Beautiful Desolation é um jogo de aventura em 2D isométrico (palavras dos criadores) no qual nós viajamos com dois irmãos e seu cachorro robô até a África do Sul pós-apocalíptica, e escolhemos a nossa forma de agir no caminho de volta para casa. Mas vale a pena essa viagem toda no tempo e no espaço?
[bs-heading title=”Sobre Beautiful Desolation” show_title=”1″ icon=”” title_link=”” heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″ bs-text-color-scheme=”” custom-css-class=”” custom-id=””][/bs-heading]
Beautiful Desolation é o segundo jogo do estúdio The Brotherhood, ambos frutos de projetos bem sucedidos de Kickstarter. O jogo anterior, Stasis, é um point and click de terror que traz bastantes elementos únicos, e muitas das lições aprendidas nele foram trazidas para Beautiful Desolation.
Recomendação de Compra
Final Fantasy I-VI Pixel Remaster Collection
Lançamento: 8/Out/2024
Em desenvolvimento desde 2017, o jogo superou a meta inicial de 120 mil dólares de arrecadação, chegando a quase 140 mil. Lançado em fevereiro de 2020 para os PCs, o jogo demorou pouco mais de um ano para chegar aos consoles.
Além de Stasis e Beautiful Desolation, o estúdio ainda tem um spin-off curto de Stasis, chamado Cayne, e anunciou a sequência de seu primeiro jogo. Infelizmente, Stasis foi feito numa plataforma que impossibilita o port para os consoles, então, os desenvolvedores não planejam trazê-lo, mas já confirmaram que pretendem lançar a sequência para o Switch também.
[bs-heading title=”História” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Beautiful Desolation começa na África do Sul de 1986, quando a aparição de um estranho objeto no céu causa um acidente. 10 anos depois, esse objeto foi responsável por inúmeros avanços tecnológicos para a humanidade, mas nem todo mundo está contente com isso. Você assume o papel de Mark, sobrevivente do acidente, que na tentativa de desmascarar o que de fato é o objeto estranho, e arrasta seu irmão com você nessa.
Ao chegar no objeto, chamado Penrose, você e seu irmão, Don, são interceptados por um Agnate Sentinela (basicamente um cachorro robô) chamado POOCH, e enquanto vocês estavam a caminho de serem levados para algum lugar no qual eu acredito que nada legal aconteceria, seu veículo de transporte é derrubado, e você cai. Ao cair, você não está mais em 1996, mas em centenas de anos no futuro. Nesse futuro, a linha que separa o que é tecnologia do que é vida é extremamente borrada. Pessoas trocam as carnes de seus corpos para receberem suporte de drones e viverem para sempre, enquanto líderes religiosos com armas de guerra conseguem criar tecnologias de inteligência artificial quase humanas.
A partir daí, o jogo é basicamente uma sequência de “fetch quests”: você precisa de três itens pra ativar o Penrose e voltar pra sua casa, mas pra fazer isso, vai precisar se envolver diretamente na cultura e nos eventos locais, buscando e levando coisas daqui para lá e tomando decisões que afetarão o destino de todo mundo.
A forma como você trata seu irmão, POOCH e as pessoas muda o final do jogo, e cada pequena resposta que você dá nas cenas de conversas vai ter um efeito no resultado final; você literalmente dita quais povos vivem e quais morrem, e não é apenas uma vez. Várias decisões morais são colocadas sobre você, e em vários momentos, você tem que pesar se seu objetivo vale mais que as vidas das pessoas afetadas.
A história É o jogo. Cada quest é só uma desculpa para o mundo ir se abrindo aos poucos. Se o jogo fosse linear, duraria cerca de um terço do tempo. E é uma história muito bem contada. Inclusive, minha necessidade de saber o que acontecia a seguir foi o que me fez superar os momentos de frustração com a jogabilidade (mais disso já, já).
Para começar, o fato de o jogo se passar na África do Sul já é um diferencial. Os visuais são maravilhosos (já falo sobre isso também), e são completamente integrados à história. Cada construção decadente tem um porquê e uma lógica no todo. Cada androide voador, uma razão de estar em cada lugar. As coisas simplesmente fazem sentido.
Você vai conhecer diferentes tribos locais com línguas inventadas que contêm várias palavras das línguas Zulu, Xhosa, Tsonga (inclusive, o trailer do jogo é narrado em Zulu), e de diversas outras línguas e dialetos locais, e cada uma delas tem uma personalidade própria, mas ao mesmo tempo, nenhuma delas é bizarramente caricata, mesmo que várias delas estejam em dimensões/universos/mundos/locais diferentes (você se teletransporta de um lugar pro outro várias vezes através de uma roda gigante).
Mais legal ainda é que o jogo conta com medalhas que só podem ser conquistadas se você explorar todos os caminhos da história. Com isso, cada vez que você jogar, até conquistar tudo, você vai descobrir um pouco mais da história, até o final, que é, de fato, surpreendente.
