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Universo Nintendo

Análise – Ikaruga

Eu não morrerei até cumprir algo.
Mesmo que o ideal seja alto, eu não desistirei.
Portanto, não morrerei com arrependimentos.

Ikaruga é um shoot ‘em up (ou “shmup”, para os íntimos) desenvolvido pela Treasure e lançado em 2001 para arcades. O jogo foi concebido como uma sequencia espiritual para Radiant Silvergun e ganhou fama na cena alternativa, o que fez receber ports para Dreamcast, Gamecube, Xbox 360 e, mais recente, Switch.

Os mais novos talvez não reconheçam a Treasure, mas saiba que na década de 90 e começo dos anos 2000 o pequeno estúdio japonês tinha um histórico de qualidade impecável, trazendo clássicos como Gunstar Heroes, Alien Soldier, Radiant Silvergun e Sin & Punishment. Ikaruga foi lançado logo antes de uma época em que a Treasure estava experimentando projetos um pouco duvidosos, e talvez tenha sido este o motivo do jogo não receber tanta atenção em marketing e visão para seus ports. Mas não se engane, este é um jogo que demonstra toda a expertise da empresa.

Para os que não sabem, um shmup é um jogo no qual você controla um personagem ou veículo capaz de disparar contra diversos inimigos com padrões de ataque muitas vezes pré definidos. São jogos curtos e bem desafiadores, projetados especificamente para jogatina em arcades. De forma geral, são uma verdadeira máquina de destruir carteiras. Ikaruga não é diferente, mas não estamos jogando num arcade e nem estamos gastando fichas com o jogo, então como ele funciona hoje em dia?

Bem, o jogo original está intacto. Caso você queira, é possível jogar qualquer uma das três dificuldades sem continues e com apenas três vidas. Ao terminar a partida, seu placar é exibido em um scoreboard digital e sincronizado online. Porém, o jogo procura também ser acessível e te permite aumentar o número de continues indefinidamente. Neste caso, para ser justo com os demais, seu placar não é salvo. Este é um ajuste simples, mas que ao mesmo tempo agrada ao tanto ao jogador casual, que pode terminar o jogo com uma certa facilidade, quanto o jogador hardcore, que pode jogar da forma original e exibir seus feitos.

E, acredite, você vai querer ver Ikaruga até o fim. São cinco fases repletas de desafios de altíssima qualidade, todas com um chefe ao final. A progressão de dificuldade aqui é perfeitamente executada, onde cada seção do jogo é progressivamente mais difícil que a anterior, num ritmo que dificilmente vemos em outros shmups.

O que definitivamente não vemos em outros shmups é total falta de itens. As únicas armas do jogo são as que você começa: O laser comum e o teleguiado. Esta é uma renúncia bem chocante quando comparado com o resto do gênero, mas não quer dizer que Ikaruga não traga nenhuma novidade. O jogo inteiro funciona ao redor da habilidade de trocar a polaridade da sua nave. A questão aqui é que todos os inimigos do jogo podem ser brancos ou pretos, e isso afeta a jogabilidade de formas bem drásticas. Tiros de inimigos da mesma polaridade que sua serão absolvidos (garantindo mais força e podendo ser usados para um disparo teleguiado), enquanto que tiros de polaridade diferente destruirão sua nave. Disparar em naves de polaridade diferente que a sua garante o dobro de dano, mas pode ser complicado de desviar dos disparos, especialmente porque inimigos destruídos liberam um disparo final que pode ser fatal. É o sistema de risco e recompensa perfeito.

A mecânica de polaridade garante um ritmo fascinante a Ikaruga. Cada partida funciona como um ballet em que é preciso coordenar seus ataques com mudanças de polaridade. Haverão situações na qual você vai olhar para a tela e chegar à conclusão que é impossível atravessar aquele mar de disparos perto avermelhado e branco azulado, mas basta tentar novamente para ver aberturas que antes não eram tão claras. Nisso o jogo é bem semelhante a diversos shmups: É preciso paciência e memorização para executar uma partida perfeita, mas o importante é que em nenhum momento o jogo passa a impressão de ser injusto. Muito pelo contrário, ele te desafia a melhorar sempre.

