Quando peguei Darksiders Genesis para testar, fui um pouco atrás da história da franquia, visto que não tinha jogado nenhum outro. Ainda pesquisei se precisava jogar algum outro para entender, e vi que não. De fato, como um total iniciante na franquia, Darksiders Genesis cumpre todos os requisitos necessários para entreter, e ainda oferece mais.
Antes de mais nada, quero deixar claro que joguei em português do Brasil, então vou usar os nomes que aprendi conforme jogava. Não sei como eles são em inglês, então só queria informar isso. E já quero dizer que admirei muito o trabalho de quem traduziu. A linguagem é bem leve, direta, a tradução é fiel e mantém o mesmo nível de humor ou seriedade, com a mesma linguagem, do que está sendo falado. Mais fiel que muita legenda de série por aí.
Darksiders Genesis é um Hack and Slash (and shoot) que deriva, para mim, bastante do estilo estabelecido e consagrado por jogos como Devil May Cry e God of War. Ele me lembra Devil May Cry especialmente pela história ser dividida em capítulos, não ser algo contínuo. A exemplo de Devil May Cry 3 (que acabou de sair para o Switch, aliás, e vamos trazer a análise em breve para vocês), você pode escolher qual capítulo vai jogar, podendo repetir todos eles quantas vezes forem necessárias para acumular as Almas e Moedas do Barqueiro que você precisa para melhorar seus personagens.
Recomendação de Compra
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Lançamento: 17/Out/2024
Personagens, porque nesse jogo você controla dois deles. Guerra e Conflito, dois dos quatro Cavaleiros do Apocalipse, que foram selecionados entre os Nefilim para derrotar seus irmãos, que se rebelaram e tentaram destruir o Éden. Esse é o pano de fundo da história, e é importante para todo o desenrolar.
Você inicia o jogo sendo convocado pelo Conselho das Chamas para interrogar o demônio Samael sobre um suposto plano de Lúcifer para acabar com o Equilíbrio. Ao chegar na Bastilha Rocha Negra, morada do demônio, eles a encontram cercada por outros demônios, que a estão atacando, e o resultado dessa primeira missão é uma aliança estranha entre os Cavaleiros, Samael e Vulgrim, outro demônio. O plano de Vulgrim, aliás, é o Vazio, que serve como ponto de parada entre todas as missões. A cada capítulo, você deve voltar e reportar a Samael, ou entregar um item a Vulgrim, e é do Vazio que você parte para cada capítulo.
Cada um dos 16 capítulos é muito bem desenhado, os cenários são muito bem trabalhados, e os puzzles e desafios de cada mapa tornam cada um único. Alguns dos capítulos são apenas arenas de batalha entre você e um demônio maior, mas nem por isso, os detalhes foram deixados de lado. Seja uma sala que lembra a caixa-forte do Tio Patinhas (incluindo um demônio que mergulha nas moedas), seja um campo aberto com vários demônios na torcida, ao derrotar o chefe e circular pelo cenário, você percebe a atenção aos detalhes que foi dada a esse jogo. Essa parte final é bem interessante, porque você não é automaticamente transportado para fora do mapa. Você decide quando voltar ao Vazio depois de vencer cada fase, o que te permite explorar tudo o que conseguir (algumas áreas são fechadas) e ir atrás de segredos em cada lugar.
As cutscenes do jogo também são muito lindas, todas desenhadas como quadrinhos, num estilo de arte muito bonito, fluido e que te faz querer saber o que está acontecendo ali. Um probleminha nelas é que as legendas somem muito antes do fim das falas, então quem não entende inglês tem que ler rápido e lembrar do que leu.
Uma coisa que achei bastante legal é que você pode escolher o nível de dificuldade de cada capítulo que for jogar. Então, se encarar um mapa com inimigos muito difíceis, e não quiser “grindar” para se melhorar, pode jogar o capítulo no nível mais fácil, e só aproveitar a história. Mais tarde, caso queira, pode voltar e tentar de novo num nível mais difícil. São quatro níveis de dificuldade, mais um quinto, extremamente difícil, liberado depois de você terminar o modo história. História, aliás, que fica salva no seu diário, depois de você encontrar itens específicos em cada capítulo, você pode voltar ao Diário e ler tudo o que aconteceu.
