que a paralisação atrasou em pelo menos um ano o desenvolvimento. Nesse intervalo, é muito provável que tenham surgido novas ideias para o jogo, o que deve ter adiado ainda mais a produção (e quem sabe, ter subido ainda mais o nível).
Além disso, temos que levantar aqui outro motivo não muito bem lembrado pela maioria, que é vital para entender o contexto. Em Zelda, jogos não são apenas sequências de um jogo anterior. Eles possuem alguns elos entre si, porém na prática, são versões completamente independentes.
Tome como referência Ocarina of Time e Majora’s Mask. Cronológica e formalmente, ambos são uma sequência direta do lançamento anterior. E de forma majoritária, o que os dois tem de dependência de enredo? Quase nada. Ok, temos a Ocarina do Tempo, meia dúzia de personagens que parecem importados de OoT, mas em nível de enredo, é quase como se não se relacionassem, como se fossem dois jogos completamente distintos, feitos para serem jogados independentemente da ordem.
Estamos a presenciar a exata mesma ocorrência em 2022. Tivemos “recentemente” um jogo que abre uma nova geração, recebido de maneira colossalmente magistral, classificado frequentemente como um dos melhores de todos os tempos, revolucionário para a indústria, e todos os demais elogios que você queira citar.
E agora, a Nintendo tem em mãos uma das tarefas mais complexas de todos os tempos em sua história: superar o próprio limite. Mas pra que todo esse tempo? Afinal, é de consenso geral que Majora’s Mask foi produzido em tempo “recorde”, com menos de dois anos entre o conceito – iniciado logo após o sucesso de Ocarina, em janeiro de 1999 – e o lançamento oficial, em abril de 2000. Pela lógica, já que grande parte do conteúdo de BotW já está pronto, é só necessário “realocar” os mesmos conteúdos para o novo jogo, não?
Pois bem: não é exatamente assim. Primeiramente, em OoT e MM a Nintendo trabalhava com um hardware muito mais limitado, comparado aos atuais. Hyrule e Termina somadas não davam metade do tamanho mapa de BotW. A quantidade de conteúdo, o volume de produção, a interação com mundo aberto, entre o que mais você queira citar nos comentários. Enfim, não é a mesma tarefa do século passado.
Vamos colocar aqui outro comparativo interessante: Pokémon. Ou melhor, os lançamentos mais recentes de Pokémon. A parte de Legends (um definitivo ponto fora da curva), tivemos uma série de jogos execrados pela comunidade. Listemos principalmente Sword e Shield, ou Ultra Sun e Moon (que nada mais era que uma continuação sem pé nem cabeça criado unicamente para vender mais). Obviamente, grande parte disso pode ser devido à histeria de grande parte da fanbase vinda desde Black/White, como já explicitei há um tempo atrás.
Porém, é muito bom ressaltar que a janela de produção para Pokémon é muito mais corrida. São cerca de três anos para desenvolvimento desde o zero, sendo que quase todo ano somos “agraciados” com um novo jogo da franquia. Esse ritmo desgastante de produção visivelmente diminui o resultado de trabalho. Aparentemente, essa situação parece estar sendo superada no futuro próximo, mas a didática facilmente se adequa à Zelda.
O épico de Hylia tem inúmeras funções a mais que Pokémon, Mario, ou qualquer outra franquia principal da Nintendo. Não seria exagero dizer que o carro chefe da Big N nessa geração são as aventuras da galerinha supimpa de Hyrule. O tal jogo onde você pode fazer literalmente tudo, onde até hoje é possível descobrir algo novo. Num vindouro jogo onde nem mesmo o céu é o limite, Não se pode esperar isso tudo em pouco tempo. Ao menos não com a qualidade digna e necessária da série.
Numa indústria onde adiamentos são vistos com maus olhos, onde há sempre a necessidade de mais e mais consumo de maneira desenfreada, de mais exigência num tempo cada vez mais curto, ignorando até mesmo o próprio bem estar dos times de desenvolvimento (quem já ouviu falar de crunch?), o adiamento da sequência de Breath of the Wild é um movimento contrário, na direção da sensatez. Atrasos (nesse caso) pouco se relacionam apenas com prêmios – que nada mais são que resultados de um célebre trabalho – mas sim com a capacidade de quebrar novas barreiras. Estamos a falar de um jogo com potencial altíssimo. Quanto mais tempo for dado, melhores são as chances de um resultado extremamente positivo. Ou talvez toda essa expectativa crie uma pressão maior que o necessário, e no (nosso) outono de 2023 só haja uma grande decepção mesmo.
Certamente esperamos que isso não ocorra.
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