[bs-heading title=”Gameplay” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Aqui o jogo peca bastante. O point and click (clicar com o mouse onde você quer interagir) funciona maravilhosamente bem para o PC, mas a experiência não se traduziu tão boa no Switch. Especialmente pelo fato de não haver compatibilidade com a tela de toque (sim, eu sempre vou falar de jogos que não usam a tela de toque), mexer no seu inventário e interagir com alguns objetos não é tão fácil quanto deveria.
Você não morre no jogo, então, basta ir de um ponto a outro, e de outro a outro, e eventualmente, vai chegar no fim. Isso é gostoso demais, e uma bem-vinda mudança para quem quer apenas jogar um jogo tranquilo, com uma boa história. Você tem mais espaço na mochila do que itens para coletar no jogo, e não há estatísticas a serem pensadas.
Há momentos em que o jogo poderia ter indicações melhores do que fazer; como há sempre várias missões em andamento, há vários pontos de interesse, e aí, o marcador verde de “venha aqui” não resolve muito. Além disso, o marcador só diz em que lugar do mapa você tem que ir, não há indicação às vezes de com quem você deve falar ou o que fazer. E como muitas vezes o item que você precisa está em outra região, nem sempre é intuitivo. Houve sérios momentos nos quais larguei o controle frustrada por não conseguir achar o que eu precisava, ou porque o item que deveria funcionar não funcionava.
Como o jogo tem um desempenho ruim no Switch, nos dois modos, tem hora que há um atraso na resposta do seu comando, e aí, isso te confunde no que você estava fazendo. Quando eu falo que o desempenho é ruim, eu não quero dizer apenas em momentos específicos. Normalmente, o desempenho de um jogo cai quando há muitos elementos ao mesmo tempo na tela; o problema é que Beautiful Desolation é tão bem feito que tem sempre muitos elementos na tela.
O jogo é cheio de detalhes, o que é maravilhoso pelo ponto de vista gráfico, mas é ruim para enxergar alguns pontos de interesse no mapa, te obrigando a dar zoom, algumas superfícies confundem, mesmo no mais próximo, e a quantidade de lags é absurda. Para piorar, conforme eu fui chegando ao fim do jogo, várias vezes apareceu a tela preta da morte do Switch, e tive que voltar. Normalmente, não perdi muito, porque o jogo salva com frequência (embora você possa salvar manualmente também), mas além de ser chato, te tira da experiência imersiva que a história tenta te dar.
A história te dá muita vontade de repetir a experiência, mas o desempenho do jogo te dá vontade de fazer isso em outra plataforma.
Beautiful Desolation é traduzido para vários idiomas, mas o português não é um deles, embora o espanhol seja. São cerca de 75 mil palavras para traduzir, de acordo com os desenvolvedores, e boa parte delas, como falo abaixo, é dublada, e muito bem dublada, então, é compreensível, o custo ficaria altíssimo para adicionar mais uma língua. Talvez se o jogo tivesse arrecadado um pouco mais, conseguiria.
Por outro lado, eles disseram que adicionar novas línguas é fácil pela forma como está programado, então, quem sabe no futuro?
[bs-heading title=”Som e Gráficos” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Se eu critiquei a jogabilidade, visual e sonoramente, Beautiful Desolation é uma obra-prima. Cada cenário é extremamente rico, e você é capaz de ver espécies individuais de animais tendo comportamentos únicos mesmo no zoom mais distante. Na TV, a experiência é bem melhor, já que algumas coisas ficam minúsculas no modo portátil.
As cenas pré-renderizadas são dignas de cinema, e estão para algumas das mais bonitas que já vi no Switch (estão basicamente rodando filmes, eu sei, mas ainda assim).
Essas cenas e as intercenas, que são momentos nos quais uma telinha entra no meio do jogo pra você responder a coisas ou ouvir lições de vida maravilhosas, são totalmente dubladas, e os sons dos ambientes, das interações entre objetos e dos animais e pessoas te fazem se sentir lá. De verdade, jogar Beautiful Desolation com fones de ouvido é uma experiência imersiva fantástica.
Falando na dublagem, aqui é um destaque à parte. Se é verdade que as personagens do jogo são razoavelmente rasas, também é verdade que elas são cheias das mais variadas personalidades. E os atores e atrizes que interpretam essas personagens fizeram um ótimo trabalho em transmitir essas personalidades. Mais que isso, como são todas pessoas nativas da região, há uma riqueza de sotaques que faz a experiência de se estar vivendo no continente africano ser ainda mais imersiva.
[bs-heading title=”Conclusão” show_title=”1″ heading_color=”#c4100a” heading_style=”t6-s4″ heading_tag=”h3″][/bs-heading]
Beautiful Desolation faz jus ao nome e te transporta para uma maravilhosa e desoladora paisagem pós-apocalíptica da África do Sul. A história é impecável, mas a jogabilidade e o desempenho ruim do jogo em boa parte do tempo atrapalham a imersão de ser completa. Ainda assim, vale muito a pena jogar, especialmente se estiver em promoção.
Análise feita com jogo gentilmente cedido pela The Brotherhood.
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