Através de uma ambientação típica de clássicos do gênero MMORPG, como MU e Ragnarok, Kitaria Fables tenta cativar seus jogadores como uma premissa básica e visuais bastante fofinhos. Porém, somente a fofura seria suficiente para justificar um jogo todo e te fazer ignorar todos os defeitos que envolvem um produto? A resposta, para essa pergunta, você encontra somente no final (ou quase lá).
As meowenturas de um gato faz-tudo
Kitaria Fables nos coloca na pele de um gatinho personalizável e soldado do império, chamado Nyanza, neto de um fazendeiro famoso e recém-falecido, acompanhado de seu medroso amigo “legumoso”, Macaron, que vive colocando o protagonista em linha de fogo. Nossa missão é basicamente servir como um garoto de favores, andando aqui e ali, entregando coisas para NPCs diversos e destruindo inimigos que entram em seu caminho.
Recomendação de Compra
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom
Lançamento: 26/Set/2024
Vivemos num reino medieval e iniciamos nossa aventura após salvar um fofo animalzinho morador de Paw Village (vila das patas, em tradução livre), que nos apresenta ao chefe do local após recebermos seus agradecimentos. Com isso, somos levados à casa de campo que fica ao sul do vilarejo, cujo local pertenceu ao nosso antepassado. Aqui será praticamente nossa casa, existindo um grande quintal para cultivarmos frutas, legumes e etc. Como é possível notar, as mecânicas de “jogos de fazenda” são bastante inspiradas em games que serviram como base para Kitaria Fables, assim como o enredo clichê que aborda um local deixado a você pelo seu falecido parente.
O que poderia ter gerado um resultado bem interessante, ainda mais por conta da proposta de trazer elementos de um Action RPG (algo que adoro), acabou tropeçando em vários problemas técnicos e de game design, os quais machucam demais a experiência de quem está jogando.
Um MMORPG offline, e tem até asas
Kitaria Fables me lembra bastante os MMORPG que eu costumava jogar quando mais jovem, porém, sem a exigência de uma conexão com a internet. As tarefas são bastante parecidas e, em sua maioria, se resumem em encontrar um item X para depois conversar com o NPC que lhe deu aquela missão; ou então coletar uma certa quantidade de itens Y para levar até, novamente, àquele que lhe pediu a tarefa.
Porém, algumas missões acabam nos deixando um tanto quanto frustrados, uma vez que nos fazem ir e voltar diversas vezes para entregar um amontoado de coisas para um solicitante. Um exemplo é a de reparar a ponte quebrada que nos dá acesso às outras áreas do reino, e existe uma lista de materiais necessários que precisamos coletar por aí e levar ao soldado nesta ponte. Porém, não há uma descrição de quantos itens de cada serão usados, mas apenas o próximo material da lista é descrito com profundidade. Isso resulta em uma ida e volta contínua, sendo algo que poderia muito bem ter sido entregue de forma mais sucinta.
A jogabilidade é a parte mais bacana do jogo e, além de armas de curto e médio alcance (como espadas e arcos), também é possível usar magia. O botão Y ataca com sua arma equipada, enquanto o B faz um trabalho excelente de esquiva após recebermos uma indicação visual bem clara de que o inimigo vai atacar – o que permite com maestria desviar de ataques -, enquanto alguns comandos passíveis de mapeamento como R e ZR lançam os feitiços aprendidos.
De longe, uma abordagem com arco e flecha contra inimigos em geral é a melhor opção em Kitaria Fables, já que utilizar espadas deixa o personagem bastante exposto aos monstros e mais fácil de ser atingido. O combate à longa distância é ainda mais recomendado, considerando que existem magias que praticamente empurram os inimigos, dando ainda mais espaço para que estes sejam atingidos.
As armas aprimoradas são adquiridas nos ferreiros, mas não pense que apenas dinheiro permite comprar o equipamento. Tudo exige crafting por aqui, e os materiais necessários não são em pequenas porções. Isso não seria uma experiência maçante se os inimigos deixassem cair em grande quantidades os materiais que precisamos. Para fazer a asa de morcego que me permite roubar a saúde de inimigos, por exemplo, precisei eliminar 50 morcegos para adquirir 50 asas a fim de criar o equipamento. Para piorar, os inimigos não ficam ressurgindo no cenário, por isso se faz necessário ir e voltar para que eles sejam restaurados e possamos eliminar mais deles. Fora isso, também há a necessidade de gastar grandes quantias de dinheiro, o que só aumenta mais ainda o fator grinding.