Isso faz com que o jogo seja um prato cheio para quem é complecionista. Apesar de ser possível terminar todos os capítulos em cerca de 20 horas, você com certeza vai querer encontrar todos os itens de todas as fases, e o contador deles está na tela, então você sabe exatamente quanto falta. Também vai querer terminar em todas as dificuldades, para liberar visuais diferentes para seus Cavaleiros. E todas as habilidades, e todos os itens.
O jogo também tem um modo Arena, no qual você pode enfrentar inimigos de diversos capítulos diferentes. São 20 Arenas diferentes, e 1 extra, que é liberada quando você vencer todas. A cada faixa de pontuação máxima que você conseguir, há prêmios novos, então garanto que vão mais de 100 horas para conseguir tudo. O fator replay do jogo é imenso. E falando em imenso, o Vazio tem vários mistérios, como uma porta que só abre quando você encontra todas as portas do Barqueiro, e um labirinto de pilares que é frustrantemente irritante. Também sinto que algumas partes só se abrem depois que você chega a determinado ponto da história, então a cada volta ao Vazio, você tem a vontade de rodar tudo de novo para ver o que mudou.
O jogo é ainda mais legal porque você pode jogar com um amigo, local ou online, ou simplesmente entrar numa sessão online já aberta. Não consegui entender como abrir uma sessão aleatória, mas consegui entrar em várias. Caso o host da sessão estiver num capítulo, você fica no modo espectador até ele chegar no pilar de invocação, e é uma forma divertida de assistir ao jogo, pois você tem a câmera livre para explorar. Você também pode usar seu amigo para te ajudar na Arena. De qualquer forma, no modo multiplayer, cada um controla um dos dois personagens, os dois ficam ao mesmo tempo na tela, coisa que não acontece quando você joga sozinho.
E aí chegamos ao cerne da jogabilidade de Darksiders Genesis. Você só pode controlar um personagem por vez, e Guerra e Conflito são diferentes. Guerra é o famoso tanque. Forte, cheio de vida, com uma espada na mão, sentando a porrada em tudo o que chegar perto dele. Conflito é o atirador. Com suas armas e diferentes tipos de munição, ele é menor e mais frágil, mas consegue causar estragos enormes à distância. Além das armas, cada um deles tem habilidades diferentes, que são necessárias para solucionar os puzzles, e cada tipo de inimigo é mais fácil de ser derrotado com um ou com outro, e entender qual deles é o ideal para cada situação é parte de dominar o jogo, e fundamental nos níveis mais difíceis. Mais importante, aliás, é que você recebe Cernes de Criatura a cada tipo diferente de demônio que mata, e combinando esses Cernes, você melhora as capacidades dos dois Cavaleiros. Então, é outro incentivo para voltar a cada fase matando cada vez mais inimigos, para acumular os Cernes e aumentar os níveis deles.
Cada inimigo, diversos tipos de demônios menores e monstrinhos, chegando a anjos caídos e corrompidos, oferece um tipo diferente de desafio, o que evita que o jogo se torne repetitivo demais. Alguns explodem quando você os mata, outros soltam veneno se você se aproxima, enquanto outros se enterram e te atacam por baixo. Alguns lançam bombas, outros lançam flechas para o alto. Alguns conseguem ser parados com um ataque seu, de outros, você precisa se defender ou se esquivar quando eles vão atacar. Para quem estiver jogando nos níveis mais fáceis, parece que é só bater em tudo, mas nos níveis mais altos, você percebe que se não usar da estratégia ideal, vai morrer mais vezes do que gostaria.
Os chefes, sejam eles demônios maiores ou anjos corrompidos por Lúcifer, têm cada um sua particularidade, e é quase sempre necessário estudar seus movimentos. Ir de uma vez com tudo para cima deles é suicídio na maior parte das vezes, e a força bruta quase nunca vai dar resultados. Os mapas dos chefes todos têm desafios extras, como ondas que tentam te derrubar da plataforma, pequenos inimigos te atacando ou itens mágicos aumentando a defesa e regenerando o chefão, e é preciso observar o efeito de cada desafio para saber como não ser morto por causa deles. E a cereja do bolo é o fato de o chefe final do jogo ser digno de um chefe final. Mesmo no nível médio, ele é extremamente desafiador, e, cumprindo o que promete quando começa a luta contra ele, o nível dele é um patamar completamente acima dos demônios que você enfrenta anteriormente, exigindo retorno às fases ou uma escalada na Arena para ter recursos suficientes para melhorar suas habilidades o bastante para que você sobreviva e consiga vencê-lo.
