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Análise – Sludge Life

"Às vezes, o indivíduo está louco na droga."

Muitos jogos entram numa vibe de fazer as pessoas pensarem e refletirem sobre vários aspectos da vida. Costumo chamar isso de jogo “conceito” e, quando você não sabe maneirar na quantidade de reflexões inseridas no seu produto – ou ao menos equilibrar isso entre jogabilidade e enredo -, tudo acaba indo por água abaixo. Sludge Life é assim: um game que realmente me fez pensar, mas cuja pergunta acabou sendo “o que eu tô fazendo da minha vida?”.

Talvez não tenha sido uma escolha muito feliz da minha parte me arriscar sem conhecer tanto sobre a proposta de Sludge Life? Quem sabe. Porém, caso tivesse pesquisado mais sobre ele antes, as chances de ir com muito preconceito teriam sido bem maiores. Às vezes, é melhor enfrentar o desconhecido com as expectativas baixas, o que não lhe isenta de, mesmo assim, ficar decepcionado.

Ghost, o rapaz invisível na sociedade (?)

Bora deixar a nossa marca
Bora deixar a nossa marca

Sludge Life te coloca na pele de Ghost, um rapaz de, aparentemente, dois olhos como qualquer criatura considera normal para nossos padrões, mas chamada pejorativamente de “dois olhos” por alguns personagens desse mundo completamente esquisitão. Aliás, local esse tomado por uma poluição completa, tão grande que tomou toda a superfície terrena, deixando tudo com um aspecto de “Rio-Tietê City”. 

Nosso protagonista é um pichador, considerado um vândalo por alguns, e sua missão neste universo repleto de sujeira e loucura é simplesmente deixar sua marca por aí. Pois é, igual na vida real: essa galera sobe em lugares altos para mostrar ao mundo o quanto são “acrobáticos” e destemidos ao treparem por aí nas coisas, a fim de alcançar e pichar locais que ninguém tem tempo para ficar alcançando. Bom, ao menos essa é a visão que tenho.

Masoq?
Masoq?

A jogabilidade é muito básica, e resume-se em andar com uma visão em primeira pessoa – aliás, sem pés ou mãos, algo que odeio em games do gênero -, pular, tirar fotos com uma câmera e pichar seu fantasminha camarada verde nas superfícies. Em alguns momentos é possível marcar as paredes com outras figuras como a palavra “GHOST” estilizada em uma cor verde, assim como seu principal ícone fantasmagórico. Mesmo assim, não podemos escolher a imagem a ser desenhada, já que tudo é pré-definido.

Podemos “dar uma pernada” por aí e conversar com NPCs, uns mais estranhos do que os outros, e ver cenas lamentáveis – ou engraçadas, dependendo do seu humor – como um cachorro se relacionando sexualmente com um travesseiro, ter conversas em um nível bem alto de loucura e ácido, além de entrar em salas com coisas esquisitas acontecendo. Ah, não posso esquecer também de um cogumelo muito doido que te faz flutuar por aí, possibilitando pré-visualizar locais inalcançáveis na sola da bota como, por exemplo, uma moça que ficou presa no teto de um galpão.

O humor de Sludge Life também é bem bobo e surreal em vários momentos, e vai desde a apresentação de um gato alérgico a carinho até uma espécie de caramujo pichador famoso (e aposentado) e um vaso repleto de fezes deixadas no banheiro de um fast-food. Mas não para por aí: que tal um funcionário desse mesmo local ter cortado acidentalmente sua mão fora ao preparar um lanche? Relaxa, ele passa bem e não parece se importar tanto.

Que viagem é essa, véi?

Foi uma indireta?
Foi uma indireta?

Depois de ter lido tudo isso, você pode acabar pensando: eu não entendi nada do que se passa, mas esse jogo deve ter alguma mensagem por trás disso tudo. Sinceramente, se ela existe, é muito difícil compreender ou de se importar com. Sludge Life parece mais uma aventura de alguém que resolveu ter uma viagem no ácido e resolveu escrever uma história maluca, já que muitos diálogos são bastante estranhos, as piadas são infames e vários cenários possuem elementos completamente bizarros. Se eu pudesse resumir essa experiência em uma frase, seria “show de bizarrice”.

Sludge Life apresenta esse mundo tomado pela poluição, onde tudo é construído sobre uma espécie de deck (são vários), e a ambientação transmite uma sensação de estarmos em um local suburbano. É interessante explorar os cenários e ver o que nos reserva no próximo cômodo de ambientes tão verticais, mas o maior problema é que não existe uma recompensa, de fato. Sendo mais curto e grosso, não sei nem se eu diria que Sludge Life é um jogo, na real. Ele tenta com todas as forças ser uma experiência passiva e diferenciada, mas acaba apenas sendo maçante, com exploração rasa e objetivos simples demais. Tive mais diversão com um minigame desbloqueado em um laptop in-game do que no enredo de forma geral.

Eu esperava ao menos ter algo próximo a um adventure em que coletamos itens, realizamos tarefas, interagimos com NPCs, escolhemos falas, etc. Porém, não há nada aqui que chegue perto disso. É possível desbloquear alguns itens, como um paraglider que te permite planar por aí, o que deixa a movimentação e o transporte de um lugar alto para outro mais suave. Mesmo assim, não é nada que realmente vá te fazer ficar “oh, meu Deus, mas que maravilha de experiência estou tendo aqui!”. Sludge Life é contemplativo até demais, e acaba se perdendo nessa viagem maluca que tenta oferecer. Senti como se estivesse jogando LSD: Dream Emulator do PS1.

Jogo fornecido para análise pela Devolver Digital.

Sludge Life Capa
Sludge Life
Veredito
Sludge Life é um jogo em primeira pessoa com elementos de plataforma e adventure, porém, acabou investindo demais no aspecto "loucura".
Prós
Direção de arte
Ambientação maluca
Trilha sonora (quando tem)
Contras
Jogabilidade muitíssimo rasa
Missões repetitivas
Não tem muito a oferecer no quesito jogabilidade
Às vezes a loucura é demais
5
Depois vem falar que o Kojima é maluco.
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