Alguns feitiços são conseguidos através do próprio enredo, com um personagem que mora no meio da floresta e possui conhecimento mágico e ensina nosso protagonista alguns ataques. Além disso, também é possível adquirir um item especial que existe em diferentes cores, cada qual com a possibilidade de ser utilizado para ensinar um feitiço de elementos diferentes ao personagem. Porém, novamente, é uma mecânica de crafting aplicada, apenas com a mudança de propósito.
A fazenda que ficou em segundo plano
Lembra que falei que seu parente deixou uma fazenda que você pode usar ao seu bel prazer? Pois bem, que bacana é ter recebido esse presente, mas pena que ele é quase inútil. Sinceramente, as mecânicas de fazenda em Kitaria Fables parecem terem sido criadas de última hora, apenas para inflar um pouco mais o jogo e tapar um buraco que nem precisava existir. A maior utilidade que encontramos para o cultivo de legumes e fruta aqui é a venda deles para recebermos dinheiro. Fora isso, algumas missões exigem que entreguemos uma quantidade específica desses itens para os solicitantes. Resumindo: somos o office boy do reino.
Nem de longe essa mecânica apresenta profundidade ou a complexidade que existe nos jogos principais do gênero, como Story of Seasons, que permite a criação de animais, construção de estabelecimento como uma estufa para sua plantação, e nem mesmo a automatização das tarefas. É tudo bastante simples e até direto demais ao ponto, bastando apenas arar o solo, lançar sementes e regá-las até que cresçam e permitam ser colhidas. Pôde-se praticamente ignorar seu terreno pelo resto do jogo e focar nas missões e combate.
Versão de Switch comprometida
Como muitos jogos que chegam ao console da Nintendo rodando de forma precária, Kitaria Fables tristemente entra nesse grupo. Jogando na TV, o frame rate é tão ruim que todos os comandos recebem um atraso não intencional. Isso é mais ainda sentido no combate que, a cada golpe desferido, é possível de perceber o delay na resposta dos comandos. Isso torna o jogo bem frustrante na Dock, e por isso optei por jogá-lo no modo portátil depois de comprovar esse problema. E também não adianta abaixarmos a resolução manualmente na TV, pois o defeito persiste ainda assim.
Não obstante, ainda existem as constantes telas de loading a cada cenário pelos quais passamos. Kitaria Fables não possui um mundo com locais conectados, por isso, todo e qualquer ambiente nos mostra uma tela de carregamento. Isso quebra demais o ritmo, o que se agrava mais pelo fato de que nem todos os pontos possuem um local de viagem rápida. E não são loadings tão curtos, chegando em cerca de 4 ou 5 segundos cada. Parece pouco, mas experimente passar por isso várias e várias vezes em seguida para chegar a algum lugar específico que exija o caminho a pé. Alguém aí pensou nas portas de Resident Evil? Com isso, o simples fato de andarmos por aí no mundo dos fofos gatinhos acaba se tornando uma tarefa bem mais árdua do que deveria ser de fato.
Um jogo que tem boa direção de arte, mas péssima jogabilidade
Kitaria Fables me traz um sentimento bastante parecido ao que eu tinha em minha adolescência: o prazer em jogar MMORPGs. Porém, a nostalgia para por aí, uma vez que o game não possui uma execução nada bacana em vários sentidos. Suas missões maçantes com objetivos parecidos e bobos são uma receita para a repetição incessante, além de que o esforço e recompensa é quase não sentido aqui por causa do imenso grande exigido para criar as mais esdrúxulas peças de roupa e armas. Kitaria Fables não é nada recompensador, e seus problemas técnicos deixam um saldo bastante negativo para todos os fãs de Action RPG que tentarem resgatar algum sentimento nostálgico com ele.
Alguns problemas técnicos podem ser corrigidos através de um pacote de atualizações, e isso se faz necessário o quanto antes para aqueles que preferem jogar na TV. Porém, já o game design exigirá um grande retrabalho para atender à qualidade que o belíssimo jogo do gatinho Nyanza merece.
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