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Universo Nintendo

F-Zero 99: Não é o que eu queria, mas acabou sendo exatamente o que eu precisava

Captain Falcon está de volta em grande estilo

“F-Zero está morto” é uma frase que escutei muito nos últimos 15 anos depois de passar quase três gerações inteiras sem receber um novo jogo da franquia. Num mundo onde Star Fox e até mesmo Punch Out recebiam novos títulos, o silêncio da Nintendo em relação à sua primeira franquia de corrida era triste.

Durante esse tempo qualquer migalha parecia uma vitória. A possibilidade de jogar o original de Super Nintendo ou sua sequência de Nintendo 64 no Wii e – recentemente com modo online – no Switch parecia uma forma de manter a franquia viva de alguma forma para um eventual retorno. Quase todo fã de Captain Falcon, no entanto, parecia convergir num produto bem específico: Um relançamento de F-Zero GX com modo online. Pronto, está aí o produto que faria os poucos fãs atuais comprarem e jogarem entre si sem sequer conseguir completar a quantidade máxima de participantes em uma corrida. Mas a Nintendo teve outro plano. Ainda bem.

Algo como F-Zero GX, o sonho molhado dos fãs, talvez não seja o melhor para a franquia no momento.

99 desapontamentos

Eis que uma antecipação enorme fora criada em relação ao Nintendo Direct que foi ao ar no dia 14 de Setembro passado. Um bom informante vazou a existência de algo relacionado a F-Zero e logo todos cravaram o eminente relançamento de GX com modo online. Era óbvio, certo? Era o mínimo. Nos contentamos com o mínimo, então pra que ir além? Precisamos apenas de algum paliativo para manter a franquia viva. Eis que durante a apresentação a Nintendo destrói todas as nossas expectativas e anuncia F-Zero 99.

Eu confesso: Fui dos que imediatamente xingou a empresa. “Que porcaria é essa, Nintendo?” foi a frase mais bonita que falei na hora. Não me entenda mal: Não sou contra a existência de jogos “99″ (ou 35, ou qualquer outro número), mas é o tipo de sobremesa que espero ver quando estamos bem servidos do prato principal. É um “bonus”, inclusive dada sua natureza de estar atrelado ao Nintendo Switch Online. Não é algo “sério” e inclusive é algo que pode sumir a qualquer momento, como o finado Super Mario 35.

Fiquei tão decepcionado que nem o baixei na hora. Só o fiz a noite e sem qualquer expectativa. E foi então que tudo fez sentido na minha cabeça. Como eu estava errado.

99 motivos

Para mim a decisão de chamar isso aqui de F-Zero 99 foi errada. Entendo o motivo pois, na superfície, há muita semelhança aos que vieram antes no Nintendo Switch Online, mas olhando a fundo consigo enxerga-lo como o verdadeiro F-Zero moderno.

Quem me conhece sabe que pouco ligo para fidelidade gráfica, especialmente quando este não é o objetivo de um jogo, então nunca vi F-Zero 99 com maus olhos por usar a linguagem visual do original de Super Nintendo. Afinal, eu estava lá achando F-Zero X lindo (algo que ele não é) somente por nos permitir todos aqueles carros naquela velocidade e com aquela fluidez no Nintendo 64. Inclusive continuo achando o jogo de Super Nintendo mais bonito, especialmente depois de sua reprodução na alta definição de F-Zero 99.

Mas o ponto principal é como introduzir F-Zero para um novo público. Anteriormente este ano a Nintendo lançou Advanced Wars 1+2: Re-Boot Camp por R$ 300 (ou U$ 60, se você for estadounidense) e eu acredito que isso tenha sido um grande tiro no pé. Como você tenta reintroduzir uma franquia parada há 15 anos com um remake de GBA custando tudo isso? Ninguém, a não ser os fãs da franquia e alguns curiosos, vai comprar. Eu tinha muito medo de acontecer o mesmo com F-Zero caso recebesse o remaster de GX que os fãs tanto pediam. Estamos falando de uma franquia que ja não é muito fácil de vender por conta de sua complexidade e os fãs queriam que a Nintendo relançasse justamente seu título mais difícil. Um dos jogos mais difíceis que joguei na minha vida. Não daria certo.

F-Zero, portanto, precisaria de um planejamento mais carinhoso para alcançar sucesso. O resultado disso é exatamente o que recebemos.

99 alegrias

Vou começar pelo óbvio: Mesmo (bastante) inspirado no jogo de Super Nintendo, F-Zero 99 possui uma proposta bem diferente. O jogo é quase que todo focado no online. Não existe modo local e não existe sequer a possibilidade você parear diretamente com um amigo, mesmo que ambos jogando pela internet. Existe, porém, um modo Prática onde você pode treinar em paz.

