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Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III

Que tal mergulhar numa jornada épica de centenas de horas?

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é a primeira oportunidade que um proprietário de console Nintendo tem de mergulhar nesta que é uma das gemas preciosas mais desconhecidas do JRPG no mundo ocidental. O jogo, que chega para o Nintendo Switch no dia 30 de junho, é o oitavo jogo numa série épica, que exigirá muito estudo prévio, caso você queira jogar, mas é uma jornada que vale a pena.

Quero deixar claro que nunca joguei nenhum jogo da série antes. Isso significa que as minhas opiniões não são de alguém que é fã da série desde o começo, ou desde algum ponto anterior. Comecei a jogar o jogo basicamente tão cru quanto qualquer outra pessoa que é proprietária de um Switch e nunca ouviu falar. A única diferença é que eu já conhecia um pouco a série.

A primeira coisa que quero falar é que você não PRECISA jogar todos os outros jogos da série pra gostar desse jogo. Mas é RECOMENDADO que você pelo menos assista a longos vídeos de recap da história, pelo menos desse arco, então os outros dois jogos de Trails of Cold Steel, e que você leia todo o background que está disponível no menu inicial do jogo. Como tem uma demo disponível no eShop, você pode jogar o prólogo e aproveitar que ainda faltam uns dias pra sair o jogo e ler tudo o que tem lá.

Ainda assim, você vai ficar perdido em vários momentos, especialmente quando aparece uma personagem nova na história. Como mesmo personagens conhecidas aparecem sem nome num primeiro momento, você vai sempre se questionar se aquela personagem é realmente nova ou não. Há também várias conversas que você vai se perder por não ter jogado os jogos anteriores, especialmente aquelas que citam eventos menores dos jogos, que normalmente não são importantes o bastante para serem citados num vídeo de recap, mas pra quem jogou, foram.

E esse é um detalhe importante: se você jogar esse jogo e permitir que o universo te envolva, as missões paralelas e menores vão ser tão importantes quanto a história principal, ou até mais, em alguns momentos. Esse universo é extremamente rico, e a quantidade de texto e conversas possíveis é imensa. Depois de cada coisa que acontece, basicamente todas as personagens do jogo trazem novas falas disponíveis, e cada uma delas te faz conhecer um pouco mais de cada pessoa. Detalhes do que gostam de comer, como foi a vida delas, como foi a criação, crenças, práticas, hábitos, vícios, é muito gostoso descobrir cada pessoa, camada por camada. E como as personagens dos jogos anteriores já começam com um nível de amizade existente, mesmo tendo estudado previamente e sabendo da maior parte das coisas e das relações, jogar Trails of Cold Steel 3 me deu vontade de jogar os outros 2 e todos os outros jogos da franquia.

Como eu disse, várias personagens voltam, e você está, novamente (ou pela primeira vez, no meu caso), controlando primariamente Rean Schwarzer, o Ashen Chevalier, herói da Guerra Civil de Erebonia e recém-formado no campus principal da Academia Militar de Thors. Agora, ele se vê na posição oposta na escola, e foi indicado para ser instrutor da nova Classe VII da filial da Academia, que foi inaugurada recentemente em outra cidade. Lá, ele conhece três pupiles que têm histórias de vida completamente diferentes entre si e diferentes dele.

A vida escolar em Thors é dividida em dois momentos: Momentos dentro da escola e momentos fora dela. Dentro, você tem uma quantidade bizarramente grande de personagens diferentes para conhecer. Então, se você não conhece ninguém, pode ser meio pesado. Fora, basicamente, você cumprir missões para as pessoas das cidades, anda para lá e para cá caçando monstros e enfrenta inimigos extremamente poderosos, geralmente com apoio de quem estudava com ele na antiga Classe VII. Essas participações são sempre bem-vindas, e sempre indicam um inimigo mais poderoso. Então, temos aqui dois níveis de poder a serem trabalhados, inimigos médios para a nova Classe VII, inimigos mais poderosos para a antiga Classe VII. E quando a coisa aperta mesmo, Rean tem à disposição seu Cavaleiro Divino (pensem num Eva, de Evangelion), Valimar, que ele invoca de qualquer lugar.