A trilha sonora do jogo combina perfeitamente com cada contexto, e todas as falas têm voz. Não tem dublagem em português, mas as legendas são, e as vozes de Guerra e Conflito combinam muito bem com os personagens, e são cheias de personalidade, ajudando a simpatizar e entrar na pele dos dois mais facilmente e a entender todos os conflitos que a guerra na qual eles se enfiaram trazem. Além disso, os passos deles soam diferentes dependendo de cada superfície que eles estão, um toque sempre admirável em jogos modernos.
Nem tudo são flores, porém. A interface do usuário é confusa, especialmente em português, porque alguns blocos de texto são maiores do que o espaço determinado a eles, dificultando (e em alguns casos impossibilitando) a leitura. As telas de tutorial também ficam estranhas se você começa sua sessão de jogo no modo portátil e depois muda para o modo docked, apresentando alguns bugs como o acima. Vários pontos de alguns mapas fazem o frame rate do jogo cair notavelmente, engasgando e chegando a atrapalhar algumas lutas. Caí de algumas telas e tomei alguns danos que não queria por simplesmente Guerra ou Conflito demorar para responder ao comando.
Além disso, o modo online do jogo é um pouco confuso, e é basicamente impossível se comunicar com seu colega. Não há como conversar sobre qual mapa vocês vão jogar, nem como se despedir. A única interação entre vocês é quando o host quer trocar de personagem e quando aparece uma tela dizendo que você foi expulso da sessão. E até agora, não consegui descobrir como sediar uma sessão aleatória para qualquer pessoa entrar. Deve ser possível, já que você consegue entrar em sessões aleatórias, mas a única opção online que achei foi de sediar para amigos. Isso faz o que deveria ser o melhor modo do jogo algo frustrante, já que não dá para combinar estratégias ou mesmo controlar o jogo, pois é extremamente frustrante ser expulso de uma sessão depois de ficar esperando por vários minutos para entrar nela. Aliás, aconteceu várias vezes de eu estar no modo espectador, vendo meu colega jogar e esperando que ele chegasse até a pedra para me invocar, e ele simplesmente terminou a fase sozinho ou me expulsou.
E por falar em espera, as telas de carregamento entre partes dos mapas são muito longas e entediantes. Entrar numa porta errada e querer voltar faz com que você perca mais de um minuto, porque a maioria das telas demoram 30 segundos ou mais para carregar. E é só uma tela preta, eles poderiam aproveitar as artes do jogo entre as pausas, para podermos observar mais e nos distrairmos. É chato. Mais chato ainda é que a tela preta da morte do Switch apareceu mais vezes durante o teste desse jogo do que em qualquer outro. Ao menos em dois momentos, a tela de carregamento não carregou nada, e em outras, depois dela, ou em mudanças de áreas, o jogo simplesmente deu erro e fechou. Alguns jogos fazem isso uma ou outra vez, mas foram pelo menos 5 vezes nas mais de 20 horas que joguei, e algumas delas me fizeram perder um bom pedaço do que fiz nos mapas. O jogo tem função de autosave, mas ela marca pontos importantes de cada capítulo; se você volta a algumas áreas depois para buscar outras coisas que tenha deixado passar, ele não necessariamente vai salvar.
Apesar desses probleminhas, que podem ser resolvidos com atualizações, o jogo é extremamente recomendado tanto para quem é novo na série quanto para antigos fãs, que querem saber como tudo começou, já que esse jogo narra basicamente o nascimento dos Cavaleiros do Apocalipse. Com certeza, foi o bastante para me transformar em fã da série e querer conhecer todos os outros jogos.
Um dos melhores jogos disponíveis para o Switch, Darksiders Genesis vale muito a pena de jogar. Sua jogabilidade é ótima, as fases são muito bem desenhadas, o formato em capítulos é bastante agradável para não tornar o jogo cansativo e o o fator replay é enorme. A profundidade da personalidade dos personagens, complexos e com várias camadas, e o desenvolvimento dos personagens principais durante cada capítulo te conquistam e fazem envolver. O fato de ser legendado e ter todos os menus em português faz com que todo mundo possa compreender a história e imergir nela. Vale cada minuto investido, e ainda vou voltar ao jogo várias vezes para conseguir tudo o que tem de disponível.
Darksiders Genesis é uma ótima introdução à franquia, oferecendo boa jogabilidade, cenários bem desenhados, grande fator replay e personagens cheios de personalidade. Seus defeitos são poucos e não atrapalham a experiência de jogo, além de ser um prato cheio para colecionistas.
- Sensacional
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