Ikaruga também possui uma estória. Tenro Hourai, líder da pequena nação Hourai, descobre um artefato de pedra que a abençoa com poderes inimagináveis. Acreditando que agora possui o poder dos deuses, ela reúne seus seguidores, os quais são proclamados Os Divinos, e parte para conquistar o mundo “em nome da paz”. Um grupo de rebeldes chamados “Tenkaku” monta um contra-ataque aos Hourai, mas são totalmente destruídos pelas suas naves de diferente polaridade. Apenas um, Shinra, sobrevive e é socorrido pelos residentes do vilarejo de Ikaruga, que o confiam com uma nave homônima especialmente feita para combater as habilidades especiais dos Hourai. Shinra então junta forças com Kagari, ex integrante Dos Divinos, e voam numa última missão para derrotar seus inimigos.

Porém, nada disso está presente no jogo. Se você quiser saber disso tudo, é necessário ler o manual. Porém, não há manual na versão de Switch. O único desenvolvimento de narrativa do jogo é um pequeno texto no começo de cada fase, mas o seu significado é um pouco nebuloso. De forma geral, não espere muita coisa neste aspecto. No entanto, algo que você pode esperar é uma ambientação impecável, produzida através de visuais bem singulares. Se você curte obras como Neon Genesis Evangelion, ou jogos como Xenoblade, Ikaruga é um prato cheio. O design das naves é incrível e todos os cenários possuem aquela sentimento cyberpunk misturado com militarismo futurista japonês. O que ja era lindo nos arcades e DC/GC fica ainda mais bonito rodando em alta definição no Switch. As artes do jogo, que você provavelmente já viu nesta página, também são de tirar o fôlego. A trilha sonora, por sua vez, é empolgante e transmite perfeitamente a batalha épica presente na tela, muito embora ela perca um pouco de seu impacto caso você não conheça a estória sendo contada.

Além do jogo principal, que pode ser terminado em apenas 30 minutos caso você seja muito bom, há certas variações interessantes no pacote. A princípio, existe o modo “prototype” que é bastante difícil, limitando a quantidade de disparos que o jogador pode realizar baseado na absorção de balas. Curiosamente, era assim que o jogo deveria ter lançado em 2001, mas a equipe resolveu mudar de direção. É bem interessante ver como essa forma “beta” do jogo funciona. Além disso, existe uma dificuldade “fácil” que desabilita o disparo realizado ao derrotar inimigos, diminuindo consideravelmente a quantidade de balas na tela. Para os que curtem multiplayer, há uma opção local para dois jogadores que permite controlar duas naves na tela. Algo legal que pode ser feito é jogar esta mesma proposta, mas com apenas uma pessoa. É um experimento bem difícil, mas com certeza peculiar. Por fim, há um menu com galeria e trilha sonora.

Ikaruga é um shooter de monitor vertical e, como tal, não se dá bem em telas 16:9 como as que usamos hoje em dia. Bordas enormes são adicionadas de cada lado da imagem, com o jogo em si ocupando aproximadamente 40% do campo de visão. Caso você jogue numa tela de 40” a uma distancia de 2 metros, o tamanho será bem semelhante ao arcade, mas não podemos dizer o mesmo da tela do Switch. Para isso, há duas soluções. A primeira é mudar a opção de tamanho do HUD para “grande”. Isso não vai solucionar o tamanho do jogo em si, mas vai tornar os elementos do HUD bem mais fáceis de ler. A segunda solução é ativar a função de rotacionar a tela, mais conhecida como “modo TATE”. Com isso o jogo passa a ocupar aproximadamente 75% da área útil, o que é bem razoável tendo em vista que ainda tem o HUD para ser exibido. É possível fazer isso tanto na TV quanto no portátil, mas no caso da primeira é mais complicado girar, além de potencialmente causar algum defeito.

É possível usar o suporte que acompanha Kid Icarus Uprising para jogar na orientação vertical.
O jogo foi gentilmente concedido pela Treasure / Nicalis para esta análise.
(The game was kindly granted by Treasure / Nicalis for this review.)
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