Eu falo “paz” pois o grosso do jogo fica à conta do modo F-Zero 99 onde, o nome deixa bem claro, você competirá com mais 98 jogadores simultaneamente numa corrida extremamente caótica. Chegar em primeiro é algo difícil. Muito difícil. Aliás, chegar nos 10 primeiro ja é um grande feito. A solução para não desencorajar os jogadores fica por conta de mecânicas feitas especialmente para tornar cada corrida divertida, independente da colocação final.

  • Nível

Toda corrida resulta em pontos que vão contando para passar de nível. Alcançar certos objetivos, como destruir um carro ou chegar entre os 50 ou 25 primeiros, resulta em mais pontos. Não é necessário chegar em primeiro lugar para ganhar muitos pontos e é comum ver corredores em melhores posições ganhando menos pontos que os em posições piores. O sistema encoraja o jogador e extrair o máximo de cada corrida e, principalmente, traz uma recompensa constante. Isso ajuda no sentimento de “só mais uma”, especialmente quando cada corrida dura pouco mais de um minuto, algo que ajuda a subir de nível rapidamente.

  • Ranking

Este é um pouco diferente, mas também é onde a genialidade do sistema acontece. A cada corrida o jogo seleciona quatro rivais com habilidade semelhantes à sua. Se você alcançar uma colocação melhor que pelo menos um deles, você ganha pontos. A cada rival que você derrotar, você ganha mais pontos. Este ranking é medido por letras, como C+, C-, B+, B-, etc.. A maior diferença aqui é que nem toda corrida vai te dar pontos. Muito pelo contrário, algumas vão remover: Se você não conseguir derrotar nenhum rival, seu ranking diminui.

A grande sacada aqui é que, mesmo tendo 98 adversários na pista, você só precisa de fato vencer 4 deles. Isso porque o jogo coloca pessoas de diversos rankings diferentes na mesma corrida, então é completamente normal não chegar entre os primeiros. É quase como se existissem diversas corridas acontecendo ao mesmo tempo. Cada um no seu quadrado.

  • Conquistas

Alguns Nintendistas mais ortodoxos dirão que não ligam para conquistas (ou troféus, como alguns chamam), mas ainda bem que alguns times na Nintendo pensam diferente. Cada vez que o jogador realiza algo interessante ou passa de nível recebe um adesivo, borda, fundo ou cor de veículo para montar seu cartão de corredor. É uma mecânica bem divertida que não somente te apresenta uma lista de coisas legais que você ja fez, mas também te permite exibir estas conquistas aos seus rivais antes da corrida.

  • Eventos

O jogo tem uma estrutura de serviço que achei muito bem implementada. Entrar no jogo, ganhar níveis ou simplesmente jogar te recompensa com tíquetes que são usados para entrar em eventos que ficam abertos por alguns (poucos) minutos. Mas calma, sempre há eventos disponíveis que acontecem em pistas ou regras diferentes. Alguns inclusive são mini copas numa sequencia de pistas.

Mas o evento mais eletrizante sem dúvidas é o Grand Prix que acontece em horários específicos do dia e consistem em quatro pistas seguidas num estilo eliminatória. Apenas os melhores passam para a próxima.

  • Jogabilidade

Engana-se quem achou que este F-Zero 99 jogaria exatamente igual ao título de Super Nintendo. Primeiramente, a movimentação é analógica. Você pode até usar um D-Pad, mas perderá a as nuances ao fazer as curvas. O turbo usa energia do veículo e é possível rodar para bater nos adversários, mecânicas trazidas de jogos mais recentes da franquia.

A novidade maior fica por conta da pista aérea. É possível recolher orbes de luz durante a corrida que eventualmente te darão a possibilidade de navegar numa pista aérea sem com direito a vários turbos e sem muita interferência dos demais corredores. O efeito dura pouco, mas ajuda a dar uma vantagem.

99 futuros

O produto final de F-Zero 99 é muito especial, mas é a decisão de lança-lo num serviço com mais de 36 milhões de assinantes que é de fato certeira. Afinal, esta é uma franquia que poucos de fato jogaram. A maior conexão que o público geral tem com Captain Falcon vem de suas aparições em Super Smash Bros., então incentivar este público a conhecer esta versão tão viciante sem a necessidade de gastar um centavo a mais do que eles ja pagam é extremamente saudável. Eu nunca vi tanta gente jogando F-Zero em toda minha vida.

Mas com certeza os planos da Nintendo não devem parar aqui. O trabalho para desenvolver o sistema de progressão e o backend necessário para ter 99 corredores simultâneos num modo online não deve ser em vão. F-Zero 99 com certeza é um pontapé inicial para um futuro título mais encorpado da franquia. Nunca estive tão empolgado para o futuro de F-Zero. E, claro, é ótimo saber que existe um futuro.

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