O jogo é completamente movido pela história. Existem momentos de exploração, momentos clássicos de Dungeon Crawling, momentos de investigação e, claro, momentos de lutas, que geralmente são bem desafiadoras, e com uma mecânica bem interessante, mas o foco principal é a história. Esteja preparado para deixar o controle de lado e só assistir à história se desenrolando por minutos a fio sem que você possa fazer nada além de assistir. Para se ter uma noção, o script completo desse jogo é 2,5 x o tamanho do script de The Witcher 3. Então pegue a pipoca e se prepare para assistir bastante.

Sobre a história em si, ela não é extremamente inovadora, mas é boa. Ela é cheia de clichês de animes e mangás, algumas falas são bem sexistas e é fácil de ver que o público alvo dele é masculino, mas se você conseguir relevar essas coisas, há uma boa camada de profundidade em cada personagem, mesmo naquelas que parecem ser apenas figurantes.

E o fato de boa parte das conversas mais importantes serem dubladas faz com que as personagens ganhem ainda mais vida, porque elas têm voz, entonação e personalidades melhoradas por isso.

Uma das coisas legais desse jogo é a enorme quantidade de opções cosméticas. O jogo já vem com 26 opções diferentes de customização, que incluem roupas diferentes, incluindo o uniforme do campus principal de Thors,  acessórios extras e óculos diferenciados. Além disso, se você comprar a “Extracurricular Edition” (que custa a mesma coisa, mas só está disponível em lojas específicas), você recebe o “Standard Cosmetic Bundle”, que traz mais 14 opções novas de customização, incluindo novos penteados para quase todo mundo. Dá para comprar essa DLC cosmética separada também, por 15 dólares. O único probleminha nesse Bundle é que você não consegue misturar os novos penteados com o cabelo colorido, ficando a parte principal colorida e o penteado (como rabo de cavalo ou marias-chiquinhas) na cor original.

Os gráficos do jogo não são a melhor coisa que você vai ver hoje, mas as animações de golpes especiais compensam bastante. Não é um jogo feio, só não está entre os mais bonitos disponíveis, especialmente na interação das personagens com o cenário.

Como falei lá em cima, você não PRECISA jogar os jogos anteriores antes de jogar este, mas é o ideal. Quando me disseram isso no começo, me incomodei bastante, mas após passar algumas dezenas de horas nesse jogo, eu realmente acho que estaria aproveitando muito mais a jornada se tivesse jogado. É impossível que algumas horas de vídeos, ainda que completos, suplante a experiência de viver essas aventuras. E se você chegar a The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III esperando uma aventura completa, você vai se decepcionar. É como começar a assistir a uma série na metade.

O próximo jogo da série, Trails of Cold Steel IV já foi anunciado, e deve chegar no Ocidente em 2021. Até lá, todo mundo que se interessar tem bastante tempo de se inteirar de todo o resto da história, jogar The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III e estar no ponto para jogar o IV e mergulhar de vez nesse universo fantástico quando chegar o momento.

Por outro lado, tendo esse conhecimento, é possível se divertir bastante com o jogo, e ele dá, sim, muita vontade de saber tudo o que veio antes e tudo o que virá depois. Porque a série promete ter pelo menos mais sete jogos, e esse jogo já começa a encerrar algumas pontas soltas de outras aventuras na saga, além de abrir ainda mais perguntas para outras questões. Se você não quiser encarar centenas de horas antes de jogar esse jogo, é como começar o Senhor dos Anéis pelas Duas Torres: possível, mas você vai ficar perdido em alguns momentos. Se quiser realmente aproveitar esse universo do jeito que os escritores (porque essa série é quase uma saga literária épica) planejaram, recomendo começar, pelo menos, pelo primeiro Cold Steel.

85%
Sólido

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel 3 é um bom jogo para os fãs de JRPG mais focados em história do que em ação. Apesar de ser um péssimo ponto de partida na série, ele se sustenta como um bom jogo no todo, mas a menos que você tenha vontade de conhecer todo o universo, há opções melhores que ele.

  • Design
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